FICAMOS ALEGRES COM SUA VISITA

ESPERAMOS, QUE COM A GRAÇA SANTIFICANTE DO ESPIRITO SANTO, E COM O DERRAMAR DE SEU AMOR, POSSAMOS ATRAVÉS DESTE HUMILDE CANAL SER VEÍCULO DA PALAVRA E DO AMOR DE DEUS, NÃO IMPORTA SE ES GREGO, ROMANO OU JUDEU A NOSSA PEDRA FUNDAMENTAL CHAMA-SE CRISTO JESUS E TODOS SOMOS TIJOLOS PARA EDIFICACÃO DESTA IGREJA QUE FAZ O SEU EXODO PARA O CÉU. PAZ E BEM

AGRADECIMENTO

AGRADECEMOS AOS NOSSOS IRMÃOS E LEITORES, POR MAIS ESTE OBJETIVO ATINGIDO, É A PALAVRA DE CRISTO SEMEADA EM MILHARES DE CORAÇÕES. PAZ E BEM

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Minha visão do pecado

Os jornais, as revistas, o rádio, a televisão, a internet sempre destacam e noticiam fatos que proporcionam alegrias e fatos que provocam tristezas. Amor, ódio, morte, guerras, derrotas, vitórias, assaltos, assassinatos, seres famintos, seres com fartura, terremotos, enchentes, queimadas, traições, verdades, mentiras etc, são alguns itens que compõe os fatos noticiados. Se refletirmos sobre eles, veremos que nada é capaz de deter a frequência, e a intensidade com que acontecem; veremos que não há aparelhos, armas ou qualquer tipo de invento que os possa controlar. Se realmente fizermos uma reflexão esmerada sobre os itens e os fatos, com toda certeza iremos concluir que: “o mundo é o grande teatro em cujo palco bilhões de atores, mostram seu talento, encenando peças variadas; mas, nesse teatro só há um diretor, e ele, é o único responsável pelo conjunto artístico obtido com a montagem das peças. É ele, quem decide como o texto será interpretado, é ele, que coordena o trabalho de todos os artistas; analisa a peça e define sua concepção do espetáculo; escolhe o elenco, dirige os ensaios e ainda se encarrega de organizar todos os elementos da montagem final; é ele, que sabe qual a função de cada personagem e o tipo de ator a representa-lo”. O diretor quase nunca é visto pela plateia, mas mesmo estando por trás das cortinas nada foge ao seu controle: cenários, figurinos, personagens, iluminação correta. O quase oculto, porém eficaz e competente diretor do grande teatro que é o mundo atual, possui na identidade um único nome:
««« PECADO ««« Paz e bem

Antes, a lei, depois, a graça. Verdade ?

Se você ouvisse Levi dizendo: nossos antepassados, que ficaram muito tempo entre os egípcios, perambularam nas regiões desérticas e depois se fixaram na chamada terra prometida, viviam debaixo de mandamentos, não debaixo do amor - qual seria a sua reação?

Vamos examinar. Quando saíram do ambiente paradisíaco onde tinham estado, Adão pode ter dito a Eva: bem, mulher, a pena que o Criador nos impôs foi severa, mas, tá bom, ele também foi benevolente para
conosco e nos preservou a vida. Até fez vestes de pele para nós! (Gn 3).

Depois, o coração de mãe, sofrendo com a brutalidade do filho mais velho que espancou o irmão até a morte, pode ter encontrado forças numa conversa em casa. Abel foi morto, não volta mais. E Caim foi embora, marcado, a essas horas está muito longe de nós. Mas podemos agradecer por Abel, que foi aceito por Deus na oferta que apresentou. Também por Caim, que seguiu o seu caminho com uma
proteção especial, apesar de ter feito o que fez (Gn 4). Aquela marca foi o sinal de que ele contaria com um favor divino. Favor imerecido.

Vejamos agora o bisneto do patriarca. Foi jogado num poço, por causa de inveja. Depois foi vendido e seguiu numa caravana de mercadores. Acabou sendo preso sem ter cometido crime algum. Mas, com o tempo tudo ficou claro. Isso fazia parte de um plano bem superior, que levou José à maturidade suficiente para exercer uma forte liderança no
Egito e salvar aqueles seus irmãos e toda a região, na época de escassez (Gn 50). Não foi pura graça? Ele usou a autoridade que tinha, mas beneficiou generosamente a muitos.

