FICAMOS ALEGRES COM SUA VISITA

ESPERAMOS, QUE COM A GRAÇA SANTIFICANTE DO ESPIRITO SANTO, E COM O DERRAMAR DE SEU AMOR, POSSAMOS ATRAVÉS DESTE HUMILDE CANAL SER VEÍCULO DA PALAVRA E DO AMOR DE DEUS, NÃO IMPORTA SE ES GREGO, ROMANO OU JUDEU A NOSSA PEDRA FUNDAMENTAL CHAMA-SE CRISTO JESUS E TODOS SOMOS TIJOLOS PARA EDIFICACÃO DESTA IGREJA QUE FAZ O SEU EXODO PARA O CÉU. PAZ E BEM

AGRADECIMENTO

AGRADECEMOS AOS NOSSOS IRMÃOS E LEITORES, POR MAIS ESTE OBJETIVO ATINGIDO, É A PALAVRA DE CRISTO SEMEADA EM MILHARES DE CORAÇÕES. PAZ E BEM

sábado, 7 de fevereiro de 2009

COMO EU PARTICIPO DA SANTA MISSA.


O sacrifício de Cristo foi suficiente para pagar por nossas dívidas com Deus, pois como ensina São Paulo: “Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma vez para sempre, pela oblação do corpo de Jesus Cristo. (…) Cristo ofereceu pelos pecados um único sacrifício… (…) Por uma só oblação ele realizou a perfeição definitiva daqueles que recebem a santificação.” (Hb 10,10.12a.14) Se o próprio Deus morre, o valor de Seu sacrifício há de ser infinito, suficiente para saldar qualquer dívida!

Na Última Ceia Jesus antecipou Seu sacrifício, instituindo-o como perpétuo, através do oferecimento de Seu Corpo e Seu Sangue. O mesmo Corpo morto na Cruz e o mesmo Sangue derramado foram distribuídos aos Seus Apóstolos, numa verdadeira antecipação do sacrifício. Além disso, Nosso Senhor tornou-o perpétuo, quando mandou: “fazei isto em memória de mim.” (Lc 22,19) Assim, os Apóstolos e seus sucessores devem obedecer o mandamento de Jesus e fazer o que Ele ordenou: realizar o sacrifício! Se o sacrifício pôde ser antecipado, pode também, por ter-se tornado perpétuo, ser oferecido continuamente. Não se trata de um novo sacrifício, eis que o de Cristo foi definitivo e suficiente, mas do mesmo novamente tornado presente pelos Apóstolos, seus sucessores e os colaboradores destes.

O sacrifício de Jesus Cristo foi oferecido na Cruz, antecipado na Última Ceia, e é tornado novamente presente em cada Missa celebrada. Ceia, Cruz e Missa são o mesmo e único sacrifício de Cristo!

Esse o significado, portanto da Santa Missa: é o mesmo, único e suficiente sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecido de uma vez por todas, ao Pai, na Cruz do Calvário, pelo perdão de nossos pecados, tornado real e novamente presente, ainda que de outro modo, incruento, no altar da igreja pelas mãos do sacerdote validamente ordenado.

Mesmo, único e suficiente: a Missa não é um novo sacrifício para saldar nossa dívida para com Deus. Oferecido de uma vez por todas, ao Pai, na Cruz do Calvário: a Missa é o mesmo sacrifício da Cruz, não um outro. Pelo perdão de nossos pecados: como a Cruz foi a causa de nosso perdão, merecendo-nos a graça de Deus, assim também é a Missa. Tornado real e novamente presente: a mesma Cruz é tornada presente diante de nós, pois para Deus não há limite de espaço ou tempo. Ainda que de outro modo, incruento: na Cruz, Cristo derramou Seu Preciosíssimo Sangue; na Santa Missa, a Cruz é tornada novamente presente, mas de outro modo, sem derramamento de Sangue – não é, repetimos, uma nova morte de Cristo, mas a mesma e única, porém de modo incruento. No altar da igreja: todo sacrifício precisa de um altar; a Cruz foi o altar onde Cristo ofereceu o sacrifício de Seu Corpo Santíssimo; na Missa não há uma Cruz física onde Cristo deva morrer, mas um altar onde é celebrado o sacrifício e os dons são oferecidos. Pelas mãos do sacerdote: num sacrifício, além do altar, é preciso uma vítima e um sacerdote, i.e., um sacrificador; quando o altar foi a Cruz, Jesus Cristo foi a Vítima, mas também o Sacerdote, pois ninguém O matou, antes Ele mesmo Se entregou à morte por nós; na Santa Missa, se o altar é o da igreja, e a vítima é Cristo, eis que o sacrifício é o mesmo, também há identidade quanto ao sacerdote, o sacrificador. Validamente ordenado: Jesus mandou que os Apóstolos realizassem o sacrifício feito na Cruz e antecipado na última Ceia, e eles passaram o mandato a seus sucessores e aos colaboradores destes; os sucessores dos Apóstolos são os Bispos, e os colaboradores os padres, unidos a Cristo pelo sacramento da Ordem.

O fiel participa da Santa Missa assistindo-a com toda a vontade de unir-se aos sentimentos de Cristo. Se não pode, como o padre, ser o próprio Jesus oferecendo-Se na Cruz, deve, então, assistir o maravilhoso espetáculo do sacrifício de um Deus-homem que morre por nossos pecados com a disposição de alma de quem aspira imitar aqueles santos que estiveram aos pés do Calvário. A Cruz torna-se presente na Missa, e porquanto naquela estavam presentes a Santíssima Virgem e o discípulo amado, São João, o Apóstolo e Evangelista, quando estamos assistindo o Santo Sacrifício devemos ter as mesmas atitudes de ambos. Certamente, não estavam Nossa Senhora nem São João batendo palmas: sua alegria pela salvação que se operava era interna, e se misturava com uma viva dor pelos pecados da humanidade, cometidos de tal forma que fizeram Deus sofrer e derramar Seu Sangue por nós. Imitando os sentimentos e atitudes de São João e da Virgem Maria aos pés da Cruz, estamos participando da Missa de um modo santo e salutar.

São Leonardo de Porto Maurício, ardoroso apóstolo da Santa Missa, nos dá seu ensino, ainda bastante atual: “Eis o meio mais adequado para assistir com fruto a Santa Missa: consiste em irdes à igreja como se fôsseis ao Calvário, e de vos comportardes diante do altar como o faríeis diante do Trono de Deus, em companhia dos santos anjos. Vede, por conseguinte, que modéstia, que respeito, que recolhimento são necessários para receber o fruto e as graças que Deus costuma conceder àqueles que honram, com sua piedosa atitude, mistérios tão santos.” (São Leonardo de Porto Maurício. Tesouro Oculto)

SENSACIONALISMO ENVOLVENDO A BIBLIA


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Está difundida na internet uma reportagem que revela o sensacionalismo com que certos temas são abordados. No caso se trata da Bíblia. Eis alguns tópicos do referido texto: “Livros bíblicos podem ter autoria “falsa”, afirmam especialistas. [...] Escritores usavam nome de antigos profetas e apóstolos para se legitimar. [...] Três Isaías, dois Zacarias? Dois Pedros, vários Paulos?” É lógico que para as pessoas que não aprofundaram seus estudos sobre a Sagrada Escritura tais afirmativas simplistas causam enorme confusão. Todas as questões acima referidas já foram há muito tempo respondidas pelos hermeneutas. Nas Bíblias há no início de cada um dos livros amplas explicações. Cumpre, em primeiro lugar, observar que o Autor principal da Bíblia é Deus.

Os escritores humanos foram instrumentos inspirados pelo Ser Supremo. É de se notar que todos os originais da Bíblia desapareceram. Isto se deu por causa da precariedade do material então utilizado. Como Deus não costuma multiplicar milagres, só restaram cópias. Como sói acontecer, os copistas cometeram erros, pois apenas uma cadeia de prodígios excepcionais impediria os equívocos. Entretanto, a mensagem divina foi transmitida integralmente. A comparação dos diversos manuscritos comprovam ter havido modificações acidentais que não deturparam nunca o núcleo básico da revelação. A integridade do escrito foi preservada. Descobertas de traslados antigos levam também a esta conclusão. Diversos os motivos das falhas. Houve confusão dos caracteres então empregados os quais eram muito semelhantes entre si. No caso do hebraico, este não possuía vogais e a vocalização, que foi feita pelos rabinos, ditos massoretas, não é necessariamente a do original.

Aditem-se a distração, a negligência e a ignorância de quem copiava. Note-se que há hoje cerca de quatro mil cópias manuscritas do Novo Testamento, sendo a maior parte incompleta. As mais antigas remontam ao século quarto. Os livros da Bíblia são atribuídos a determinados autores humanos inspirados, mas sempre há uma explicação plausível quanto tal autoria. Assim, por exemplo, no caso do Pentateuco, os cinco primeiros livros são ditos de Moisés por que a personalidade de Moisés os marcou. Foi ele o iniciador religioso do povo e seu primeiro legislador. Pouco importa que não se possa atribui-lhe com certeza a redação de nenhum dos textos do Pentateuco. Moisés, porém, é a figura central e tradição judaica tinha razão de chamar o Pentateuco de livro da Lei de Moisés. O mesmo se diga quanto aos Livros de Isaías, Zacarias, as Cartas de Pedro e de Paulo ou acerca de outros livros das Escrituras. Cumpre um estudo sério sobre a questão e os biblistas sempre foram claros em elucidar tudo. No caso de Isaías, por exemplo, a Teologia do Segundo Isaías, o Dêutero-Isaías (Is 40-55) fixa as idéias deste profeta atinentes ao processo criador e soteriológico e o pensamento do Terceiro Isaías (Is 56-66) vinca a preocupação da infidelidade como óbice à recepção da redenção divina.

Todos estes textos estão diretamente ligados à pregação do notável profeta. O Trito-Isaías deixa, portanto, advertências oportunas advindas do que ele pregava. No caso se São Paulo, as treze cartas que trazem o nome deste Apóstolo são geralmente atribuídas a ele, havendo controvérsia maior quanto à autoria da epístola aos Hebreus. Quanto a esta, boa parte dos biblistas afirma tenha existido uma orientação paulina indireta, pois foi o Apóstolo das Gentes quem a direcionou. Segundo Dattler, são incontestavelmente da autoria de São Paulo: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filêmon.

Ballarini subdivide nestes grupos as cartas paulinas: “as duas epístolas dos Tessalonicenses ligadas entre si pela data de composição e a afinidade do conteúdo, as quatro grandes cartas (1 e 2 Coríntios, Gálatas e Romanos), as quatro da prisão (Filipenses, Colossenses, Filêmon, Efésios), as Pastorais (1 e 2 Timóteo, Tito). E fora de qualquer grupo se coloca a epístola aos Hebreus”. O mesmo se diga das Cartas de São Pedro, nas quais se pinça a orientação clara deste apóstolo. Como foi dito há necessidade de um estudo criterioso da Bíblia e, em hipótese alguma, há falsidade ideológica. Adite-se que a Bíblia é uma revelação de Deus e, portanto, só tem valor para quem tem fé. A Bíblia relata exatíssimamente a mensagem divina e esta chegou até os dias de hoje em toda sua prístina pureza, apesar das peripécias pelas quais passou a redação do texto que conhecemos.

Professor no Seminário de Mariana - MG

MENSAGEM DO DIA


O Senhor é meu pastor, nada me faltará.
Em verdes prados ele me faz repousar. Conduz-me junto às águas refrescantes, restaura as forças de minha alma.
Pelos caminhos retos ele me leva, por amor do seu nome.
Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo.
Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo. Preparais para mim a mesa à vista de meus inimigos.
Derramais o perfume sobre minha cabeça, e transborda minha taça.
A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias de minha vida. E habitarei na casa do Senhor por longos dias.

Salmo 22


Palavra do Padre:

Aquele que está com Jesus, ainda que atravesse o “vale escuro”, não tem o que temer.
Por quê? Porque o Senhor é nossa defesa!

Neste sábado, “formiguinha de Jesus” ou “saúva de Jesus”: Evangelize!

Tenha certeza: bênçãos Deus derramará em sua vida!

Paz e bem!

