Amplie os conhecimentos sobre a História da Igreja e aplique em sua atividade pastoral
POR LUIZ SANTINÁCIO
A Igreja, nossa Mãe e Mestra: sua história e ciência como todas as ciências, a História tem suas especificidades, trabalha com formas de raciocínio próprias, tem seus limites e também suas exigências.
Para começar a entender os aspectos que dão à História da Igreja o seu caráter científico é fundamental estabelecer a diferença entre o verdadeiro trabalho historiográfico e o que não passe de simples juízo de valores sobre determinado tempo.
Vamos pensar na Igreja do tempo apostólico. A que conjunto de acontecimentos pertencia a ideia do “ser cristão”? Certamente, aos seguidores do “caminho”. E a quem interessava a difusão dessa ideia?
Eis a diferença! Não se trata apenas de opinar ou julgar. O trabalho do historiador é localizar e compreender historicamente cada acontecimento, de buscar entender por que as pessoas de determinada época agiam dessa ou daquela maneira e, finalmente, contribuir para a formação de valores e de uma cosmovisão eclesiológica mais crítica e abrangente.
O conhecimento histórico é o resultado de uma tentativa de reconstrução dos fatos passados a partir de fontes históricas disponíveis. É o pensamento de hoje buscando alcançar o modo de pensar e de viver de outros tempos, de outros povos e outras culturas.
O conhecimento histórico é dinâmico. Modifica-se, reestrutura-se a partir de novas descobertas, do aparecimento de novos documentos e até mesmo de novas formas de ler os documentos já conhecidos. Não é possível recuperar a verdade do passado; apenas montam-se hipóteses com base nas informações que as fontes históricas oferecem.
Do mesmo modo, não se podem resgatar todas as experiências humanas vividas. Primeiro, porque muitas não foram registradas; segundo, porque a quantidade de assuntos a serem estudados seria muito grande.
Ao iniciar, vem à mente os Padres da Igreja, que foram os teólogos da antiguidade. Eles constituem toda uma galeria de grandes homens de fé, cuja palavra e cujos escritos geraram um pensamento cristão, uma história cristã e católica, no sentido mais universal e mais abrangente. Todo esse pensamento ficou como qualquer coisa de básico para os séculos posteriores. Não são todos os Santos antigos, que foram numerosos, paradigmáticos e deram vigor e afirmação ao cristianismo nascente, mas nem sempre legaram à posteridade um patrimônio doutrinário.
Historicamente, o título de Padres foi dado inicialmente aos bispos, às vezes também aos ascetas, que nos desertos ofereciam uma palavra espiritual, geradora de vida, aos que os procuravam. A partir do século IV, recebiam o apelativo de Padres da Igreja os pastores e mestres que tomaram parte no Concílio de Niceia e personificavam o princípio da tradição, como anteriormente os anciãos do judaísmo.
4 características situam a figura do Padre da Igreja
1. Ortodoxia doutrinária;
2. Santidade de vida;
3. Reconhecimento ao menos indireto, por parte da Igreja;
4. Antiguidade.
Tal conceituação tornou-se clássica. A ortodoxia não é preciso entender-se de modo que exclua posições errôneas em tais ou quais pontos, sendo antes uma orientação geral dos escritos, em consonância com o depósito genuíno da fé. Assim, segundo os Concílios de Trento e do Vaticano I, o acordo comum dos Padres é critério normativo na interpretação da Sagrada Letra, mas lembrando Pio XII, na encíclica Divino Afflante Spiritu, as interpretações pessoais dos Padres não gozam dessa normatividade, pois eles não foram apenas representantes do magistério eclesiástico em condições históricas de maior proximidade com as fontes e de decisividade em questões basilares, mas também teólogos com suas perspectivas pessoais.
A aprovação da Igreja se manifesta às vezes expressamente; outras vezes consistindo no fato de virem citados determinados escritores, de maneira honrosa, em Concílios e Documentos oficiais; podendo, enfim, ser uma aprovação apenas implícita. A antiguidade é uma característica também um tanto indefinida. Se há uma distinção de fases nessa História, situa-se entre o tempo apostólico e toda a era pós-apostólica.
Primeiro período: a Igreja está sendo constituída, da mesma forma que a recepção das verdades reveladas.
Segundo período: cresce a Igreja como crescem o conhecimento, a assimilação e a difusão das verdades, sob a guia do Magistério; assistida pelo Espírito Santo. A esta fase pertencem os Padres, por privilegiada que tenha sido sua condição de pioneiros.
Costuma-se dividir a História dos Padres em três períodos:
1º. Das origens até o Concílio de Nicéia, em 325 d.C.;
2º. A chamada “idade áurea”, que vai desde então ao Concílio de Calcedônia, em 451 d.C.;
3º. O declínio, daí aos séculos VII-VIII.