Que dizer dos dez mandamentos, tidos como o núcleo principal de todo o trabalho de Moisés? As tábuas da lei porventura não são demonstrações da graça endereçada a toda humanidade? Trazem quatro instruções sobre como se relacionar com o Criador, e seis orientações sobre como proceder para com os semelhantes (
Êx 20). O nazareno, mais tarde, mostrou que a primeira parte significa amar a Deus sobre todas as coisas, e a segunda amar ao próximo como a si mesmo. A verdade é que os israelitas sempre enxergaram a lei como instrução, não como punição. É a graça querendo boa qualidade de vida para todos nós.

Estamos acostumados a associar a graça com a
atuação do Espírito Santo em nós. Alguns dizem que essa bênção veio com o Novo Testamento. Mas, o Espírito atuava intensamente no tempo do Antigo. Para trabalhar no artesanato com tecidos, peles de animais, e também com ouro, cobre, prata, madeira e pedras preciosas, os hebreus contavam com a graça que os qualificava (Êx 31). E Ageu fez o solene registro de que o Espírito do Senhor mora com os israelitas, então a sua graça os ajuda a prosseguir sem medo. Claro que ele conhecia e cantava os Salmos 13 e 63, repetindo sempre: “no tocante a mim, confio na tua graça (benevolência)”, e “a tua graça (magnanimidade) é melhor que a vida”.

Todo ato de
misericórdia é um ato da graça, você não acha? Ezequiel, quando recorda os acontecimentos, afirma que Deus se fez conhecer aos homens, tirou o seu povo da escravidão, e o fez passar pelo deserto para receber os estatutos e aprender os costumes que levam a uma vida de liberdade, fartura e bem estar (Ez 20). É a graça articulada com a disciplina. Ele repreende a quem ama (Pv 3), assim como nós aos filhos a quem queremos bem. Quão grandes e perceptíveis sinais da graça foram a nuvem de dia e a coluna de fogo à noite sobre o povo no deserto! Lei e graça sempre estiveram juntas. Uma nunca excluiu a outra.

Por acaso no período entre os dois testamentos foi diferente? Naquele tempo se fortaleceu o costume de se reunir para estudos em sinagogas. Naqueles anos se consolidou o
sinédrio como tribunal de justiça. Naquela época um tanto conturbada se formaram grupos com diversas ênfases na vida judaica. E a graça preservou o povo israelita. O esforço de viver na lei sempre foi confirmado com a graça. A nossa resposta à graça é jamais vivermos fora da lei, nem acima dela.

A primeira aliança já
possibilitava ter familiaridade com a lei e reconhecer o milagre da graça. Na segunda aliança, que renova e confirma a primeira, são corrigidos os excessos que algumas lideranças haviam ensinado indevidamente. Assim como Levi não diria que cumpre o mandamento sem o auxílio gracioso dos céus, o discípulo de Jesus não diria que vive na graça sem observar a lei. “Crer e observar” é o seu hino.

Certamente cresce em nosso tempo o número dos que percebem esta verdade claramente. A Bíblia inteira é o livro da firme instrução disciplinar e do abundante amor construtivo. É preciso estar na lei, com a graça, sem o legalismo, pois é assim que valorizamos a vida. Paz e bem

Quem sou eu, quem é você, quem somos nós ?

Havia uma preocupação em Jesus acerca daquilo que pensavam a seu respeito. Por conta de seus atos muitos conceitos iam se formando em relação a sua verdadeira identidade. Sua vida era dinâmica, não pela extensão de sua agenda somente (não somente extensa, mas intensa. Nunca houve nem haverá tanto quanto), mas em virtude do aspecto multiforme de Deus nele. Havia uma crise de identidade, não nele, mas no povo.

Hoje em nossa vida há também essa mesma crise, consciente ou não, em nós e no povo que é determinada pela forma como conduzimos nossas vidas.


Jesus debateu os mais variados temas, e, por uma leitura mais tranquila, é perceptível sua posição; sempre do lado da justiça do direito e da verdade, pois sabia ele que só através desses estados é que o ser humano estaria sendo redimido. Preferiu se expor, até ao ridículo, sempre que foi preciso, a ficar na passividade ociosa e isso, de fato, causou-lhe muitos desconfortos.

Estava, então, imprimida a identidade de sua igreja, de seu povo. Se quisermos que o mundo nos ouça, será preciso militar como Jesus militou, mesmo que haja confusão, mas sem causa, na construção dessa identidade. O mundo nunca será flexível a uma igreja ou alguém de práticas semelhante a ele. O evangelho nos tempos bíblicos conquistou o mundo de sua época.