Não esqueça: amanhã é dia do Senhor!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

ETAPAS IMPORTANTES NA EDUCAÇÃO


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O primeiro passo é levar o educando a identificar o que realmente sente. Se é rejeição, fazer aflorar o motivo, indo fundo até mesmo antes de seu nascimento, no período de gestação, e desbloquear aquele obstáculo que pode ser desastroso e que ficou registrado lá no inconsciente. Os próprios pais podem perfeitamente exercer um trabalho psiquiátrico de grande valia ao reconhecerem que erros passados podem ser a causa de distúrbios ou desvios comportamentais dos filhos. O segundo passo é tornar o jovem confiante, analisando suas qualidades inatas. Assim se dirigiu, com rara sabedoria, o Professor Edgard de Vasconcelos a jovens técnicos agrícolas da Escola Superior de Agricultura de Viçosa, nos idos de 1950: “Legião de soberbos combatentes / Armados para o prélio, para a luta, / Como vos vejo, agora, sorridentes, / Nesta expressão de audácia resoluta”! O terceiro passo: é mostrar que se deve viver em compartimentos estanques. Há jovens que vão estudar e estão pensando nos esportes ou em outros afazeres. Na hora do lazer ficam atormentados com a pesquisa escolar a ser feita. Não vivem o momento presente e estão sempre agitados, malbaratando o tempo e executando mal as obrigações. É de bom alvitre lhe dar o mesmo conselho que Sêneca passava a Lucílio: “Dependerás menos do amanhã se fizeres hoje bem feito o que tem de ser feito”. O quarto passo é ter a perspicácia de agir, sabendo que males se cortam pela raiz todos os erros precisam ser logo corrigidos, pois amanhã será tarde demais. Mostrar, deste modo, como reagir na vida e nos estudos, quando surge qualquer obstáculo. Diante do tédio, impaciência, aflição é mudar a maneira de pensar, proclamando que a vida é bela, que é gratificante ser um cidadão prestante, como fazia o mestre Edgard de Vasconcelos:“Porém, no fim de vossa trajetória, /Haveis de ouvir da Pátria os grandes vates / Cantando os vossos hinos de vitória. Diante do medo é aconselhável controlar a imaginação e mostrar que para tudo há soluções, desde que se queira triunfar na vida. É a maravilhosa filosofia do “Eu posso” que deve ser incutida. Poder é uma das palavras mais positivas em todas as línguas, sendo sua irmã gêmea a vontade. Querer e poder conseguem qualquer coisa! Felizes os educandos que possuem pais e mestres que lhes ensinam que podem fazer tudo dentro do limite do possível. Problemas difíceis requerem soluções que nunca faltam aos corajosos. A um jovem temeroso nada melhor do que fazê-lo repetir as palavras de Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). Como são confortadoras as palavras do Salmo 22: “O Senhor é meu Pastor nada me há de faltar”! Diante da mágoa ou do rancor colocar em prática os seguintes versos do douto autor supracitado: “Mostrai que é vão e inútil o rancor / Votado ao seu vizinho, ao seu irmão,/ Que o ódio não dá fruto, não dá flor,/ E que o progresso nasce da união ... / Pregai, por toda parte, esta Verdade,/ Como mesmo ardor com que pregou Jesus / O Evangelho de Amor e de Bondade”. É preciso também, no instante de ira, deixar que o jovem desabafe e reveja a situação, pois, às vezes, o fato que gerou a instabilidade emocional nem aconteceu. Nada como atinar com o que realmente está havendo. Há jovens que vivem fora da realidade e por isto se entregam a sentimentos negativos. Diante da frustração será conveniente reavaliar e planejar com mais eficácia o que está sendo causa de desânimo e ansiedade e não deixar que isto se torne obstáculo, mas aconselhar com o Dr. Edgard de Vasconcelos:“Voltados para as bandas do futuro / Tendo n’alma a luzir uma esperança,/Haveis de navegar, rumo seguro, / Em direção ao porto da Bonança ...” Diante do sentimento de culpa fazer com que o jovem assuma o erro e formule propósitos para o futuro sem remoer o passado. Dizer a eles com o citado poeta pedagogo: “Vede: o Porvir é vosso, a vós se lança / Corrigindo o Passado, negro e escuro,/ Pois fica estacionário, não avança, / Quem tem a tradição de Palinuro...” Espera-se, portanto, que pais e mestres nunca se esqueçam destas normas fundamentais aqui exaradas.

* Professor no Seminário de Mariana de 1964 a 2008.






Última Alteração: 09:21:00

Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Local:Mariana (MG)

DIREITOS HUMANOS CADA VEZ MENOS UNIVERSAIS


Conclui-se hoje a visita do secretário de Estado, Card. Tarcisio Bertone, à Espanha.



O Card. Tarcisio Bertone realizou hoje em Madri, na sede da Conferência Episcopal Espanhola, uma conferência sobre "Os direitos humanos no magistério de Bento XVI", nos 60 anos da "Declaração Universal", aprovada pela ONU em 10 de dezembro de 1948.



O Card. Bertone destacou que "os direitos humanos nascem da cultura européia ocidental, de matriz cristã. Portanto, não se trata de uma casualidade. Esses direitos se baseiam na convicção, herdada do judaísmo, de que o ser humano é imagem de Deus".



Todavia, hoje, passados 60 anos, segundo o cardeal se assiste a uma nova definição radical dos direitos humanos individuais, que, atacados por concepções relativistas, estão se transformando em direitos sempre mais frágeis e sempre menos universais e invioláveis.



Mas – como afirma Bento XVI – os direitos humanos, sendo o primeiro deles o direito à vida, estão inseridos no homem enquanto tal e pertencem, portanto, a todos os seres humanos desde a concepção até a morte natural, e não podem depender nem de decisões de uma maioria, nem das culturas nem das condições de saúde da pessoa.



No respeito do direito de todos, continuou o Card. Bertone, se funda a liberdade, a paz e a justiça no mundo. E se um Estado é incapaz de garantir o respeito desses direitos para a própria população, é necessário que esta responsabilidade seja assumida pela comunidade internacional.



O cardeal falou ainda dos direitos da família, célula fundamental da sociedade, e dos direitos da mulher, que ainda é discriminada por motivos religiosos, culturais e sociais. Outro tema tratado pelo secretário Estado foi a laicidade do Estado e sua relação com a Igreja.



Ele afirmou que não se trata de ingerência indevida quando a Igreja assume uma posição diante de questões morais e sociais que dizem respeito à pessoa e à sua dignidade, tentando, assim, marginalizar a presença cristã na vida civil de um país. "A Igreja não quer privilégios, pede somente o respeito da liberdade religiosa" – reiterou.



Por fim, o secretário de Estado lançou um apelo por uma ação mais solidária para com todos os homens, mulheres e crianças que têm seus direitos fundamentais negados por uma distribuição injusta dos bens da Terra.



Em três dias de visita, o cardeal encontrou o Rei Juan Carlos, o Premiê José Luis Rodríguez Zapatero e o presidente do Partido Popular e líder da oposição, Mariano Rajoy.







Conclui-se hoje a visita do secretário de Estado, Card. Tarcisio Bertone, à Espanha.



O Card. Tarcisio Bertone realizou hoje em Madri, na sede da Conferência Episcopal Espanhola, uma conferência sobre "Os direitos humanos no magistério de Bento XVI", nos 60 anos da "Declaração Universal", aprovada pela ONU em 10 de dezembro de 1948.



O Card. Bertone destacou que "os direitos humanos nascem da cultura européia ocidental, de matriz cristã. Portanto, não se trata de uma casualidade. Esses direitos se baseiam na convicção, herdada do judaísmo, de que o ser humano é imagem de Deus".



Todavia, hoje, passados 60 anos, segundo o cardeal se assiste a uma nova definição radical dos direitos humanos individuais, que, atacados por concepções relativistas, estão se transformando em direitos sempre mais frágeis e sempre menos universais e invioláveis.



Mas – como afirma Bento XVI – os direitos humanos, sendo o primeiro deles o direito à vida, estão inseridos no homem enquanto tal e pertencem, portanto, a todos os seres humanos desde a concepção até a morte natural, e não podem depender nem de decisões de uma maioria, nem das culturas nem das condições de saúde da pessoa.



No respeito do direito de todos, continuou o Card. Bertone, se funda a liberdade, a paz e a justiça no mundo. E se um Estado é incapaz de garantir o respeito desses direitos para a própria população, é necessário que esta responsabilidade seja assumida pela comunidade internacional.



O cardeal falou ainda dos direitos da família, célula fundamental da sociedade, e dos direitos da mulher, que ainda é discriminada por motivos religiosos, culturais e sociais. Outro tema tratado pelo secretário Estado foi a laicidade do Estado e sua relação com a Igreja.



Ele afirmou que não se trata de ingerência indevida quando a Igreja assume uma posição diante de questões morais e sociais que dizem respeito à pessoa e à sua dignidade, tentando, assim, marginalizar a presença cristã na vida civil de um país. "A Igreja não quer privilégios, pede somente o respeito da liberdade religiosa" – reiterou.



Por fim, o secretário de Estado lançou um apelo por uma ação mais solidária para com todos os homens, mulheres e crianças que têm seus direitos fundamentais negados por uma distribuição injusta dos bens da Terra.



Em três dias de visita, o cardeal encontrou o Rei Juan Carlos, o Premiê José Luis Rodríguez Zapatero e o presidente do Partido Popular e líder da oposição, Mariano Rajoy.






Última Alteração: 15:01:00

Fonte: CNBB
Local:Madri (Espanha)

MENSAGEIROS DA PAZ


Melhor ainda: Os que promovem a paz ( Mt 5,9 )
Não se trata apenas de ser tranqüilo e pacífico por temperamento.
Trata-se de atitude dinâmica: Promover a Paz.
Seria um pouco aquilo que cantamos:
“Onde houver ódio, que eu leve o amor”.
Procurar os caminhos para criar relações de paz entre os homens.
Não atirar mais lenha onde estiver ardendo o fogo do ódio, dos ressentimentos.
Procurar, em vez disso, ajudar a superar os problemas
que impedem a paz, como seriam a injustiça,
os mal-entendidos, as suspeitas.
Na palavra de Jesus adquire nova força a proclamação de Isaías:
“Como são belos os passos dos que transpõem as montanhas
para anunciar a paz (Is 52,7).

HOMENAGEM AO "PROFÉTA DA PAZ", NO CENTENARIO DE SEU NASCIMENTO.


Uma das grandes personalidades do século XX, homem de Deus, que tinha uma visão singular sobre o povo pobre brasileiro”. É assim que o arcebispo de Manaus (AM) e vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Luiz Soares Vieira define dom Helder Câmara, que faria cem anos no dia 7 de fevereiro, se estivesse vivo. O arcebispo faleceu em 27 de agosto de 1999.



“Eu o conheci em 1984, quando me tornei bispo. Dom Helder era um profeta que falava empolgadamente, não dizia palavras de um intelectual, mas você percebia que era algo profundo, de alguém que tinha intimidade com Deus”, conta emocionado o arcebispo de Manaus. “Lembro-me de quando ele se hospedava em minha casa, por volta de 4h da manhã lá estava ele fazendo suas orações. Foi realmente um homem de oração, austero, de uma intelectualidade muito profunda”, sublinha dom Luiz.



O arcebispo de Manaus fala de dom Helder emocionado e relata que, quando vivo, o arcebispo de Olinda e Recife (PE) sempre foi um homem de coragem e de convicções fortes que “enfrentou e apontou caminhos para o Brasil”. Se perguntado sobre uma frase que resumiria dom Helder, logo o vice-presidente da CNBB responde: “Um profeta, homem que viu o mundo com os olhos de Deus”.



Para o arcebispo de Manaus, dom Helder realizou três grandes projetos na Igreja, “Ele foi totalmente comprometido com a Igreja, a serviço do povo pobre; da colegialidade episcopal, pois foi ele quem fundou a CNBB; e com o seu profetismo”. Dom Luiz, ao falar sobre o “Profeta da Paz”, como ficou conhecido dom Helder Câmara por seus trabalhos a serviço da justiça e de causas sociais, afirma que não o conheceu em seu “vigor de seu trabalho pastoral”, embora tenha conhecido um homem que tinha a essência de Deus na maturidade.