O período das origens interessa mais à crítica, por ser o dos primeiros testemunhos da fé tradicional na divindade de Cristo e na Trindade, e o das estruturas mais antigas da Igreja. Abrange os chamados Padres Apostólicos, que tiveram relações mais diretas com os Apóstolos: Clemente Romano, Inácio de Antioquia, Policarpo, Papias; sendo do mesmo tempo o escrito denominado Didaqué. Além disso, pertencem a esse período os autores seguintes do século II, que redigiram escritos apologéticos e anti-heréticos: Justino, Atenágoras, Irineu e os que fizeram, do fim do século II ao início do século IV, os primeiros ensaios de sistematização doutrinária: Orígenes, Tertuliano, Hipólito.
No segundo período inscrevem-se os principais autores, desde Santo Atanásio a Santo Agostinho. Tempo das obras mais importantes e das formulações doutrinárias basilares. O título de período de declínio não se afigura bastante justo para designar a era pós-calcedonense, pois inclui diversos Padres de primeira grandeza, apenas menos numerosos do que os anteriores. Estabelecem um traço de união entre o mundo antigo, greco-romano, e a cristandade derivada dos povos bárbaros, os quais começam a ser educados sob o impulso primordial de São Gregório Magno.
Graças a essa História, feita por homens iluminados pela Sabedoria incriada, a Igreja continua sendo “o sal da terra e a luz do mundo”, à luz do próprio Cristo, no Espírito Santo.Seria uma presunção triunfalista admitir a plena significação da frase acima? Seria temerário pensar que o Cristo escolheu alguns no meio da multidão para encarregá-los de ser o sal da terra? Não será, ao contrário, arriscado por em dúvida o aviso do Senhor de que, se o sal perder a força do comunicar o seu sabor, a terra inteira será insípida? Poderia não ser presunção, poderia não ser temerário, poderia até, não ser um risco de avaliação inadequada, admitir que a atribuição evangélica a alguns de ser o sal da terra estaria, hoje, encerrada, se essa atribuição fosse baseada nas qualidades humanas dos investidos e não uma tarefa ou missão conferida pelo próprio Cristo a eleitos e ordenados, como portadores qualificados de sua mensagem.
Luiz Santinácio é Professor de Línguas e Literaturas, Tradutor, Escritor e Poeta. Autor de “Simbolismo, uma estética poética – A vida, uma estética simbólica”, entre outros. Reside em Cascais, Portugal.
POR LUIZ SANTINÁCIO
A Igreja, nossa Mãe e Mestra: sua história e ciência como todas as ciências, a História tem suas especificidades, trabalha com formas de raciocínio próprias, tem seus limites e também suas exigências.
Para começar a entender os aspectos que dão à História da Igreja o seu caráter científico é fundamental estabelecer a diferença entre o verdadeiro trabalho historiográfico e o que não passe de simples juízo de valores sobre determinado tempo.
Vamos pensar na Igreja do tempo apostólico. A que conjunto de acontecimentos pertencia a ideia do “ser cristão”? Certamente, aos seguidores do “caminho”. E a quem interessava a difusão dessa ideia?
Eis a diferença! Não se trata apenas de opinar ou julgar. O trabalho do historiador é localizar e compreender historicamente cada acontecimento, de buscar entender por que as pessoas de determinada época agiam dessa ou daquela maneira e, finalmente, contribuir para a formação de valores e de uma cosmovisão eclesiológica mais crítica e abrangente.
O conhecimento histórico é o resultado de uma tentativa de reconstrução dos fatos passados a partir de fontes históricas disponíveis. É o pensamento de hoje buscando alcançar o modo de pensar e de viver de outros tempos, de outros povos e outras culturas.
O conhecimento histórico é dinâmico. Modifica-se, reestrutura-se a partir de novas descobertas, do aparecimento de novos documentos e até mesmo de novas formas de ler os documentos já conhecidos. Não é possível recuperar a verdade do passado; apenas montam-se hipóteses com base nas informações que as fontes históricas oferecem.
Do mesmo modo, não se podem resgatar todas as experiências humanas vividas. Primeiro, porque muitas não foram registradas; segundo, porque a quantidade de assuntos a serem estudados seria muito grande.
Ao iniciar, vem à mente os Padres da Igreja, que foram os teólogos da antiguidade. Eles constituem toda uma galeria de grandes homens de fé, cuja palavra e cujos escritos geraram um pensamento cristão, uma história cristã e católica, no sentido mais universal e mais abrangente. Todo esse pensamento ficou como qualquer coisa de básico para os séculos posteriores. Não são todos os Santos antigos, que foram numerosos, paradigmáticos e deram vigor e afirmação ao cristianismo nascente, mas nem sempre legaram à posteridade um patrimônio doutrinário.