Através deste
mostruário bíblico temos a identidade de Jesus para que a nossa seja comparada e ajustada paulatinamente como Paulo nos mostra: “... até atingirmos a estatura do Varão...”. Mesmo que se expondo temos que nos apresentar; correndo risco da interpretação prévia, do prejulgamento, e até do ridículo. Ele disse que o discípulo não é melhor do que o mestre. Mas só sente isso quem sai de sua zona de conforto, do egoísmo e se dirige para a área de conflito, de exposição sempre em favor dos propósitos de Deus. Isso só faz quem está disposto a perder em nome de algo muito maior. Quem milita assim, a exemplo de Jesus vai parecer ter duas identidades, mas se for em favor do humano, vale a pena. Enfim... É desconfortável mesmo e a única satisfação que vem é do céu, gratificante! É a alegria de ver o Reino chegado, mas ainda não. Você é um cidadão do Reino? Qual está sendo a sua postura?

Viver escondido é viver
covardemente a vida cristã. Através de Jesus o Reino já está aí e tem características próprias, sem amizade com qualquer sistema de mundo. “A amizade ao mundo (sistemas) constitui inimizade contra Deus”

Vivemos em um tempo em que não precisa ser cristão para se ter direito; essa liberdade é boa, mas também oprime. As injustiças sociais estão aí, as ambições, a falsa religião, falso cristianismo, a opressão, enfim, a cena e o cenário se repetem... É neste palco que a fé de qualidade e o estilo pós- moderno de viver ( texto anterior) faz a diferença.

Há uma crítica hoje em cima da instituição (igreja)... o que ela está fazendo? qual é a igreja certa ou que acertou? é a tradicional;
pb, bt cg, pentecostal; as ccb, dv, ou as neos? Mas o cristão autêntico independentemente têm enfrentado suas crises; se expondo a vergonha e ao ridículo, porque esses absurdos se refletem na vida particular do cristão, seja ele da igreja ou não. em todo lugar... entre parentes amigos, nas apresentações são tempos difíceis, não está sendo fácil. Não esqueçamos que o verdadeiro testemunho é dado lá, fora das quatro paredes; é o sal e a luz...

É nesse contexto que a nossa identidade precisa estar bem definida e de preferência igual a Cristo "imitadores, amigos e servos". Que nele possamos aproveitar bem a nossa vida cristã para o louvor de sua glória.

A humildade amorosa

Há anos leio os comentários dos autores patrísticos (os Pais da Igreja dos primeiros séculos da era cristã) sobre os evangelhos. Leio também os romances de um dos maiores escritores russos de todos os tempos, cuja visão de mundo é essencialmente cristã: Fiodor Dostoievski. Usarei frases de autores patrísticos e trechos de Dostoievski para uma melhor compreensão do texto dos evangelhos conhecido como “O Rico e Lázaro” (Lc 16.19-26).

Gregório, o Grande, observa que “o Senhor menciona o nome do pobre, mas não o do rico; pois Deus conhece e aprova o humilde, mas não o orgulhoso”. Gregório associa “pobre” a “humilde” e “rico” a “orgulhoso”. Ambrósio, bispo de Milão, fala da “insolência e orgulho dos ricos, tão indiferentes à condição da humanidade, como se eles pairassem acima da natureza”. Ele ironiza o comportamento dos ricos que agem como se não fizessem parte da raça humana. Agostinho acrescenta que “a cobiça dos ricos é insaciável”. Há uma semelhança com a Teologia da Libertação.

Crisóstomo, arcebispo de Constantinopla, exilado por não desistir de criticar a corte do imperador bizantino, comenta que “o rico morreu, como diz o texto, mas sua alma já havia morrido. Assim como deitar fora do portão do rico aumentou a aflição do pobre, o desespero do rico no inferno é maior porque ele vê a felicidade de Lázaro”. Há um paralelismo: em vida, Lázaro sofria ainda mais, pois via todos os dias o contraste entre sua situação e a do rico. Agora, porém, está tudo invertido. Os tormentos do rico são maiores porque ele consegue ver o bem-estar de Lázaro. Ou seja, é um inferno apropriado, feito sob medida. “Estando o rico totalmente atormentado, somente os seus olhos estão livres”, diz Crisóstomo. E eles só conseguem ver a felicidade de Lázaro, o que apenas aumenta o tormento. “Veja agora o rico necessitando do pobre!” Evidentemente, estamos acostumados com outra situação. “E agora todos percebem quem era verdadeiramente rico e verdadeiramente pobre.” As máscaras foram tiradas e Crisóstomo faz até uma analogia: “Quando termina a peça, os atores retiram os trajes; da mesma forma, quando vem a morte, o espetáculo acaba e as máscaras da pobreza e da riqueza são tiradas, então os homens são julgados somente por suas ações”.