Apesar de dom Helder ter sido um bispo bastante querido no Brasil e no exterior, dom Luiz revela que havia pessoas que não aceitavam suas ideias: “Eu conheci pessoas extremamente contrárias a dom Helder e seus ideais. Elas não suportavam as ideias dele, mas, quando o conheciam pessoalmente se encantavam com seu modo de falar, seu carisma e até paravam para ouvi-lo. Creio que isso ocorria porque ele tinha uma fé profunda, que vinha do coração”. O arcebispo destaca ainda que “dom Helder é um modelo que a história da humanidade precisa conservar. Sua história e sua memória fazem ponte com a história do Brasil”.



Questionado sobre os trabalhos que dom Helder mais se preocupou em desenvolver, dom Luiz não hesita em dizer: “Seus escritos são espetaculares; sua eloquência é fabulosa, foi um homem de muita fé que vinha de uma espiritualidade que preservava um amor a Deus e ao próximo. Enfim, ele foi alguém que acreditou numa causa e lutou por ela até o fim”.



Dom Hélder Câmara nasceu em Fortaleza (CE) em 7 de fevereiro de 1909. Foi ordenado bispo, aos 43 anos de idade, no dia 20 de abril de 1952, pelas mãos de dom Jaime Cardeal de Barros Câmara, dom Rosalvo Costa Rego e dom Jorge Marcos de Oliveira, e nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro no dia 3 de março de 1952. Em 12 de março de 1964 foi designado para ser arcebispo de Olinda e Recife (PE). Dom Helder ficou conhecido no mundo por suas pregações em favor de uma Igreja simples voltada para os pobres e a não-violência. Por sua atuação, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais. Foi o único brasileiro indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz.



Comemorações
Amanhã a Câmara dos Deputados vai realizar sessão solene em homenagem ao centenário de nascimento de dom Helder Câmara, no plenário Ulisses Guimarães, às 15h. No sábado, 7, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Lyrio Rocha, preside missa solene em Recife (PE). A missa acontece às 16h, em frente à Igreja das Fronteiras, e será concelebrada por dezenas de bispos e padres, com a presença de fiéis.



Os Correios lançarão um selo que homenageia o centenário do arcebispo. O estampilho foi criado pela artista, Silvania Branco, por meio de um concurso dos Correios, ela venceu ao retratar a imagem do bispo, a silhueta da Igreja das Fronteiras ao fundo e dos pobres que sempre estavam por ali esperando a palavra e a ajuda do “bispo da justiça”.



Ainda no sábado, 7, as igrejas de Olinda e Recife tocarão seus sinos às 6h, 12h e 18h para homenagear dom Helder, e logo após a missa, será inaugurada no pátio das fronteiras, uma escultura do bispo.



Os eventos do centenário são organizados pelo Regional Nordeste 2 (Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Pernambuco) da CNBB, Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), arquidiocese de Olinda e Recife, Instituto



Dom Helder Câmara (IDHEC), Governo do estado e Prefeitura do Recife, além de outras entidades.
Países como Alemanha, França e Canadá também prestam suas homenagens ao centenário de dom Helder. Na Alemanha, os tributos são coordenados pela Adveniat; na França, quem assume a organização é a Associação Dom Helder – Memória e Atualidade. No Canadá, por sua vez, o clero local é o responsável pelas homenagens.








Última Alteração: 14:20:00

Fonte: CNBB
Local:Manaus (AM

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

DEUS NÃO NOS DEIXA SOZINHOS


A vida é uma grande emoção. Na vida, eu aprendi que existem caminhos mais curtos e mais longos, mas não existe caminho nenhum que não leve a Deus, ele está em todos os caminhos da sua vida.

Talvez você ache que está no pior caminho, o pior que já escolheu. Talvez você ache que alguns caminhos por onde você andou foram os piores, mas eu lhe digo: Deus não lhe deixou sozinho em nenhum deles, ele nunca abandona. O que ele quer fazer é tirar de você essa baixa auto-estima, que faz com que você não ame a si mesmo por ter escolhido um caminho mais longo.

Deus não deixou de lhe amar um segundo na vida, em nenhum momento. Em qualquer lugar por onde você tenha andado Deus lhe amou até aqui e lhe ama daqui em diante. Mas a gente tem mania de se condenar, de achar que escolheu errado, que não fez o melhor. Na verdade, nós tentamos fazer o melhor, mas tentar, às vezes, não é conseguir. Nós somos humanos e é por isso que Deus se entregou na cruz por nós. Se fôssemos perfeitos, ele não precisaria morrer por nós. Se nós não escolhêssemos caminhos mais longos, ele não teria precisado encurtar o caminho numa cruz. Se ele não soubesse que nós seríamos capazes de errar todos os dias, ele não morreria por nossos pecados.Ele morreria pela ignorância, por qualquer outra coisa, menos pelo pecado.

Se você pecou. Se um dia você errou o caminho, a culpa não é sua, porque Deus morreu pelos pecados. Ou a morte de Deus é em vão ou você é um injusto com você mesmo. Você não precisa, nunca mais, carregar um peso que não é seu. Você não precisa carregar uma opção que você não escolheu a melhor um dia.

Daqui em diante, Deus quer fazer uma história nova com você. Saiba que, em qualquer opção da sua vida, ele vai lhe amar. E se você não escolheu o melhor caminho, a misericórdia dele vai ser tão grande que vai abrir os seus olhos rapidamente, para que você enxergue a melhor opção: se é voltar por outro caminho ou sair rápido desse daqui.

Eu peço a Deus que restaure o coração dessa Igreja, que tire o peso do pecado que carregamos, que nos dê o prazer de sentir a redenção que é nossa. Que possamos tomar posse da cura que recebemos na cruz. Deus está aqui para transformar tudo isso que foi passado de dor em futuro de amor.

O nosso presente é feito de futuro e passado, somos nós que decidimos o quanto de cada um faz parte de nossas vidas. Deus propões que a gente diminua a carga de passado no nosso presente e aumente a dose de esperança do nosso futuro.

Te pedimos, Senhor: olha por esse povo e cura esses corações.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

GLOBALIZAÇÃO, RELIGIÕES E IGREJA.


1. Que há por trás do ataque à "Paixão de Cristo"?

1.1 Os ataques – inconsistentes – alegavam protestar contra o anti-semitismo e a violência do filme:
– O anti-semitismo: na realidade, o que havia na crítica era a tentativa, já antiga, de pôr um véu à História, de toldar a Verdade, e dizer que tudo fizeram os romanos. Todo o Evangelho e toda a História desmentem essa falsificação dos fatos;

– A violência: a que aparece no filme é até menor do que a que descrevem fontes pagãs anteriores, contemporâneas e posteriores a Cristo (Cícero, Tácito, etc.) sobre os tormentos da flagelação, a crucifixão, etc. Já foi dito e repetido que ninguém reclama de inúmeros filmes dez vezes mais violentos que esse Leiam-se, por exemplo, as Vidas de Cristo de Fillion e Ricciotti.

1. 2 Esses são os pretextos, os "motivos aparentes" da rejeição do filme, os disfarces hipócritas do ódio inegável, desencadeado no mundo contra o filme de Mel Gibson.

Chega-se ao extremo do ridículo e do sectarismo, por ex., no caso da Folha de S. Paulo, que deu ao filme a qualificação de uma só estrela (sobre cinco)! O público, consultado pelo mesmo jornal, deu-lhe quatro estrelas (contando a média entre os que gostaram e os que o denegriram). Na realidade, os autênticos críticos, especialistas em cinema, falaram todos do filme como de uma obra prima, um filme antológico, quer pela categoria da filmagem, quer pela representação dos atores, o primor da montagem, da música, de plástica, etc; em suma e sem exagero, um dos filmes de maior categoria cinematográfica de todos os tempos.

1. 3 Pois bem, perante isso tudo, surge a grande questão. Por que esse sectarismo, por que esse ódio e essa mentira apaixonados? Não é nem por motivos de repúdio de um inexistente anti-semitismo nem de repúdio da violência (não nos cansaríamos de repetir que a mídia serve-nos violência diária em fotos de jornais e revistas ou em reportagens ou programas televisivos, que revolvem o estômago, ...e tudo em nome da "objetividade", do jornalismo-verdade, do dever de cingir-se aos fatos).

Eis o autêntico PORQUÊ, de que ninguém fala: – O filme apresenta a verdade da Paixão e Morte de Cristo: Foi ele que tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou com as nossas dores [as que nós devíamos padecer!]; e nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado. Mas por nossas iniqüidades é que foi ferido, por nossos pecados é que foi torturado. O castigo que nos havia de trazer a paz caiu sobre ele, e por suas chagas fomos curados (Is 53, 4-5). O fato de – desde que filme se inicia – pôr em primeiro plano a realidade do pecado – a sua gravidade e as suas conseqüências – , e a necessidade da Salvação, a clareza com que se patenteia o sentido expiatório e redentor da Morte de Cristo, tudo isso é algo que arrepia os ânimos do hedonista pós-moderno, para quem o pecado não existe, "não pode existir", não faz sentido, pois somos absolutamente livres, de modo que tudo é lícito – "é proibido proibir" –, dentro do equilíbrio de egoísmos concertados, ou seja, desde que dê prazer a qualquer custo e por qualquer meio, sempre que não incomode o mesmo tipo de prazeres do vizinho (ainda que, para isso, seja preciso matar milhões de inocentes que não se podem defender!)

Mas o que ninguém que conheça a Sagrada Escritura pode negar, a não ser mentindo descaradamente [ou seja, "ideologicamente!"], é que o Novo Testamento revela sem ambigüidades, com evidências incontestáveis, é que Cristo morreu pelos nossos pecados. É uma verdade da fé cristã que São Paulo considerava tão básica, tão fundamental, que dizia aos de Corinto: Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu pelos nossos pecados... (1 Cor 15,1).

É inegável. Esta verdade é proclamada constantemente no Novo Testamento, desde o cap. 1º de São Mateus (o Anjo a José: Ela dará a luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados: Mt 1, 21), até o Apocalipse (Jesus Cristo..., aquele que nos ama, que nos lavou dos nossos pecados no seu sangue: Apoc 1, 5), passando pelo testemunho do Batista (Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo: Jo 1, 29) e pelo testemunho reiterado do próprio Cristo (o Filho do homem veio... dar a sua vida em resgate por uma multidão: Mt 20, 28; Isto é o meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados: Mt 26,28); é uma verdade que perpassa, com inúmeras referências, os Atos e todas as Epístolas, até o máximo aprofundamento na Carta aos Hebreus [que os "exegetas" deveriam lembrar que é texto inspirado, "Palavra de Deus", e não "elaboração teológica" – como alguns gostam de dizer, para virar a folha – meramente circunstancial ou humana]. Portanto, negar essa verdade primária, básica, sabida e crida desde sempre pela Igreja, por todos os cristãos, ao longo de dois mil anos, e atestada sem cessar por toda a Tradição e o Magistério, equivale a negar a fé cristã, a apostatar da fé cristã. Aqui não cabem interpretações válidas que anulem esse sentido ou o mitiguem. Neste mesmo sentido, dá muita pena a exasperação que produziu a Encíclica "Ecclesia de Eucharistia", entre alguns "teólogos" e "pastores", porque realça a essência da Missa como re-apresentação incruenta do sacrifício expiatório de Cristo.

1.4 Eis, pois, o que o mundo não pode suportar, e o que bom número de cristãos que dobram diariamente o joelho diante do Baal-do-mundo preferem esquecer. Prestando seu tributo servil ao mundanismo atual, desejam apagar as verdades da fé e da moral cristã, e reinterpretá-las com ideologias aparentemente "sábias", até as esvaziarem.

1.5 Todos sabemos que as Encíclicas Veritatis Splendor e Evangelium Vitae, a Exortação Apostólica Reconciliatio et Paenitentia, a Instrução Donum Vitae, o Catecismo da Igreja Católica, na sua Terceira Parte, etc, revelam a grande preocupação de João Paulo II por defender a verdade da lei divina natural e da lei evangélica, em matéria moral, em todo o seu esplendor, grandeza e beleza, pois dessa "verdade sobre o homem", inseparável da "verdade sobre Deus", depende – sem exagero algum – o bem presente e futuro da humanidade.