Historicamente, o título de Padres foi dado inicialmente aos bispos, às vezes também aos ascetas, que nos desertos ofereciam uma palavra espiritual, geradora de vida, aos que os procuravam. A partir do século IV, recebiam o apelativo de Padres da Igreja os pastores e mestres que tomaram parte no Concílio de Niceia e personificavam o princípio da tradição, como anteriormente os anciãos do judaísmo.
4 características situam a figura do Padre da Igreja
1. Ortodoxia doutrinária;
2. Santidade de vida;
3. Reconhecimento ao menos indireto, por parte da Igreja;
4. Antiguidade.
Tal conceituação tornou-se clássica. A ortodoxia não é preciso entender-se de modo que exclua posições errôneas em tais ou quais pontos, sendo antes uma orientação geral dos escritos, em consonância com o depósito genuíno da fé. Assim, segundo os Concílios de Trento e do Vaticano I, o acordo comum dos Padres é critério normativo na interpretação da Sagrada Letra, mas lembrando Pio XII, na encíclica Divino Afflante Spiritu, as interpretações pessoais dos Padres não gozam dessa normatividade, pois eles não foram apenas representantes do magistério eclesiástico em condições históricas de maior proximidade com as fontes e de decisividade em questões basilares, mas também teólogos com suas perspectivas pessoais.
A aprovação da Igreja se manifesta às vezes expressamente; outras vezes consistindo no fato de virem citados determinados escritores, de maneira honrosa, em Concílios e Documentos oficiais; podendo, enfim, ser uma aprovação apenas implícita. A antiguidade é uma característica também um tanto indefinida. Se há uma distinção de fases nessa História, situa-se entre o tempo apostólico e toda a era pós-apostólica.
Primeiro período: a Igreja está sendo constituída, da mesma forma que a recepção das verdades reveladas.
Segundo período: cresce a Igreja como crescem o conhecimento, a assimilação e a difusão das verdades, sob a guia do Magistério; assistida pelo Espírito Santo. A esta fase pertencem os Padres, por privilegiada que tenha sido sua condição de pioneiros.
Costuma-se dividir a História dos Padres em três períodos:
1º. Das origens até o Concílio de Nicéia, em 325 d.C.;
2º. A chamada “idade áurea”, que vai desde então ao Concílio de Calcedônia, em 451 d.C.;
3º. O declínio, daí aos séculos VII-VIII.
O período das origens interessa mais à crítica, por ser o dos primeiros testemunhos da fé tradicional na divindade de Cristo e na Trindade, e o das estruturas mais antigas da Igreja. Abrange os chamados Padres Apostólicos, que tiveram relações mais diretas com os Apóstolos: Clemente Romano, Inácio de Antioquia, Policarpo, Papias; sendo do mesmo tempo o escrito denominado Didaqué. Além disso, pertencem a esse período os autores seguintes do século II, que redigiram escritos apologéticos e anti-heréticos: Justino, Atenágoras, Irineu e os que fizeram, do fim do século II ao início do século IV, os primeiros ensaios de sistematização doutrinária: Orígenes, Tertuliano, Hipólito.
No segundo período inscrevem-se os principais autores, desde Santo Atanásio a Santo Agostinho. Tempo das obras mais importantes e das formulações doutrinárias basilares. O título de período de declínio não se afigura bastante justo para designar a era pós-calcedonense, pois inclui diversos Padres de primeira grandeza, apenas menos numerosos do que os anteriores. Estabelecem um traço de união entre o mundo antigo, greco-romano, e a cristandade derivada dos povos bárbaros, os quais começam a ser educados sob o impulso primordial de São Gregório Magno.
Graças a essa História, feita por homens iluminados pela Sabedoria incriada, a Igreja continua sendo “o sal da terra e a luz do mundo”, à luz do próprio Cristo, no Espírito Santo.Seria uma presunção triunfalista admitir a plena significação da frase acima? Seria temerário pensar que o Cristo escolheu alguns no meio da multidão para encarregá-los de ser o sal da terra? Não será, ao contrário, arriscado por em dúvida o aviso do Senhor de que, se o sal perder a força do comunicar o seu sabor, a terra inteira será insípida? Poderia não ser presunção, poderia não ser temerário, poderia até, não ser um risco de avaliação inadequada, admitir que a atribuição evangélica a alguns de ser o sal da terra estaria, hoje, encerrada, se essa atribuição fosse baseada nas qualidades humanas dos investidos e não uma tarefa ou missão conferida pelo próprio Cristo a eleitos e ordenados, como portadores qualificados de sua mensagem.
Luiz Santinácio é Professor de Línguas e Literaturas, Tradutor, Escritor e Poeta. Autor de “Simbolismo, uma estética poética – A vida, uma estética simbólica”, entre outros. Reside em Cascais, Portugal.
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