Gregório diz ainda: “O rico no inferno busca uma gota d’água, ele que em vida nem queria dar uma migalha de pão. Porém, ele recebe uma retribuição justa -- o fogo do desejo intenso”. Novamente a ideia de um inferno feito sob medida. Como frisa Crisóstomo, “ele não está no inferno porque era rico (afinal, Abraão era riquíssimo), mas porque não era misericordioso. E como sua língua havia falado muitas coisas orgulhosas, ele pede que Lázaro seja enviado para refrescar a ponta dela com o dedo molhado em água”. E a conclusão de Crisóstomo é que “onde está o pecado, aí está o castigo”.

Gregório de Nissa confirma essa perspectiva: “O juízo de Deus é adaptado às nossas disposições. Como o rico não teve piedade do pobre, ele não é ouvido quando precisa de misericórdia”. Porém, diz Gregório: “Quando você se lembra de ter feito uma boa ação, tenha cuidado, porque existe o perigo de que a recompensa presente seja tudo o que você vai receber de recompensa!”. E ainda: “O justo pode até receber coisas boas aqui, em troca da sua bondade (embora nem sempre aconteça). Porém, ele não as recebe como recompensa, pois busca algo melhor, que é a recompensa eterna”.

Finalmente, o texto afirma que entre o rico e Lázaro há um grande abismo, que simboliza a distância entre o justo e o pecador, entre suas disposições interiores. E tal abismo é descrito como “fixo”. É preciso entender a parábola como uma mensagem para a vida presente, não como uma descrição literal e detalhada da vida futura. Porém, como combinar isso com a crença num Deus que certamente é muito mais misericordioso do que nós? Se nós sabemos ser misericordiosos (às vezes e até certo ponto), quanto mais Deus! Além disso, ele é muito mais capaz de pesar os fatores psicológicos e sociológicos na biografia de cada pessoa. Ele conhece a fundo todos os fatores que influenciaram a vida de cada um e tiveram um peso em suas ações. Por isso, “o juiz de toda a terra fará justiça”.

Há dois textos de Dostoievski em “Os Irmãos Karamazov” que também exemplificam isso. O primeiro é o comentário sobre essa parábola, feito por um dos personagens centrais do livro, que é um monge e conselheiro espiritual. Diz ele: “Eu pergunto a mim mesmo o que é o inferno. E defino assim: o inferno é o sofrimento por não poder mais amar. Uma vez [fazendo referência ao rico da parábola] um ser teve a possibilidade de dizer “eu sou e eu amo”. Uma vez somente foi-lhe concedido um momento de amor ativo e vivo. Para isso lhe foi dada a vida terrestre [que bela descrição do sentido da vida!]. Porém, esse ser repeliu esse dom inestimável e ficou insensível. E esse ser, tendo deixado a terra, vê de longe o seio de Abraão. Ele contempla o paraíso de longe. Porém, o que o atormenta precisamente é que se apresenta sem ter amado. E diz: “Agora a minha sede ardente de amor espiritual me abrasa”. O que abrasa o rico é justamente o desejo de amar, mas a impossibilidade de fazê-lo porque passou o momento. Ele desdenhou a possibilidade de amar na terra, quando era a hora de amar. “A vida que se podia sacrificar pelo amor já decorreu.”

O segundo texto é a lenda da cebolinha, um relato russo contado por uma das personagens femininas de “Os Irmãos Karamazov”:

Era uma vez uma mulher muito má, que morreu sem deixar atrás de si uma única boa ação. Os demônios a pegaram e partiram em desabalada carreira para o lago de fogo. Porém, seu anjo da guarda pensava: “Se ao menos eu pudesse me lembrar de uma boa ação que ela tivesse feito, iria contar a Deus!”. Recordou-se e disse a Deus: “Ela arrancou uma cebola na horta e a deu a uma pedinte”. Deus lhe respondeu: “Tente dar-lhe essa cebola no lago para que ela a agarre; se você a retirar, concordo que entre no paraíso; mas, se a cebola romper-se, então que fique onde está”. O anjo correu em direção à mulher e lhe apresentou a cebola: “Pegue-a”, disse ele, “e segure bem!”. Pôs-se a puxar com cuidado e a mulher emergia toda. Os outros culpados que estavam no lago, vendo que ela estava sendo retirada, agarraram-se a ela para poder sair também. Porém, a mulher era muito má e debateu-se para dar-lhes pontapés: “Sou eu que estou sendo retirada, não vocês!”. No mesmo instante em que lhes lançava essa observação, a cebola rompeu-se. A mulher caiu no lago e ainda está queimando. O anjo foi-se chorando.