1.6 Essa preocupação do Papa, que deve ser também a nossa, prende-se ultimamente, com especial força a uma questão que envolve doutrina – difusão de erros doutrinais – , mas sobretudo envolve uma questão de fato, um fato que representa um autêntico perigo para o mundo e para a Igreja: trata-se de uma campanha mundial, poderosíssima, dirigida especificamente contra a verdade moral natural e cristã e, a fim de atingi-la melhor, contra a fé católica . Vamos começar por essa campanha, e perceberemos que não estamos caindo ingenuamente em nenhuma "teoria da conspiração" um tanto neurótica e obsessiva, mas simplesmente abrindo os olhos a uma realidade palpável.

2. O globalismo e a religião

2.1 Até agora, a ONU e os organismos internacionais só se referiam à religião para falar do respeito devido ao princípio de liberdade religiosa, que figura como um dos "direitos fundamentais" na Declaração dos Direitos Humanos de 1948. De uns decênios para cá, este ângulo está mudando substancialmente, e a religião passa a ser vista como uma "preocupação", um "perigo", tanto pela a ONU como pelos organismos a ela ligados.

2.2 É interessante conhecer, neste sentido, a conferência pronunciada no ano 2000 pelo Pe. Michel Schooyans, membro da Pontifícia Academia das Ciências Sociais e Consultor do Pontifício Conselho para a Família, como parte de um Colóquio sobre a Globalização, promovido no Vaticano pelo Pontifício Conselho para a Família, de 27 a 29 de novembro de 2000. Um resumo da conferência foi publicado no n. 469 (Junho 2001), págs. 277 a 286, da revista Pergunte e Responderemos (www.osb.org.br).

2.3 O autor denuncia a ONU pelo seu projeto de globalização, que pretende chegar a instaurar, num futuro próximo, um Super-Estado com seu governo mundial e suas leis. Estas, ao invés de seguir os princípios da lei natural (pressupostos tacitamente na Declaração dos Direitos Humanos promulgada pela ONU em 1948), se baseariam exclusivamente na vontade dos legisladores, no simples e mero consenso, sem nenhum princípio moral básico inviolável, que possa servir de fundamento, orientação ou limite. Além do mais, esse Super-Estado teria direito de ingerência em cada nação do mundo, fazendo de tudo para impor as suas novas "normas éticas", pelo sistema de forçar os Estados – alegando exigências e praxe do direito internacional: mediante sanções, ou exercendo coação com ameaças comerciais, etc.– a assinar acordos, a subscrever declarações de princípios, a aceitar "Cartas de princípios" diversas, que sacramentem os novos "valores".

"A globalização – diz o Pe. Schooyans, expondo essa nova posição da ONU – deve ser reinterpretada à luz de uma nova visão do mundo e do lugar do homem no mundo". Essa nova visão apresenta uma perspectiva totalmente materialista do ser humano, que seria apenas "um avatar da evolução da matéria" [o que significa que fica eliminado um Deus Criador, que tenha querido e criado o homem, que lhe tenha dado um sentido e uma finalidade, uma missão na terra, e uma Lei pela qual se guiar para um destino eterno]; a vida humana não passaria de uma conjunção cega de acasos da matéria, que veio a se tornar consciente sobre si mesma e sobre a sua caducidade, pois seria apenas destinada a "desaparecer na Mãe-Terra, de onde nasceu". [prestem atenção: "Terra"="Gaia": uma palavra-chave da nova divindade da New Age]

2.4 Expressão deste pensamento dos que manipulam os cordéis da ONU e de seus organismos é a Carta da Terra, que a ONU vem preparando há tempo (pode ser achada na Internet), com o intuito de que suplante a antiga Declaração dos Direitos do Homem e jogue no cesto do lixo, como obsoleto, o próprio Decálogo, os Dez Mandamentos: "Formaremos uma sociedade global para cuidarmos da Terra e cuidarmos uns dos outros... Precisamos com urgência de uma visão compartilhada a respeito dos valores de base" .Gravem bem que hoje essas pessoas estão mudando radicalmente o sentido da palavra "valor": nenhum "valor" é considerado permanente, "valor" só significaria o que "a maioria valoriza" (vejam a passagem de algo objetivo – um valor ou princípio permanentemente válido – ao puro subjetivismo do que "agora" a maioria deseja, e por isso lhe dá "valor"): se o novo valor é a maconha, será a maconha; se é o aborto, o aborto; se é o casamento homossexual, o casamento homossexual, etc; e, então, seria um "contra-valor" condenável tudo o que se opusesse à mentalidade dominante em certo momento histórico: por exemplo, seria um crime "moral" intolerável valorizar a família, se os novos "valores" a desprezam e substituem pelas uniões mais bizarras. Querem criar, pois, chegando a um acordo de interesses, novos "valores de base", que – como dizem – ofereçam um fundamento ético (?!) à comunidade mundial emergente...".

2.5 Comenta ainda Schooyans que, para alcançar essa visão holística [totalitária] do globalismo, alguns "obstáculos" devem ser aplainados. "As religiões em geral, em primeiro lugar a religião católica, figuram entre os obstáculos que se devem neutralizar". Com este objetivo, em setembro de 2000 foi organizada a Cúpula de líderes espirituais e religiosos, a fim de lançar a "Iniciativa Unida das Religiões", fortemente influenciada pela New Age, e que visa, em último termo, a criação de uma nova religião mundial única, o que implicaria imediatamente a proibição de que qualquer outra religião fosse missionária, fizesse proselitismo. (Poucos sabem que foi por ocasião dessa reunião que a Congregação para a Doutrina da Fé publicou a Instrução Dominus Iesus: e é significativo que os mesmos "teólogos" que aderiram há anos de corpo e alma ao marxismo, quando o comunismo estava na crista histórica da onda, agora estejam aderindo à New Age e a toda essa mentalidade de pseudoecumenismo nebuloso e antidogmático, crivando de críticas ásperas o Papa, o Card. Ratzinger, etc., por ter publicado esse documento).

2.6. Ainda em 2000, Kofi Annan propugnava um Pacto Mundial ("Global Compact"), que angariaria o apoio moral e financeiro de entidades privadas (já o recebeu da Shell, CNN, Bill Gates, etc.). Tudo isso se encaminha para desativar e substituir a Declaração de 1948. Em 1948 desejava-se que a ordem mundial se fundasse sobre verdades, sobre princípios indiscutíveis, reconhecidos por todos e promovidos pelas legislações dos estados (na realidade, eram os princípios básicos imutáveis da lei natural); agora – como já víamos – só se fala em valores, absolutamente relativos, e dominados pelo egoísmo de um mundo agnóstico, relativista e hedonista.

2.7 Segundo essa nova visão da ONU, "o homem – comenta Schooyans – , por ser pura matéria, é definitivamente incapaz de dizer seja lá o que for de verdadeiro sobre ele mesmo ou sobre o sentido da vida. Fica, assim, reduzido ao agnosticismo de princípios, ao ceticismo e ao relativismo moral. Os porquês não tem sentido; só importam os como". O que "se pode fazer" em matéria ética ("posso", "não posso"), sempre significou o que era lícito ou não perante a lei de Deus, perante os princípios morais intocáveis; agora, pelo contrário, quer dizer "o que se pode fazer tecnicamente" (p.e., clonar, manipular embriões humanos para obter soluções para terceiros, abortar filhos que exigiriam sacrifício dos pais, etc.), ou seja, que se "podem fazer" as maiores aberrações, porque "já há técnica" para isso, bastando para cohonestar essas aberrações que se consiga o consenso dos que manipulam como proprietários – pelo poder da mídia, da política e, sobretuso, do dinheiro – os organismos internacionais e a opinião pública.
Dentro dessa visão, é natural que se propugne que, de agora em diante, os direitos do homem sejam apenas o resultado de procedimentos consensuais. Não sendo capazes de verdades, devemos só entrar em acordos e decidir. Será justo o que for aprovado por maioria. Esses procedimentos consensuais serão, logicamente, mutáveis, poderão ser mudados e redefinidos ilimitadamente. Daqui em diante, qualquer coisa poderá ser apresentada [e imposta, até coercitivamente, como exigência do direito internacional] como "novo direito" do homem: direito a uniões sexuais diversas, ao repúdio, aos lares monoparentais, à eutanásia, ao infanticídio, à eliminação dos deficientes físicos, às manipulações genéticas com fetos ou inválidos, etc. Estamos presenciando a tentativa de fazer triunfar a "vontade de poder" de Nietzsche; e parece que ninguém repara que essa multidão "neo-liberal" e "iluminista" [que faz "paradas" enormes] tem como "precursor" – eu diria, já, como "padroeiro", nada menos que Adolf Hitler.

2.8 Nas assembléias internacionais, os funcionários da ONU tudo fazem para chegar ao "consenso" que já foi definido previamente por eles nos documentos preparatórios. Uma vez conseguido esse consenso (mesmo que seja, como já aconteceu mais de uma vez, "modificando" depois nos gabinetes as conclusões aprovadas), ele é invocado para fazer com que se adotem convenções internacionais, que deverão adquirir força de lei nos Estados que as ratifiquem (e se não o fazem, serão mal vistos na comunidade internacional, além de sofrer as sanções de que falávamos). Todos, indivíduos ou Estados, deverão obedecer à norma fundamental surgida da vontade daqueles que definem o direito internacional. Esse direito internacional puramente positivo, livre de toda a referência à Declaração de 1948, será (já está sendo) o instrumento utilizado pela ONU para impor ao mundo a visão da globalização que lhe permita colocar-se como Super-Estado". É parente que por esse caminho já está andando a União Européia. Assim, a própria ONU "entronizaria o pensamento único, holístico" (uma autêntica ditadura ideológica, que eliminaria o pluralismo e a tão badalada tolerância dos neo-liberais..., e qualificaria de "intolerantes inaceitáveis", que devem ser banidos da vida publica – como já está acontecendo – os que, simplesmente, tivessem convicções diferentes dos "valores" deles). Este é o resumo, glosado, do artigo de Schooyans.

Depois disso, por favor, caros seminaristas, não leiam superficialmente as notícias, artigos, editoriais e ensaios de jornais e revistas, e as opiniões de filósofos, sociólogos ou teólogos "holísticos" sobre problemas éticos de candente atualidade. A partir de agora, prestem mais atenção ao noticiário internacional, às referências a congressos vinculados à ONU, a algumas declarações ou documentos muito badalados de organismos internacionais, etc. Vocês vão começar a "ver", surpreendidos, muitas coisas que antes não percebiam, e vão calibrar a carga destrutiva da fé e da moral cristã que idéias ou programas aparentemente inocentes e até poéticos (temas ecológicos, p.e.) carregam muitas vezes no seu bojo.


3. A coragem e a fidelidade do Magistério autêntico da Igreja


3.1 Lembremo-nos de que essa problemática moral – com idéias relativistas análogas às que acabamos de considerar – já existia nos tempos da crise do pós-Concílio, e que explodiu após a Humanae Vitae, com o bombardeio de críticas e revisões de teólogos inconformados, e continua a ser pensamento dominante em muitos ambientes eclesiásticos (unido ao falso ecumenismo, às tentativas de acabar com o verdadeiro sentido das "Missões", à revolução "permanente" da teologia moral, à visão relativista e historicista do mundo e da Igreja próprias da teologia da libertação, às novas escolas de teologia moral, como o conseqüencialismo, o proporcionalismo, a doutrina da opção fundamental, etc.).

3.2 À vista dessa realidade, ganha especial relevo o esforço ingente, lúcido e corajoso, do Santo Padre e dos seus colaboradores mais fiéis, por defender, aprofundar, insistir, expor com a máxima clareza as verdades da fé e da moral cristã, ainda que suscitem críticas, ódios e hostilidades nos ambientes laicistas e em muitos ambientes eclesiásticos.

3.3 Mas o Sucessor de Pedro não pode fechar os olhos para uma realidade: o relativismo, o subjetivismo e, em boa parte o hedonismo, passaram a dominar amplos setores da teologia moral católica (que de católica já só prece conservar o nome), e faz anos que estão causando enorme desorientação e dano moral e espiritual no clero – mal formado – e nos fiéis.

