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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O CONTEÚDO DO CRISTIANISMO

Robinson Cavalcanti

O que tem sido o cristianismo em sua história? Não uma seita judaica, mas a realização do que foi preconizado pelo judaísmo, povo da primeira aliança, com um monoteísmo e uma ética de revelação. O Messias anunciado pelos profetas finalmente chega. Tudo isso não poderia ter se acabado em pouco tempo? Surge a Igreja, povo da segunda aliança, com destinação universal: fazer discípulos em todas as nações. Para se expandir tão rapidamente o cristianismo tinha de ser portador de um conteúdo, que chamamos de doutrina, definido nos Credos Apostólico e Niceno, em relação aos divergentes, de fora e de dentro: 1) a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo; 2) as duas naturezas de Cristo: divina e humana; 3) a concepção virginal; 4) a morte vicária; 5) a ressurreição; 6) a segunda vinda com o Juízo Final; 7) a ressurreição dos mortos e a vida eterna; 8) a Igreja; 9) o batismo. Milhares foram queimados vivos, trucidados pelos gladiadores, estraçalhados pelos leões, pela crença inabalável nessas verdades.

Antes de serem definidas no papel, essas doutrinas já eram cridas e compartilhadas pela comunidade de fé, transmitidas como herança apostólica, com a identificação simbólica da cruz, do pão e do peixe, do alfa e do ômega, na partilha do pão e do vinho, em que a Eucaristia (ação de graças) substitui a Páscoa, porque o Cordeiro já fora imolado. Na adoração, nos cânticos, na Ceia do Senhor, se estabelece a liturgia.

Algo mais importante precede a doutrina, os sacramentos e a liturgia: a definição do cânon bíblico do Novo Testamento. Junto com o Antigo Testamento, ali estava o texto (não um texto, ou um dos textos), escrito por homens inspirados por Deus a edificar homens leitores e ouvintes iluminados por Deus, com as narrativas dos feitos do Senhor e do seu povo, com os seus mandamentos e estatutos. Além da revelação natural (os céus, a consciência), a revelação especial, escrita, apontava para a revelação viva: a pessoa de Jesus Cristo.

Poderiam estas coisas acontecer sem milagres, sem o transcendente, a intervenção do céu, a ação do Espírito Santo apontando para a cruz sangrenta e o túmulo vazio, transformando corações, derramando dons, dando vida à mera existência, com um projeto de reino de Deus? Esses indivíduos formavam comunidades, se organizavam, criavam normas, estabeleciam autoridade; na plenitude de sua humanidade, se institucionalizavam. A igreja é povo e instituição, indissociáveis. Como o primeiro Israel, o segundo conhece altos e baixos, grandezas e misérias, verdades e erros, santidade e dissolução, obediência e desobediência. Porém, o fundador não tinha prometido estar com ela até o fim? Não dissera que sobre ela as portas do inferno não prevaleceriam? Que ensino estranho é esse de um Espírito Santo que assistiu apenas o povo, mas não a instituição! Reformas sempre existiram, e uma grande Reforma veio, nada acrescentando, mas construindo o futuro pelo resgate do passado.

Apesar de lendas tão caras a alguns segmentos, nunca houve um só centro de poder, normatização e irradiação do cristianismo. Acompanhar a vida e a morte dos apóstolos, o estabelecimento das sés e dos patriarcados (nestorianos, pré-calcedônios, bizantinos e latinos) é ser edificado por essa verdade de uma história policêntrica. Porém, nessa diversidade de ramos (alguns com pretensão de exclusividade) havia ou não um amplo consenso dos fiéis através do espaço e do tempo? O Espírito Santo movia ou não esse consenso? Há quem julgue que o Espírito Santo tirou férias com a morte de João, em Patmos, e apenas regressou com o nascimento de Lutero, ou -- o que é mais grave -- com o nascimento da sua denominação ou ministério um dia desses... Somos partícipes de uma instituição e de um povo de dois mil anos; somos herdeiros de todo esse passado, que deve ser, muitas vezes, purificado; tantas vezes atualizado, mas sempre valorizado e reverenciado. Igreja militante, dos ainda vivos; igreja triunfante, dos que já partiram, juntas formando o que os credos designam como a comunhão dos santos.

Deixando de lado o exótico, o pitoresco, as novidades, as vaidades, o personalismo, a imitação, e encarando com honestidade a história da igreja, não foi esta -- em seus diversos ramos -- gerida por integrantes de três ordens (diáconos, presbíteros e bispos), do segundo século ao século 16, fossem esses ramos orientais ou ocidentais? Essas ordens foram mera criação humana? Representaram apenas um grande equívoco? Uma epidemia universal de erros? Ou teriam sido resultado da assistência do Espírito Santo? O equívoco, eclesiológico, de autoridade, não estaria, então, com as novas classes européias, que mais de um milênio e meio depois resolvem “reler” a Bíblia e a história a partir da sua ótica e ideologia etnocêntricas, criando, “de laboratório”, o presbiterianismo e o congregacionalismo?

Com o fundamentalismo bitolando, o pseudo-pentecostalismo distorcendo e o liberalismo negando, não estaríamos hoje diante de outras religiões?


• Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política -- teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo -- desafios a uma fé engajada

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