Certo livro acadêmico, ao comentar a obra de Dostoievski, diz que, “em última análise, o que selou o destino da mulher não foi a longa série de transgressões pessoais, mas seu egoísmo e o fato de ter se colocado contra os outros pecadores, ou seja, seu desejo de alcançar uma salvação individual, que abrangesse apenas ela e não os outros”. O autor ainda diz que Dostoievski iguala a mulher má da lenda e o monge citado, que era um grande santo. Pois o monge, já morto, aparece em sonho a um dos irmãos Karamazov e lhe diz que está no paraíso somente porque um dia ele também “deu uma cebolinha”.

Walter Hilton, um grande místico cristão inglês do século 14, fala muito sobre humildade e amor. Sobre humildade, ele diz: “Quem possui essa única virtude, possui todas as outras”. A humildade é a chave; nada vale possuir todas as outras virtudes sem ela. Aliás, a ênfase nas virtudes soa estranha aos nossos ouvidos. Os pregadores dificilmente abordam a questão, e é por isso que a igreja evangélica nos causa tanta vergonha, pois não ensinamos o cultivo das virtudes. Walter Hilton acrescenta: “Se quiser construir um edifício alto de virtudes, coloque primeiro um alicerce profundo de humildade. Ela preserva e guarda todas as outras virtudes”. Ou seja, se não houver humildade, você pode até construir um edifício alto de virtudes; porém, no primeiro tremor de terra, seu edifício ruirá. Já vimos muitos exemplos disso e muitas vezes percebemos a mesma tendência em nós. “Sem a humildade, quem tenta servir a Deus tropeçará como um cego”. Há aqui uma mensagem para o cristão envolvido em ação social: “Meditar constantemente na humildade de Cristo ajuda a destruir os pecados graves e implantar as virtudes”. Isto é, ler constantemente sobre a humanidade humilde de Cristo nos evangelhos. “Vista a semelhança de Cristo, ou seja, a humildade e o amor. Sem isso, nenhuma obra o fará semelhante ao Senhor.” “Aprenda comigo”, diz Cristo, “não a andar descalço, ou a jejuar quarenta dias no deserto, ou a escolher discípulos, mas aprenda comigo a humildade. Este é o meu mandamento, que se amem uns aos outros como eu os amei. Nisso os homens saberão que vocês são meus discípulos, não porque operam milagres, expulsam demônios ou pregam e ensinam.”

Concluindo, mais uma frase do monge de Dostoievski: “Pergunta-se por vezes, sobretudo em presença do pecado: ‘É preciso recorrer à força ou ao amor humilde?’. Não empregueis jamais senão esse amor; podereis assim submeter o mundo inteiro. A humildade cheia de amor é uma força tremenda, sem nenhuma outra igual”. O alicerce profundo da humildade amorosa é uma força tremenda! Que a identidade evangélica seja cada vez mais marcada por essa característica.

Nota

* 2ª parte da palestra apresentada no 5º Congresso Nacional RENAS, em Recife, em agosto de 2010.

Paul Freston, inglês naturalizado brasileiro, é professor colaborador do programa de pós-graduação em sociologia na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de religião e política em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Esperar em Deus não é loucura

Em todas as etapas da vida somos confrontados a falar de nossas conquistas, sejam elas materiais, pessoais e/ou intelectuais. O mundo nos cobra uma postura e posição de destaque em meio a tudo. Mas quando essas expectativas são frustradas por parte de quem as faz, há um julgamento cruel. Somos rotulados de inutilidade, excluídos do “grande grupo”. Somos diferentes.

Os filhos de Deus nasceram para dar certo, mas que certo é esse? Geralmente, a escala usada como medida hoje é aquela que a sociedade nos impôs como sinônimo de realização. É bem sucedido aquele que tem mais dinheiro, fama, popularidade, bens materiais, ou seja, os que vivem os “prazeres da vida”. A cada dia surgem novos indicadores de “sucesso”. A corrida desenfreada para conseguir tudo isso em curto prazo não resulta no objetivo que antes era primordial: a felicidade.
Vivemos nos projetando para os outros em palavras de autopromoção, acreditando em uma verdade que, muitas vezes, não é a nossa, que não nos faz bem. O pensamento imediatista faz da vida um anseio constante para o que nos é ofertado diariamente, uma busca sem fim por “coisas” que nunca nos contentam. Prazer imediato = “felicidade” passageira.

É natural haver crescimento e prosperidade em meio a tudo o que fazemos quando colocamos Deus no centro de nossa vida, porque nossos projetos não são nossos, mas é o plano do próprio Deus para nós. O “dar certo”, sob uma visão cristã, é bem diferente da visão deturpada da sociedade. Muitas vezes, nós cristãos temos de esperar em Deus para receber a resposta ou a bênção que tanto pedimos, pois Ele prepara o caminho para a que a graça chegue no momento certo. Quando somos agraciados, sabemos reconhecer a obra do Senhor e a desfrutamos em sua plenitude. Esperar em Deus não é loucura, mas agir na certeza de que acontecerá o melhor no tempo certo. Contudo, hoje muita gente prefere correr para o mundo do que esperar em Deus.

“Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios.” (cf. Romanos 8, 28.)

Sabe aquele vazio que não preenchemos com dinheiro, coisas nem pessoas? Pois é, Deus preenche!

Essa cobrança desleal dos padrões de ostentação atual nos inferioriza e coloca nossa vida em segundo, terceiro…último plano. Deus está em que colocação em nossos anseios?

Não coisifiquemos nossa vida nem a do outro, pois somos filhos de Deus, capacitados, dotados de inteligência, dons e carismas com um potencial imenso para fazer a diferença no ambiente que estamos inseridos. Não somos iguais, temos natureza divina. Deus, mesmo sabendo o caminho que nos faria feliz, deu liberdade para nossas escolhas. Não deixe que alguém roube isso de você.

Tenha certeza de que o Senhor suprirá suas necessidades, pois nem tudo que pedimos é o que precisamos. Ele certamente vê e chega exatamente onde nos falta.

“Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a Sua justiça, e todas as coisas vos serão dadas por acréscimos” (Mateus 6, 33).

Muitos procuram a chave para felicidade em lugares errados, e, às vezes, tem-se a ilusão de tê-la encontrado. No entanto, logo damos conta de que algo ainda nos falta, e a procura continua. A felicidade é algo complexo, abrange uma plenitude que contempla todas as particularidades do nosso ser. Eis que há uma chave-mestra, responsável por unir todos os segredos e combinações em uma única solução: Deus. Eis o caminho: “Ser aquilo que Deus quer”! Ele sempre quer o melhor para nós e sabe, ao certo, a glória que está guardada para Seus filhos.

“Pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Colossenses 3,3).

Tenhamos a certeza de que nossa vida está em Deus, e o melhor: na vida eterna!

Afeiçoai-vos às coisas lá de cima

A vida do cristão é permeada por sacrifício e renúncia, pois, “já não sois hóspedes nem peregrinos, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Efésios 2,19), por esse motivo, devemos viver como tal. Não basta denominar-se “católico de IBGE”, necessário é buscar as coisas do Alto.
A Palavra de Deus diz em Colossenses 3,2: “Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às coisas da terra”. À primeira vista, achamos uma palavra comum, porém como é sacrificante viver esta palavra no seu sentido total! Requer muita fé e disciplina. Explico: “Afeiçoar-se às coisas lá de cima” quer dizer renunciar pequenas coisas do dia a dia, atos que nem sempre fazemos.
Estamos atados, por assim dizer, às coisas da terra, de tal maneira que, por diversas vezes, não cumprimos o primeiro dos mandamentos: “Amar a Deus sobre todas as coisas”. Se é sobre “todas as coisas”, é preciso valer para tudo; não somente para o que é conveniente a nós. Precisa valer sobre nossos afazeres, nossas vontades, nossa própria família. Quantas vezes faltamos à Missa dominical para irmos ao cinema, ao teatro, a um aniversário? Ser fiel a esta Palavra significa viver estreitamente “as coisas do Alto”.
Enquanto nosso espírito aspira pelas coisas eternas, nossa carne pede as coisas da terra como fofocas, mentiras (mesmo aquela mentira aceita socialmente), olhares maliciosos, pensamentos torpes, conversas libidinosas etc.; cedendo a essas coisas, sufocamos nossa alma com nossa liberdade mal empregada. Por vezes, rezar uma Ave-Maria durante o dia se torna entediante.
A Sagrada Escritura segue nos admoestando: “Mortificai, pois, os vossos membros…” (Colossenses 3,5). Nossos membros e sentidos, com efeito, estão imperando sobre nossa vida a ponto de não conseguirmos ouvir uma exortação, pois logo revidamos, porque nunca estamos errados. Falta-nos ouvir em silêncio como Maria o fez, mesmo sem entender, ainda que o fogo de nossa vontade queime em nosso interior.
‘Afeiçoar-se às coisas lá de cima’ quer dizer renunciar pequenas coisas do dia a dia”
Nossos erros, constantemente, são justificados; procuramos a quem culpar, não nos reconhecemos como pecadores. A arrogância, a autossuficiência do homem moderno chegou a uma estatura que não se admite mais sermos dependentes da misericórdia de Deus Pai. Toda essa realidade é afeiçoar-se às coisas do Alto e, consequentemente, mortificar nossos sentidos e membros, ou seja, toda vontade dentro de nós. Entretanto, será que conseguimos ainda dizer não a nós mesmos para satisfazer o próximo ou continuamos em nosso mundo egoístico?
Um desafio ao qual você pode submeter-se, para testar sua busca pelas alturas, é marcar quanto tempo consegue ficar navegando na internet pelas redes sociais e sites; e depois comparar com o tempo que você permanece com a Palavra de Deus, com a oração do terço. Isso somente se tornará um desafio para você quando conseguir obter constância na oração, aliás, a constância espiritual foi um dos vários segredos para que os santos conquistassem o céu.
Concluo lembrando da frase de Dom Bosco que diz: “Quem obedece nunca erra”. Discípulo apaixonado por Jesus tem um ouvido atento à voz do Senhor e daqueles que lhe orientam a alma. Observando esses conselhos, estaremos macerando tudo em nós e deixando Cristo imperar em nossa vida; somente assim poderemos fazer das palavras de São Paulo as nossas, “ mas já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2,20).
Graça e Paz!
Rodrigo Stankevicz