3.4 Não é possível, nesta palestra – que já está longa demais – deter-nos no estudo detalhado desta problemática, que é abordada em profundidade na Parte III do Catecismo da Igreja Católica e, especialmente, nas Encíclicas Veritatis Splendor e Evangelium Vitae. Baste, por ora, frisar a valente insistência do Magistério pontifício no tema dos atos "intrinsecamente maus", que nenhuma finalidade boa, nenhum "teleologismo", nenhum cálculo de valores positivos e negativos, feito nos parâmetros do "proporcionalismo" e do "conseqüencialismo" ou da "opção fundamental" podem justificar e tornar bons ou moralmente inócuos.
"Os preceitos morais negativos (da Lei de Deus) – lemos na Encíclica Evangelium Vitae, n. 75 –, isto é, aqueles que declaram moralmente inaceitável a escolha de determinada ação, têm um valor absoluto para a liberdade humana: valem sempre e em todas as circunstâncias sem exceção. Indicam que a escolha de determinado comportamento é radicalmente incompatível com o amor de Deus e com a dignidade da pessoa humana, criada à sua imagem [...]". “Já neste sentido, os preceitos morais negativos têm uma função positiva importantíssima: o «não» que exigem incondicionalmente aponta o limite intransponível abaixo do qual o homem livre não pode descer, e simultaneamente indica o mínimo que ele deve respeitar e do qual deve partir para pronunciar inumeráveis «sins», capazes de cobrir progressivamente todo o horizonte do bem, em cada um dos seus âmbitos”.

3.5 Há atos que a tradição da Igreja chama "intrinsecamente maus", que,como diz também a Veritatis Splendor (n. 80), "são maus sempre e por si mesmos, ou seja, pelo próprio objeto, independentemente das posteriores intenções de quem age e das circunstâncias". A Encíclica cita, a seguir, o Concílio Vaticano II que, na Gaudium et spes (n. 27) exemplifica, e fala que são atos desse tipo "tudo quanto se opõe à vida , como seja toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana... ; as condições degradantes de trabalho... Todas estas coisas ofendem gravemente o Criador".

3.6 A moral proporcionalista, conseqüencialista, de atitudes, de opção fundamental, etc, admite que muitos desses atos possam ser lícitos num contexto determinado, em que – no balanço de "bens" – prevaleçam valores julgados superiores (quase sempre com critérios racionais apenas técnicos, utilitarista e humano, não sobrenaturais). Isto, por mais sutis e complicados que sejam esses autores ao defender-se das críticas, é a porta escancarada ao relativismo total, e não estranha que leve a posições análogas, se não iguais, às posições dos organismos materialistas da ONU de que acima falávamos. Sem pretendê-lo (é preciso pensar assim), esses teólogos e professores de seminário se alinham nas mesmas fileiras dos que se propõem acabar com a Igreja Católica.

3.7 Por isso, impõe-se, como um dever grave, aos seminaristas e aos padres (e, logicamente, aos bispos, aos teólogos, aos reitores e professores de seminários, etc.) procurar os fundamentos e as respostas às questões morais contemporâneas nas fontes da Verdade, e concretamente:

3.8 A) na Sagrada Escritura, especialmente no Novo Testamento, tendo presentes as palavras claríssimas de Cristo: "Não penseis que vim revogar a lei e os profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento" (Mt 5, 17). Não é por acaso que, tanto o Catecismo da Igreja, como a Veritatis Splendor, para focalizar a Moral com ótica plenamente cristã, tomem como ponto de partida o diálogo de Cristo com o jovem rico: – "Que devo fazer de bom para alcançar a vida eterna?". E a resposta de Cristo: "...se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos". – "Quais?" . A resposta imediata de Jesus é uma remissão aos Dez Mandamentos, válidos em toda a época e em todo o lugar – "Não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe; e ainda, amarás a teu próximo como a ti mesmo" (Mt 19, 16 ss).

Esse ensinamento, taxativo e básico – a primeira exigência moral que Cristo indica (pois o cume é a caridade) – , prova que outras palavras de Cristo e dos Apóstolos sobre pecados diretamente relacionados com os Dez Mandamentos não são circunstanciais, nem "pré-morais", nem relativas a uma determinada cultura, a um ambiente histórico ou a uma mentalidade de outras eras, mas verdades permanentes, que exprimem a Vontade de Deus, que é o bem e a salvação do homem.

Exemplos: "O que sai do homem, é isso que o torna impuro. Com efeito, é de dentro, do coração dos homens, que saem as intenções malignas: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades, fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, insensatez. Todas essas coisas saem de dentro do homem e o tornam impuro" (Mc 7, 21-23).

 "Não vos iludais: nem os impudicos [excelentes exegetas incluem entre esses pecados a masturbação], nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os depravados, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os injuriosos possuirão o Reino de Deus" (1 Cor 6, 9-10).

 Ver também, Rom 1, 24-32, talvez as palavras mais enérgicas e fortes do Novo Testamento sobre a Moral.

É natural que, de acordo com a Revelação divina, a Igreja (fiel ao Evangelho, e imunizada pelo Espírito Santo contra a falsidade das ideologias), diga, no n. 1968 do Catecismo da Igreja Católica: "A Lei evangélica dá pleno cumprimento aos mandamentos da Lei. O Sermão do Senhor [Sermão da montanha], longe de abolir ou desvalorizar as prescrições morais da Lei Antiga, delas haure virtualidades ocultas, faz surgir novas exigências e revela sua verdade divina e humana".

3.10 Em suma, depois dessas considerações, parece-me que vale a pena que gravemos na nossa alma a imensa responsabilidade que os seminaristas (e os sacerdotes, na sua formação permanente) têm – temos – de aprofundar incansavelmente nos ensinamentos do Magistério autêntico e universal da Igreja. Num mundo confuso, em que parece dominar cada vez mais o "Pai da mentira" (releia-se Jo 8, 44 ss.), numa época histórica em que são tão extensos os âmbitos eclesiais confusos, desgarrados da comunhão doutrinal com a Cabeça visível da Igreja e difusores de erros; num mundo, enfim, materializado e doente de hedonismo e consumismo, em que é tão fácil "dobrar o joelho diante de Baal" (da opinião pública, das ideologias e "valores" da moda, dos erros "prestigiados" pela mídia), os que têm o privilégio divino de serem chamados para servir como "instrumentos vivos" a Cristo e à Igreja, sendo "luz do mundo" e espelho do Evangelho, têm que se esforçar (heroicamente, se for preciso) para manter um estudo contínuo, cada vez mais profundo, da Verdade, bebendo-a abundantemente nas suas fontes limpas, garantidas pela chancela do Magistério autêntico e universal, e, por isso, pelo "selo de garantia" do Espírito Santo. Convençamo-nos de que disso, sem exagero, depende em boa parte o bem do mundo, o bem futuro da Igreja e da humanidade.

A SOMBRA DO PECADO E DO AMOR


O amor de Cristo supera o mal de todos os pecados



É evidente que o mal, a realidade do pecado, se estende como uma sombra maléfica sobre todas as manifestações da vida humana e, com demasiada freqüência, parece ganhar terreno sobre o bem. É assim desde que o pecado foi introduzido no mundo, no primeiro capítulo da nossa história, pelo orgulho egoísta do homem, instigado pelo Maligno (Gên 3,1 ss).

Basta abrirmos os olhos para ver a sombra do pecado penetrando, em primeiro lugar, nos corações dos homens, dos quais –como dizia Jesus – sai tudo (Mat 15,18): maus pensamentos, maus juízos, ódio, orgulho, vaidade, inveja, ambição, cobiça, cinismo, incredulidade, desprezo da verdade e do bem, menosprezo dos pequeninos...

A sombra do pecado penetra também nas famílias: orgulho, egoísmo, impaciência e agressividade, discussões, maus tratos, infidelidade, indiferença, incompreensão e teimosia que –repetindo-se dia-a-dia e gota-a-gota – acabam por constituir uma verdadeira tortura moral...

A sombra do pecado penetra igualmente na vida profissional e social: injustiça nas relações de trabalho e nas comerciais, exploração iníqua, mentira, trapaça, corrupção, competitividade desleal, falta de palavra, desrespeito pelo ser humano, racismo, discriminações, falta de solidariedade e de caridade, falta de responsabilidade, desonestidade na gestão da coisa pública, interesses mesquinhos espezinhando o interesse do povo... E o avanço agressivo, potencializado pela mídia e a propaganda, das três ondas avassaladoras da pornografia, a droga e a violência, que arrasam a vida e o amor. E, nos cumes do mal, o crime que, nos séculos futuros, virá a ser o horror inacreditável da nossa modernidade (como o são, para nós, os campos de concentração nazistas e os gulag soviéticos): o assassinato em massa –com o sorriso cínico nos lábios e a indiferença na alma – de milhões de bebês inocentes, com a proteção da lei ou, pelo menos, do lobby das ativistas pro choice. Todos os meninos inocentes que, após o nascimento de Cristo, foram degolados por Herodes não chegam a ser nem metade do número de bebês trucidados, esquartejados num só dia em muitas clínicas de aborto...

Passam-se os séculos, revezam-se os milênios, e as ideologias e sistemas que se sucedem não fazem mais que evidenciar que o homem é incapaz de erradicar o mal do homem. O homem é incapaz de salvar-se, de libertar-se sozinho do mal primordial, raiz de todos os males: o pecado.

Só o Amor de Deus pode salvar-nos. Só o Amor de Deus realizou, com o sacrifício da Cruz, a nossa salvação.

“Cristo –escreve João Paulo II- vai ao encontro da sua Paixão e Morte com plena consciência da missão que deve realizar exatamente desse modo. É por meio deste seu sofrimento que Ele tem que fazer com que «o homem não pereça, mas tenha a vida eterna». É precisamente por meio da sua Cruz que Ele deve atingir as raízes do mal, que se embrenham na história do homem e nas almas humanas. Ë precisamente por meio da Cruz que Ele deve realizar a obra da salvação. Esta obra, no desígnio do amor eterno, tem um caráter redentor”.

Lançando mais uma luz sobre o sentido do sacrifício de Cristo na Cruz, o Papa acrescenta: “Com o seu sofrimento, os pecados são cancelados precisamente porque só Ele, como Filho Unigênito, podia tomá-los sobre si, assumi-los com aquele amor para com o Pai que supera o mal de todos os pecados; num certo sentido, ele aniquila este mal, no plano espiritual das relações entre Deus e a humanidade, e enche o espaço assim criado com o bem” (Carta Apostólica Salvifici doloris, 11-02-1984, n. 16).

PLURALISMO E LIBERDADE RELIGIOSA


1.1 O pluralismo religioso é um fato, na sociedade atual. No âmbito dos países democráticos, caracterizados pelo Estado de direito, pelo respeito pelos direitos humanos e pelo sufrágio universal, os cidadãos das mais diversas confissões religiosas devem conviver, trabalhar e cooperar juntos para o bem comum.

1.2 A liberdade religiosa e o respeito ao pluralismo em matéria de crenças e práticas religiosas, são considerados nas sociedades democráticas como “direitos fundamentais” invioláveis, que devem ser reconhecidos na legislação e respeitados por todos os cidadãos.

1.3 Todas as confissões religiosas (desde que não atentem contra a ordem pública) gozam da liberdade reconhecida pela Declaração dos Direitos Humanos da ONU, de 10.12.1948, art. 2, 1: "toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Esse direito inclui [...] o direito de manifestar a sua religião ou crença, individual ou coletivamente, tanto em público como em privado, por meio do ensino, a prática, o culto, etc.".

1.4 A Igreja, no Concílio Vaticano II, afirmou também o direito à liberdade religiosa, nos seguintes termos: “Este Sínodo Vaticano declara que a pessoa humana tem direito à liberdade religiosa. Consiste tal liberdade no seguinte: os homens todos devem ser imunes da coação tanto por parte de pessoas particulares quanto de grupos sociais e de qualquer poder humano, de tal sorte que em assuntos religiosos ninguém seja obrigado a agir contra a própria consciência, nem se impeça de agir de acordo com ela, em particular e em público, só ou associado a outrem, dentro dos devidos limites. Além disso, declara que o direito à liberdade religiosa se funda realmente na dignidade da própria pessoa humana, como a conhecemos pela palavra revelada de Deus e pela própria razão natural. Este direito da pessoa humana à liberdade religiosa na organização jurídica da sociedade deve ser de tal forma reconhecido, que chegue a converter-se em direito civil”(Declaração Dignitatis humanae, n. 2).
E ainda: “O poder civil deve providenciar que jamais se lese aberta ou ocultamente por motivos religiosos a igualdade jurídica dos cidadãos, que faz parte do bem comum da sociedade, nem haja entre eles discriminação” (Ibidem, n. 6).

1.5 Mais recentemente, João Paulo II, na Encíclica Centesimus annus, n. 47, afirma que, em certo sentido, a liberdade religiosa é “fonte e síntese de todos os direitos humanos”. E, na Exortação apostólica Christifideles laici, n. 39, declara que “o efetivo reconhecimento do direito à liberdade de consciência e à liberdade religiosa está entre os bens mais elevados e os deveres mais graves de todo povo que queira verdadeiramente assegurar o bem da pessoa e da sociedade [...]. A liberdade de as pessoas, consideradas individualmente, e de as comunidades professarem e praticarem a própria religião é um elemento essencial da convivência pacífica dos homens”.

1.6 Esses princípios fundamentais sobre a liberdade religiosa são também recolhidos e, por assim dizer, consagrados, tanto no Catecismo da Igreja Católica, n. 2106, como no Compêndio da doutrina social da Igreja, de 2005, n. 572. Fica claro, com isso, que o direito à liberdade das consciências e à liberdade religiosa não é visto, pela Igreja, apenas como uma espécie de concessão que é forçada a aceitar por razões “táticas”, por autodefesa dentro do Estado laico, etc. Pelo contrário, a Igreja vê esse direito como uma questão de princípio, que pertence à “doutrina católica”.

1.7 Esta doutrina do Concílio Vaticano II sobre a liberdade religiosa, corroborada pelo Magistério posterior dos Papas, afigurou-se a alguns católicos como tese contrária à doutrina do Magistério pontifício anterior ao Vaticano II, causando perplexidades e até críticas e dissensões, pois alguns entendiam que defender o mesmo direito à liberdade para todas as confissões religiosas – a Igreja Católica e as demais em pé de igualdade –, equivaleria a abdicar da defesa da verdade e da verdadeira religião, a católica, e abrir as portas ao relativismo ou ao indiferentismo religioso, à idéia de que “todas as religiões são iguais”.

1.8 Esse equívoco só pode ser esclarecido tendo em conta que o mesmo assunto – a questão da liberdade religiosa – pode e deve ser focalizado sob dois ângulos ou duas perspectivas diferentes: 1) a perspectiva estritamente teológico-moral; e 2) e a perspectiva jurídico-política, no contexto de um Estado laico (que adota a laicidade, não o laicismo: ver palestra sobre Laicismo)).

Perspectiva teológica: o ângulo da fé e da moral cristã

2.1 Só existe uma religião “verdadeira”. A fé da Igreja, perante o pluralismo religioso e o livre exercício das diversas religiões, na vida social, em nenhum momento tem deixado de afirmar, como o faz o Concílio Vaticano II na Declaração sobre a liberdade religiosa que “o Santo Sínodo professa, em primeiro lugar, que o próprio Deus manifestou ao gênero humano o caminho pelo qual os homens, servindo a Ele, pudessem salvar-se e tornar-se felizes em Cristo. É nossa fé que essa única verdadeira Religião se encontra na Igreja católica e apostólica, a quem o Senhor Jesus confiou a tarefa de difundi-la aos homens todos” (Decl. Dignitatis humanae, n. 1).

2.2 Perante afirmações distorcidas e erros doutrinais sobre a liberdade religiosa e sobre o ecumenismo, a Igreja, recentemente, voltou a pronunciar-se de modo categórico sobre essa verdade importante da fé católica, em dois documentos específicos:
a) A Declaração Dominus Iesus da Congregação para a doutrina da fé ( 6/8/2000), “sobre a unicidade e universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja”, reafirma que “existe uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele [...] As comunidades eclesiais que não conservaram um válido episcopado e a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, não são Igrejas em sentido próprio [...] Os fiéis não podem, por conseguinte, imaginar a Igreja de Cristo como se fosse a soma – diferenciada e, de certo modo também unitária – das Igrejas e Comunidades eclesiais...” (n. 17). Como se vê, não há a menor base para pensar que o Magistério da Igreja promova o indiferentismo ou o relativismo, a idéia errada de que “todas as religiões ou todas as Igrejas são iguais.
Como sempre foi ensinado na Igreja, o documento não deixa de recordar que, embora de modo imperfeito e carente de muitos elementos básicos de santificação, também é possível a salvação das pessoas que seguem de boa fé outras Comunidades ou religiões. “Se é verdade – lê-se neste mesmo documento – que adeptos de outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objetivamente se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação”(n. 22).

b) Um documento mais recente da Congregação para a Doutrina da Fé repisa – citando, sem novidades, textos conhecidos do recente Magistério – os pontos principais da Declaração Dominus Iesus, desqualificando interpretações erradas do Concílio Vaticano II. Trata-se do documento intitulado “Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja”, de 29/6/2007.

2.3 Outro ensinamento da Igreja, baseado na razão natural e na fé, é o que afirma que “todos os homens estão obrigados a procurar a verdade, sobretudo aquela que diz respeito as Deus e à sua Igreja e, depois de conhecê-la, a abraçá-la e praticá-la [...] É postulado da própria dignidade que os homens todos – por serem pessoas, isto é, dotados de razão e de livre arbítrio e por isso enaltecidos com a responsabilidade pessoal – se sintam por natureza impelidos e moralmente obrigados a procurar a verdade, sobretudo a que concerne à religião. São obrigados também a aderir à verdade conhecida e a ordenar toda a vida segundo as exigências da verdade” (Concílio Vaticano II, Declaração Dignitatis humanae, nn. 1 e 2).
Não há lugar, portanto, para quaisquer interpretações relativistas, na linha dos que defendem que a liberdade de cada um é que cria a “sua verdade”(um dos tema centrais que a Encíclica Veritatis Splendor critica). Admitir que há uma Verdade imutável (e não múltiplas “verdades” mais ou menos equivalentes, mais ou menos mutáveis), e que há um dever grave de procurar essa Verdade autêntica faz parte importante do ensinamento moral da Igreja. Ofenderia gravemente a Deus e à própria dignidade humana quem quisesse “dispensar” as pessoas desse esforço de procura, com a afirmação leviana de que “tanto faz, o importante é ter uma religião”.

2.4 Ainda faz parte da doutrina do Magistério, baseada na Revelação divina e na dignidade do ser humano, criado por Deus livre e responsável, a afirmação de que a fé e a religião, não podem ser impostas mediante nenhum tipo de coação. Trata-se da defesa da “liberdade das consciências”, amplamente tratada na Declaração conciliar sobre a liberdade religiosa. Após falar do dever moral de procurar a verdade, o documento diz que “a verdade não se impõe senão por força da própria verdade, que penetra de modo suave e ao mesmo tempo forte nas mentes”(Dignitatis humanae, n. 1). E acrescenta, mais adiante, que “é um capítulo dentre os mais importantes da doutrina católica, contido na palavra de Deus e constantemente pregado pelos Padres, que o homem deve responder a Deus crendo por livre vontade. Por conseguinte, que ninguém deve ser forçado contra a sua vontade a abraçar a fé. Pois o ato de fé é por sua natureza voluntário, uma vez que o homem, redimido pelo Cristo Salvador e chamado para a adoção de filho em Jesus Cristo, não pode aderir a Deus que se revela, a não ser que o Pai o atraia e assim preste a Deus o obséquio racional e livre da fé” (n. 10).
2.5 Este foi o ensinamento constante de São Josemaria Escrivá, que amou e ensinou a respeitar e a amar a “liberdade das consciências”. “Defendi sempre a liberdade das consciências. Não compreendo a violência: não me parece apta nem para convencer nem para vencer; o erro se vence com a oração, com a graça de Deus, com o estudo; nunca com a força, sempre com a caridade” (Questões atuais do Cristianismo, n. 44).
Ao mesmo tempo, não deixava de afirmar, com profunda convicção, a verdade da fé católica e da única Igreja de Jesus Cristo, como expressam estas palavras dirigidas em São Paulo, em 1974, a uma protestante: “Amanhã, na Missa, vou-me lembrar muito de ti... Tu não precisas crer nisto, por agora; pedirei ao Senhor que te conceda a minha fé, porque – não te zangues – a tua não é a verdadeira. Eu daria a minha vida cem vezes para defender a liberdade da tua consciência... Mas eu creio plenamente que tenho a verdadeira fé; senão, não vestiria esta «bolsa de guarda-chuva»” (Bernal, Perfil..., p. 348).

Perspectiva jurídico-política

3.1 O Magistério da Igreja aborda também a questão do pluralismo e a liberdade religiosa no âmbito da lei civil dos Estados democráticos de direito. “O direito da pessoa humana à liberdade religiosa na organização jurídica da sociedade– lê-se na Declaração Dignitatis Humanae, n. 2 – deve ser de tal forma reconhecido, que chegue a converter-se em direito civil”. E, no n. 6, a mesma Declaração afirma que “uma vez que o bem comum da sociedade – que é a soma daquelas condições de vida social pelas quais os homens podem conseguir de maneira mais completa e mais fácil a própria perfeição – consiste, no mais alto grau, na conservação dos direitos e deveres da pessoa humana, o cuidado pelo direito à liberdade religiosa pertence tanto aos cidadãos quanto aos grupos sociais, tanto aos poderes civis quanto à Igreja...[...] O poder civil deve providenciar que jamais se lese aberta ou ocultamente, por motivos religiosos, a igualdade dos cidadãos, que faz parte do bem comum da sociedade, nem haja entre eles discriminação”.

3.2 Para avaliar corretamente esta perspectiva “jurídico-política” da liberdade religiosa, convém lembrar que:

a) Como se diz na acima citada Nota doutrinal da Congregação para a Doutrina da Fé, de 24/11/2002, “para a doutrina moral católica, a laicidade [do Estado] entendida como autonomia da esfera civil e política em relação à religiosa e eclesiástica – mas não à moral – é um valor adquirido e reconhecido pela Igreja, e faz parte do patrimônio de civilização já conseguido “(n. 6);

b) É importante repisar o que acabamos de ler: perceber que o Magistério da Igreja ensina explicitamente que a laicidade ou secularidade do Estado é um valor adquirido, algo positivo, um avanço que faz parte do patrimônio da civilização já conseguido.

c) Isso significa, concretamente que o Estado secular, laico (no sentido correto desta palavra, sem conotações de laicismo) não tem nenhuma competência para pronunciar-se sobre a verdade religiosa, nem sobre a verdadeira Igreja. Pelo contrário, tem a obrigação de garantir legalmente a igualdade de direitos de todos os cidadãos no campo religioso, cultural, profissional, etc., sempre que atuem, pacífica e honestamente, dentro da lei.
Em conseqüência, como diz Rhonheimer, “de acordo com a doutrina do Vaticano II, dentro de uma perspectiva jurídico-política, não contam, em matéria religiosa, os direitos da verdade, mas os direitos das pessoas, como seres livres e responsáveis” (Transformación del mundo, p. 140). A verdade religiosa, em si, não tem direito algum em face do Estado, que, com toda a razão, se declara incompetente nessas matérias. Mas deve reconhecer o direito à liberdade das pessoas em questões religiosas, bem como “a liberdade das comunidades religiosas, entre as quais está a Igreja Católica, de desenvolver a sua missão em plena liberdade, inclusive contando – na medida em que isso for conveniente e compatível com os princípios seculares do Estado de direito – com a promoção por parte da autoridade pública” (Ibidem, p. 140).

3.3 Sabemos que não era essa a perspectiva, mesmo no campo jurídico-político, de outras épocas, em que a religião católica constituía, de modo maciço e indiscutido, a religião da generalidade dos cidadãos em muitas nações, e os reis e príncipes sentiam-se investidos da missão de serem defensores fidei, defensores da verdade religiosa e da verdadeira Igreja. “Pensava-se – diz Rhonheimer – que ter um braço secular fazia parte da essência da Igreja, ou –o que é a mesma coisa –, que o poder temporal está a serviço da Igreja católica para difundir na sociedade a verdade cristã [...]. A descontinuidade entre essa posição [esse pensamento dominante em séculos passados] e a doutrina do Vaticano II encontra-se precisamente nesse nível propriamente político-jurídico, deixando intocados os conteúdos próprios da doutrina católica que fazem parte do depósito da fé, como por exemplo a submissão da consciência à verdade e o dever de cada homem de buscar a verdade religiosa” (Ibidem, pág. 162, nota 18).