O conhecimento é um processo eterno


Dra Pilar Vigil
Foto: Maria Andrea/cancaonova.com


Adão só soube quem ele era quando olhou para Eva. Portanto podemos afirmar que só se alcança identidade própria através do contato com o outro, da intimidade que se tem com o próximo.
A intimidade é o ato de existir no coração do outro, a amizade gera esta intimidade. Para existir como pessoa precisamos de amor, amizade e intimidade para aí sim sabermos quem realmente somos.


Não temos que plasmar nas pessoas aquilo que somos, mas sim levá-las ao autodescobrimento, a identificar sua identidade pessoal. A realidade afetiva e sexual atrai todos os componentes da pessoa como um universo de onde converge tudo que se é. Portanto é uma plataforma educativa de uma potencia extraordinária por ser a linguagem do amor. A proposta real é oferecer as pessoas um acompanhamento pessoal, respeito com o processo individual, oferecer as ferramentas de liberdade que permite descobrir a própria identidade. Não da mais para tentar sanar os problemas sem ir à fonte, é preciso educar as pessoas.


O que queremos: acompanhar pessoas ou resolver problemas?
Foto: Maria Andrea/cancaonova.com


Se não sabemos nos observar, não sabemos ler. Quando somos analfabetos é muito fácil de ser manipulado. De quem é a responsabilidade: de uma pessoa analfabeta ou de quem não a educou? É uma responsabilidade mútua, pois o analfabeto tem sua liberdade de escolha. Na verdade não existe quem é certo ou errado, existem seres humanos ao caminho da vida. Esse caminho começa sabendo quem sou eu em um momento da vida.



O que queremos: acompanhar pessoas ou resolver problemas? Quando acompanhamos pessoas muitas situações-problema da sociedade diminuem ou desaparecem consideravelmente. Quando damos aos adolescentes camisinhas a quantidade de gravidez aumenta, pois eles sentem que não nos importamos com eles. Não podemos ter medo de ensiná-los, educá-los. É desta forma que proporcionamos a oportunidade de escolha diante daquilo que é a verdade, provando que estamos juntos com eles e nos importando com o futuro de cada um.


Os jovens precisam de alguém ao seu lado, pois se caírem podem ser levantados por este alguém. Quando propomos um ideal, aceitamos levar pessoas que estão sem condições, mas querem subir na montanha da vida. Esse é o modelo “Teen Star”. Existem pessoas que não querem nem saber de nada, não querem se comprometer. Mas há pessoas que querem assumir e fazer bem àqueles que são o nosso futuro.


Não é o que falamos, mas o que fazemos. A chave é empatia, o fato de compreender o outro na sua situação pessoal.
Não há um protótipo de pessoas.
Cada um apresenta sua beleza própria. O encontro com alguém que é diferente permite a existência numa interação entre todos que leva ao conhecimento pessoal. Eu só posso adquirir a certeza: “Eu sou”, através do outro. A pessoa humana é um mistério, porque só se pode ter o conhecimento próprio através do outro. O conhecimento é um processo eterno.
Transcrição e adaptação: Clarissa Oliveira




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Dra Pilar Vigil
Médica chilena Ginecologista e Obstetra, especialista em reprodução humana.
Cristã, membro da Pontífice Academia para a Vida, do Vaticano.

O avesso de mim


Não existe bordado perfeito se as linhas do avesso estiverem soltas
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"O mais importante do bordado é o avesso é o avesso" (Jorge Vercillo e J. Velloso)

Nossa sociedade tornou-se sinônimo de agitação; já não encontramos tempo para mais nada. Desejamos que o dia tenha trinta horas, porque as 24 horas que temos parecem poucas para tantas demandas próprias do nosso cotidiano. Divorciamo-nos da paciência e hoje somos prisioneiros da pressa. Buscamos o futuro sem viver o presente. Nas tramas da vida, os bordados de nossa história são, por vezes, mal feitos e tortos.