3.4 Dentro dessa perspectiva, fica patente que o dever de cristianizar a sociedade não é um dever do Estado, nem faz parte da sua missão; menos ainda um direito ou dever da Igreja de se utilizar da força política do Estado; mas um dever e uma missão própria de cada católico, um dever das pessoas e comunidades religiosas, exercido livremente, dentro da lei, dentro dos parâmetros de uma sociedade pluralista.

3.5 É nessa perspectiva que se inscrevem fundamentalmente, com características de novidade pioneira – em muitos pontos adiantando-se à mentalidade da época – os ensinamentos de São Josemaria Escrivá nessas matérias. Vale a pena citar um texto algo extenso:

“Abraçar a fé cristã é comprometer-se a continuar entre as criaturas a missão de Jesus. Cada um de nós tem que ser alter Christus, ipse Christus, outro Cristo, o próprio Cristo. Só assim podemos empreender essa tarefa grande, imensa, interminável: santificar por dentro todas as estruturas temporais, levando até elas o fermento da Redenção.
“Nunca falo de política. Não encaro a tarefa dos cristãos na terra como se tivesse por fim fazer brotar uma corrente político-religiosa - seria uma loucura -, nem mesmo com o bom propósito de infundir o espírito de Cristo em todas as atividades dos homens. O que é preciso situar em Deus é o coração de cada um, seja ele quem for. Procuremos falar a cada cristão, para que lá onde estiver – nas circunstâncias que não dependem apenas da sua posição na Igreja ou na vida civil, mas também do resultado das mutáveis situações históricas –, saiba dar testemunho da fé que professa, com o exemplo e com a palavra.
“Por ser homem, o cristão vive no mundo com pleno direito. Se aceitar que Jesus Cristo habite em seu coração, que Cristo reine, a eficácia salvadora do Senhor estará intensamente presente em todas as suas ocupações humanas. E não interessa que sejam ocupações altas ou baixas, como se costuma dizer, pois um ápice humano pode ser aos olhos de Deus uma baixeza; e o que chamamos baixo ou modesto pode ser um ápice cristão, de santidade ou de serviço” (É Cristo que passa, n. 183).

3.6 Como comenta Rhonheimer, “o fundador do Opus Dei vê os leigos – cristãos comuns, cada um nas circunstâncias particulares da sua vida – atuarem com consciência cristã, católica, com plena liberdade e autonomia; e colocarem o mundo, não aos pés da hierarquia eclesiástica (por assim dizer), mas aos pés de Jesus Cristo: pôr a Cruz de Cristo – seu amor salvífico – no cume de todas as atividades humanas [...]. Portanto, Escrivá não concebe os leigos como um novo braço secular da Igreja [...]. O influxo cristão exercido pelos fiéis católicos sobre as estruturas sociais e a conformação de uma sociedade impregnada pela doutrina de Cristo se desenvolverão, desta maneira, no espírito de “amor à legítima liberdade dos demais, numa pacífica e respeitosa convivência”(Ibidem, pp. 150.153-154. Citação de E Cristo que passa, n. 184).

3.7 Para concluir, vale a pena citar mais umas considerações finais de Rhonheimer: “Uma história «feita por cristãos» – cristãos comuns – será o fruto dos esforços daqueles que, graças à luz da fé, sabem viver responsavelmente a sua própria liberdade e procuram que essa luz brilhe, respeitando sempre plenamente os direitos da liberdade dos seus concidadãos, inclusive o seu direito de se equivocarem, de estarem no erro ou de serem indiferentes, e, ao mesmo tempo, procuram colaborar lealmente com todos os homens no amplo espaço de liberdade que uma cultura política secular e aberta permite a todo aquele que procura o bem comum. O respeito por essa liberdade criará o terreno que faça com que a verdade nunca seja imposta pela força da coação, numa infeliz mistura de interesses espirituais e temporais, mas única e exclusivamente «pela força da própria verdade» [Dignitatis humanae, n. 1]; permitirá também que a sociedade e todas as realidades temporais sejam conformadas segundo o espírito de Cristo, mediante o exercício responsável, por parte dos cristãos, da sua liberdade e de seus direitos civis” (Ibidem, p. 158).

A CASTIDADE


Todos chamados ao verdadeiro amor
«Chamados ao verdadeiro amor. O ser humano, enquanto imagem de Deus, é criado para amar. Esta verdade foi-nos revelada plenamente no Novo Testamento, juntamente com o mistério da vida intratrinitária: “Deus é amor (1 Jo 4,8) e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor [o Pai ama o Filho e o Filho o Pai, e o Amor que deles procede e os une é o Espírito Santo, Amor substancial de Deus]. Criando-a à sua imagem, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano”. Assim se expressa, no n.8, um importante documento do Conselho pontifício para a família, de 8/12/1995: Sexualidade humana: verdade e significado (que inclui uma citação da Exortação apostólica Familiaris consortio, de João Paulo II, n. 11)).

«A pessoa é, portanto – continua o citado documento, no n. 9 –, capaz de um tipo de amor superior: não o amor de concupiscência, que vê só objetos com que satisfazer os próprios apetites, mas o amor de amizade e oblatividade, capaz de reconhecer e amar as pessoas por si mesmas. É um amor capaz de generosidade, à semelhança do amor de Deus; quer-se bem ao outro porque se reconhece que é digno de ser amado. É um amor que gera a comunhão entre as pessoas, visto que cada um considera o bem do outro como próprio. É um dom de si feito àquele que se ama [...]. Cada ser humano é chamado ao amor de amizade e oblatividade; e é libertado da tendência ao egoísmo pelo amor de outros [...], definitivamente por Deus [pelo amor de Deus], de quem procede todo o amor verdadeiro e em cujo amor somente a pessoa humana descobre até que ponto é amada».

Entende-se, assim, que São Paulo resumisse a vida cristã dizendo: Sede imitadores de Deus, como filhos muito amados. Vivei no amor, a exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor (Ef 5,1-2). O modelo de todo amor cristão (do amor a Deus, do amor dos esposos, do amor entre pais e filhos, do amor sincero entre amigos) é a entrega de Cristo, é a figura de Jesus com o Coração trespassado na Cruz, que Bento XVI não se cansa de propor como imagem perfeita do amor cristão (cf. Encíclica Deus caritas est, n. 12).

Este amor-doação, que faz viver em função dos outros, tem duas dimensões primordiais, vocacionais, na vida dos cristãos:

1ª. A vocação para a entrega total da pessoa, alma e corpo, na castidade perfeita, no celibato por amor a Deus; e também como disponibilidade plena para o serviço do próximo (celibato apostólico). Jesus, após falar de que o matrimônio é indissolúvel, dirigiu-se aos discípulos, que, por motivos egoístas, comentavam que se a situação do homem com a mulher é assim, é melhor não casar-se, e disse-lhes, com expressão gráfica: Nem todos são capazes de entender isso, mas só aqueles a quem é concedido. De fato, existem homens impossibilitados de casar-se, porque nasceram assim; outros ainda, por causa do Reino dos Céus, se fizeram incapazes do casamento. Quem puder entender, que entenda (Mt 19,10-12).

Também São Paulo, seguindo os ensinamentos de Cristo, escreve: O homem não-casado é solícito pelas coisas do Senhor e procura agradar o Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, e procura agradar à sua mulher. E, assim, está dividido [...]. Do mesmo modo, a mulher não-casada, a virgem, preocupa-se com as coisas do Senhor e procura ser santa de corpo e espírito. Mas a que é casada preocupa-se com as coisas do mundo e procura agradar ao seu marido. Digo isto para o vosso próprio bem e não para vos armar um laço. O que eu desejo é levar-vos ao que é melhor e à dedicação integral ao Senhor, sem outras preocupações (1 Cor 7,32-35).

2ª. A vocação de entrega de amor no matrimônio, que tem como modelo a entrega de Cristo à sua Igreja (“esposa de Cristo”): Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo também amou a Igreja e se entregou por ela [...]. Este mistério é grande – eu digo isso em referência a Cristo e à Igreja (Ef 5,25.32).

«As pessoas casadas são chamadas a viver a castidade conjugal», lembra o Catecismo da Igreja (n. 2349). E o documento Sexualidade humana: verdade e significado, n. 20, comenta que os casados devem «estar conscientes de que no seu amor está presente o amor de Deus e, por isso, também a sua doação sexual deverá ser vivida no respeito de Deus e do Seu desígnio de amor, com fidelidade, honra e generosidade para com o cônjuge e para com a vida que pode surgir do seu gesto de amor. Só dessa maneira ela se pode tornar expressão da caridade».

«Quando tal amor [cristão] se realiza no matrimônio – diz ainda o documento sobre a sexualidade humana (nn. 11 ss.) –, o dom de si exprime, por intermédio do corpo, a complementaridade e a totalidade do dom; o amor conjugal torna-se, então, força que enriquece e faz crescer as pessoas e, ao mesmo tempo, contribui para alimentar a civilização do amor; quando, pelo contrário, falta o sentido e o significado do dom na sexualidade, acontece uma civilização das «coisas» e não das «pessoas»; uma civilização em que as pessoas se usam como se usam as coisas. No contexto da civilização do desfrute, a mulher pode tornar-se para o homem um objeto, os filhos um obstáculo para os pais».

«É, sem dúvida – acrescenta –, um amor exigente. Mas nisto mesmo está a sua beleza: no fato de ser exigente, porque deste modo constrói o verdadeiro bem do homem e irradia-o também sobre os outros».




Amor grande e exigente



Este desígnio divino sobre o homem – criatura espiritual e corporal, criada à imagem e semelhança de Deus, elevada à condição de filho de Deus, membro do Corpo de Cristo e templo do Espírito Santo –, essa vocação primordial e essencial para o Amor, dá à sexualidade humana, em todas as situações (virgindade, celibato, casamento) uma dimensão infinitamente mais elevada e qualitativamente diferente, essencialmente diferente, do sexo puramente biológico e instintivo dos animais.

A virtude que caracteriza esse modo cristão de viver a sexualidade é a castidade. E, sendo uma virtude, deve tender, por definição – como todas as virtudes –, ao fim da vocação do cristão: a santidade.

Esse ideal de santidade é expresso, com vigor e clareza, numa das homilias de São Josemaria Escrivá: «Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação... Que cada um saiba usar o seu corpo santa e honestamente, não se abandonando às paixões, como fazem os pagãos, que não conhecem a Deus (1 Tes 4, 3-5). Pertencemos totalmente a Deus, de alma e corpo, com a carne e com os ossos, com os sentidos e com as potências. Rogai-lhe com confiança: Jesus, guarda o nosso coração! Um coração grande, forte e terno e afetuoso e delicado, transbordante de caridade para contigo, a fim de servirmos a todas as almas».

«O nosso corpo – continua a dizer –é santo, templo de Deus, precisa São Paulo. Esta exclamação do Apóstolo traz-me à memória a chamada universal à santidade que o Mestre dirige aos homens: Estote vos perfecti sicut et Pater vester caelestis perfectus est (Mt 5,48). O Senhor pede a todos, sem discriminações de nenhum gênero, correspondência à graça; exige de cada um, conforme a sua situação pessoal, a prática de virtudes próprias dos filhos de Deus». (Amigos de Deus, n. 177).

Não podemos esquecer, porém, que o ser humano carrega consigo as inclinações egoístas procedentes da desordem do pecado (original e pessoal), e que experimenta em si mesmo inclinações contraditórias, de modo que se trava uma luta entre a carne e o espírito (Gal 5,16-17), entre o homem velho e o homem novo (Ef 4,22-24). É por isso que a castidade só se pode viver, de acordo com o plano de Deus, com o auxílio da graça e com o esforço pessoal da luta ascética, especialmente com o exercício da virtude da temperança (do autodomínio). Por isso, o documento sobre a sexualidade, que acima citamos, indica: «Tudo isto exige o autodomínio, condição necessária para se ser capaz do dom de si. As crianças e os jovens [e os adultos] devem ser encorajados a estimar e praticar o autocontrole e a renúncia, a viver de modo ordenado, a fazer sacrifícios pessoais, em espírito de amor de Deus, de auto-respeito e de generosidade para com os outros, sem sufocar os sentimentos e as tendências, mas canalizando-os numa vida virtuosa” (n. 58).

Neste mesmo sentido, o Catecismo da Igreja Católica recorda que «a castidade supõe uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa comandar por elas e torna-se infeliz» (n. 2339).

«Para alguns, que se encontram em ambientes em que se ofende e se deprecia a castidade – acrescenta ainda o documento Sexualidade humana: verdade e significado (n. 19) –, viver de modo casto pode exigir uma luta dura, às vezes heróica. De qualquer maneira, com a graça de Cristo, que brota do seu amor esponsal pela Igreja, todos podem viver castamente mesmo que se encontrem em ambientes pouco favoráveis».




A castidade é um ideal, uma virtude que deve ser conquistada


Já os primeiros cristãos, que tiveram que viver num mundo tremendamente afetado pela corrupção dos costumes, praticavam a virtude da castidade de um modo inédito, que admirava e chocava os pagãos, acostumados a toda a sorte de devassidões. Alguns cristãos inclusive, em épocas de perseguição, foram denunciados como tais e levados aos tribunais pagãos precisamente porque eram castos: só isso já constituía um cartão de identidade. Para o pagão de então, que tinha no prazer material o máximo ideal de felicidade, a luta pela castidade era inconcebível, e a prática da castidade era julgada impossível. O “pagão” atual pensa da mesma forma.

É preciso, por isso, que os cristãos nos compenetremos da convicção de que a castidade, apesar da incompreensão quase absoluta da maioria, é um ideal grande, é uma meta necessária para a realização “humana” e cristã, é uma conquista possível e acessível. Não “nasce”, porém, sozinha: como toda virtude humana, como toda qualidade moral habitual, tem que ser adquirida; como as outras virtudes morais do cristão, deve forjar-se - no cadinho onde se fundem a graça de Deus e o esforço pessoal - mediante a oração e luta por ordenar as paixões de acordo com a reta razão e a fé. Mas essa luta é impossível sem a mortificação.

Em suma, a castidade é, simultaneamente, um dom que é preciso pedir a Deus (cf. S. Josemaria Escrivá, Caminho, n. 118), e uma virtude que deve se conquistar, aperfeiçoar e crescer (cf. Id., Forja, n. 91), mediante o esforço generoso da nossa correspondência à graça.

«Com o espírito de Deus – diz São Josemaria –, a castidade não se torna um peso aborrecido e humilhante. É uma afirmação jubilosa: o querer, o domínio de si, o vencimento próprio, não é a carne que o dá nem procede do instinto; procede da vontade, sobretudo se está unida à Vontade do Senhor. Para sermos castos - e não somente continentes ou honestos -, temos que submeter as paixões à razão, mas por um motivo alto, por um impulso de Amor».

«Comparo esta virtude a umas asas que nos permitem propagar os preceitos, a doutrina de Deus, por todos os ambientes da terra, sem temor a ficarmos enlameados. As asas - mesmo as dessas aves majestosas que sobem mais alto que as nuvens - pesam, e muito. Mas se faltassem, não haveria vôo. Gravai-o na vossa cabeça, decididos a não ceder se notais a mordida da tentação, que se insinua apresentando a pureza como uma carga insuportável. Ânimo! Para o alto! Até o sol, à caça do Amor» (Amigos de Deus, n. 177).

O ideal do cristão não se contenta só com amar e praticar pessoalmente a castidade, mas sente a necessidade, a missão – especialmente num mundo que cada vez mais afunda no niilismo sem sentido e no hedonismo egoísta – de empenhar-se numa «cruzada de virilidade e de pureza que enfrente e anule o trabalho selvagem daqueles que pensam que o homem é uma besta» (Caminho 121).

É interessante, neste ponto, lembrar um comentário de Santo Tomas de Aquino, que hoje é de uma atualidade plena. Diz o santo doutor, na Suma Teológica (II-II, q.142, a. 2 e 3) que a maior parte dos pecados se cometem não porque o homem seja levado a eles pelas suas inclinações naturais, mas pelo escândalo [maus exemplos, espetáculos, etc.], que provoca uma super-excitação artificial das paixões. Daí também a necessidade de unir, ao amor, a luta ascética, também com caráter profilático: o esforço por evitar colocar-se voluntariamente nas ocasiões de pecado, na fogueira da tentação.




A aquisição e cultivo da virtude da castidade



No mundo atual, fortemente erotizado, é evidente que a mortificação se torna mais necessária do que em épocas do passado recente. Por toda a parte – gente mal-vestida na rua, outdoors, espetáculos, jornais, revistas, livros, Internet - há uma agressão contínua à castidade, uma estimulação artificial e massiva da fisiologia, da simples genitalidade animal, sem o menor contexto de grandeza e amor. Sexo pelo sexo. Sexo como consumo e prazer (Esta parte da palestra recolhe vários textos e idéias do livro de F. Faus Autodomínio: elogio da temperança, pp. 72 a 83).

O papel da mortificação, nesta batalha do cristão (e de qualquer ser humano honesto), é mais do que nunca um “não” sereno e corajoso a esses incentivos artificiais, absolutamente necessário para poder dizer “sim” à beleza, à grandeza e à dignidade do amor; à grandeza, em suma, da alma e do corpo dos filhos de Deus. Por isso, da mesma forma que devemos dizer um “não” rotundo à droga, para poder dizer um “sim” à vida e à preservação da saúde física e psíquica, temos que saber dizer o mesmo “não” a esses estímulos degradantes, para sermos capazes de dizer “sim” ao amor, e à beleza da sexualidade própria de um filho de Deus, em que o amor de Deus, a alma e o corpo se integram numa harmonia equilibrada e perfeita.

Daí a necessidade desse autocontrole que a Igreja nos aconselha como meio necessário – contando sempre com a força dos Sacramentos e da oração – para manter, como diria São Josemaria Escrivá, «a juventude do amor em qualquer estado de vida» (É Cristo que passa, n. 25). De fato, é maravilhoso constatar que não há amor mais jovem, mais feliz e mais bonito que o dos casais que vêem o matrimônio e a família como uma vocação divina para a santidade– sacramento grande, diz São Paulo (Ef 5,32) – e uma missão na sociedade; e o dos homens e mulheres que decidem entregar a vida inteira, por amor, ao serviço de Cristo e dos outros, oferecendo a Deus com alegria a renúncia ao sexo, no estado de celibato voluntariamente assumido.

«E agora eu te pergunto – diz São Josemaria –: como é que enfrentas esta peleja? Bem sabes que a luta, se a manténs desde o princípio, já está vencida. Afasta-te imediatamente do perigo, logo que percebas as primeiras chispas da paixão, e mesmo antes. Fala, além disso, imediatamente com quem dirige a tua alma; melhor antes, se for possível, porque, se abrimos o coração de par em par, não seremos derrotados. Um ato e outro formam um hábito, uma inclinação, uma facilidade. Por isso é necessário batalhar para alcançar o hábito da virtude, o ato da mortificação , para não repelir o Amor dos amores» (Amigos de Deus, n. 182) .

Nesta “batalha” santa, em primeiro lugar é importante a mortificação da gula. O autodomínio no comer e no beber ajuda-nos, mais do que imaginamos, a manter o equilíbrio alegre e sadio da castidade. «Tenho para mim – afirmava o abade João Cassiano (século V) – que não poderemos jamais reprimir o aguilhão da carne, se antes não conseguirmos refrear os desejos da gula».

Ao mesmo tempo, faz-nos falta cuidar delicadamente da mortificação dos olhos, janelas abertas ao mundo e receptores principais da chuva constante de incentivos eróticos que, infelizmente, há por toda a parte. Quem se estima a si mesmo, como víamos antes, sabe dizer “não” (“não estou disposto a olhar tudo pela rua, nem a comprar revistas pornográficas, nem a fuçar em programas noturnos na tv, nem a alugar fitas eróticas, nem a pesquisar no lixo sexual da Internet”); e diz esse “não” − insisto − porque está decidido a dizer “sim” a um ideal de amor muito maior do que o prazer carnal egoísta e descomprometido que faz o homem descer abaixo do nível dos bichos (que, diga-se de passagem, são em geral bem mais “castos” do que os homens,).

Que outras armas vamos empregar para alcançar a pureza cristã? Recorda-as também São Josemaría (cf. Amigos de Deus, n. 185): «Cuidai da castidade com esmero, e também dessas outras virtudes que formam o seu cortejo - a modéstia e o pudor -, que vêm a ser como que a sua salvaguarda. Não passeis com ligeireza por cima dessas normas que são tão eficazes para nos conservarmos dignos do olhar de Deus: a guarda atenta dos sentidos e do coração; a valentia - a valentia de ser covarde - para fugir das ocasiões...»:

Comecemos pela «“valentia” de ser covarde, para fugir das ocasiões», que já antes mencionávamos. Na maior parte dos casos, este é o grande segredo para não ter que repetir, de modo triste e insincero, aquela velha desculpa de que “a carne é fraca” e eu não consigo me segurar. Fugir das “ocasiões” é evitar os lugares (um apartamento vazio, certas boates, bares, danceterias, etc.), as situações (um carro estacionado em lugar escuro) e as pessoas que facilmente nos podem arrastar para a simples explosão genital (p.e., certos reveillons e carnavais comemorados em hotéis ou clubes, em que a promiscuidade de rapazes e moças – de mistura com álcool, drogas e dança quase orgiástica – é convite quase inesquivável a cair nos maiores abusos sexuais).

Depois, lembremos «a guarda atenta dos sentidos e do coração». Em primeiro lugar, da vista, da curiosidade mórbida, por vezes quase que obsessiva e compulsiva; depois, poderíamos recordar a importância de guardar também o ouvido, pequeno bueiro onde são despejadas constantemente gracinhas sujas; e o tato, para não cair em familiaridades e manifestações de afeto pegajosas, bastante "suspeitas", especialmente com pessoas do outro sexo, que muita vez equivalem a catar sorrateiramente migalhas de sensualidade, enquanto se finge ser amável e cordial; e ainda o controle, importantíssimo, dos chamados “sentidos internos”, a imaginação e a memória.

Reconheçamos que noventa por cento dos desvarios sexuais procedem do descontrole destes dois sentidos internos. Deixar a imaginação à solta – alimentada muitas vezes pelas recordações de pecados cometidos, de conversas, ou por filmes, por leituras, por imagens visuais procuradas nas revistas, na Internet ou na tv – é a mesma coisa que escancarar as janelas da alma a uma série de tentações, constantes e progressivas, que entram como uma revoada de cupins; é a mesma coisa que acender um caldeirão de aprendiz de bruxo, de onde podem sair todas as torpezas, abusos e anomalias. Quem é dono da imaginação, tem noventa por cento ganho para ser, com fortaleza, dono e senhor dos seus impulsos sexuais e dos seus sentimentos e, portanto, do seu amor. Este autodomínio do pensamento é a chamada “mortificação interior”, tanto ou mais importante para o senhorio da vontade como a “mortificação dos sentidos”.

Finalmente, temos de repisar a importância primordial dos meios sobrenaturais, que exigem a concretização de propósitos e esforços perseverantes: «O trato assíduo com o Senhor através da Eucaristia [...]. A freqüência dos sacramentos, de modo particular [além da Eucaristia] a Confissão sacramental; a sinceridade plena na direção espiritual pessoal; a dor, a contrição, a reparação depois das faltas, e tudo ungido com uma terna devoção a Nossa Senhora, para que Ela nos obtenha de Deus o dom de uma vida santa e limpa» (São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, cf. nn. 185 e 186).

Vivendo assim, confirmaremos com a nossa vida e saborearemos com alegria a verdade destas palavras de São Josemaria Escrivá: «A castidade – a de cada um no seu estado: solteiro, casado, viúvo, sacerdote – é uma triunfante afirmação do Amor» (Sulco, n. 831).