A arte do bordado carrega em si um grande ensinamento para nossa vida. Se o avesso do bordado estiver perfeito, o bordado também estará perfeito. No entanto se o avesso do bordado estiver defeituoso, o bordado também estará imperfeito, mesmo que, ao primeiro olhar, ela pareça bonito.

Muitos corações estão com o avesso mal acabado. Há linhas de sentimentos soltas e nós de incompreensões mal arrematados. A princípio muitos seres humanos apresentam-se perfeitos, mas basta um minuto a mais na companhia destes "bordados" e descobrimos que ainda há muitas linhas soltas na alma humana. A vida agitada impediu que eles arrematassem o que ainda estava incompleto.

O bordado é um processo que tem o ritmo da paciência. Algumas peças levam muito tempo para ficarem prontas e belas. E o tempo é fundamental para quem se propõe a realizar um bom trabalho. O processo de vivenciar o tempo é fundamental na vida de quem deseja que seu avesso seja arrematado com perfeição. O fruto verde não amadurece antes do tempo que lhe cabe. Nossos sentimentos precisam se reconciliar com as estações de nossa alma. Colher o que ainda está verde prejudica o sabor das experiências maduras.

O avesso de muitas pessoas está desfigurado e mal cuidado. A pressa e a busca por soluções imediatas têm prejudicado muitos na arte de se fazerem humanos. Não existe bordado perfeito se as tramas e as linhas do avesso de nossa alma estiverem mal arrematadas.

Na mitologia grega, Ariadne foi a heroína que deu a seu amado um novelo de lã para que ele conseguisse sair com vida de um perigoso labirinto – bastava seguir o fio para achar o caminho. Muitos precisam encontrar o fio da sua vida para sair dos labirintos que os aprisionam. Seguir o fio da vida é nos aventurarmos através dos labirintos de nosso avesso complexo e ainda não terminado.

O que torna o bordado de nossa vida mal terminado é a pressa em querermos ser aquilo que o tempo ainda não amadureceu. Os bordados de nossas atitudes serão tão belos à medida que permitirmos que Deus arremate, no tempo que Lhe cabe, o avesso de nossa alma. Nos bordados de nossas experiências descobriremos que o avesso de nossa alma precisa de um cuidado que se chama tempo.

Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP.
Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG)



 
Padre Flávio Sobreiro

Atitudes curadoras

O elogio não pode ser confundido com a bajulação

Muitos dos nossos erros são reações ao mal que nos fizeram. A compreensão, corretamente manifestada, é um excelente instrumento de cura e restauração. Sem uma palavra de elogio, ninguém tem forças para mudar um comportamento ou corrigir uma atitude.
Quando um apessoa comete um erro, nada a condena mais do que a sua própria consciência. O mais dificil é se perdoar, aceitar-se e redimensionar sua caminhada. As críticas não ajudarão em nada se não forem precedidas de um elogio sincero, honesto, maduro e equilibrado.
A crítica por si só gera frustração, decepção, desânimo e tristeza. O elogio, quando verdadeiro, injeta o ânimo necessário para que se possa refazer a vida. Isso deveria ser a maior função de uma família e uma comunidade: ressaltar valores. Das críticas e acusações, a sociedade já se encarrega.
Há pessoas especializadas nesse ministério encardido. Mas muitos santos, seguindo a pedagogia de Jesus, especialmente em Seus gestos curadores, aprenderam e praticaram o elogio como arma poderosa de cura e restauração.
A exaltação não pode ser confundida com a bajulação. Elogiar é ressaltar as qualidades individuais e precisa coincidir com aquilo que a pessoa já sabe que tem e que está escondido sob a manta do erro. Não adianta querer inventar uma qualidade para enaltecer alguém. Nesse caso, esse alguém logo se percebe enganado e se fecha ainda mais no erro.
O elogio será uma linda gota de cura interior quando refletir um valor da pessoa e reanimá-la a retomar essa qualidade. O enaltecimento é uma palavra de esperança ativa, concreta, possível e realizável.
Infelizmente, essa é uma prática tão remota em nosso meio que, muitas vezes, temos medo do elogio. Quando alguém nos elogia ou ao nosso trabalho, ficamos com o pé atrás, achando que depois, certamente, virá um pedido de ajuda. Por isso, como atitude curadora, o elogio jamais deverá ser acompanhado de um pedido de favor.

Padre Léo, scj
Padre do Sagrado Coração de Jesus, fundador da Comunidade Bethânia que tem como carisma o trabalho de recuperação de dependentes químicos.