Vivemos em um contexto em que a paz parece ter desaparecido da nossa convivência. Diante do império da naturalização da violência, desaprendemos como invocar a paz. Porém, quando ela parece ser algo tão utópico, distante, é necessário anunciarmos o reino de Deus, que é “[...] justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17).
Um passeio pelas Escrituras e pela história da igreja revela o esforço de muitos em construir a paz, ainda que em algumas épocas tenham sido os próprios seguidores de Deus os perpetradores da violência. Na perspectiva do Antigo Testamento, o “shalom” é a restauração do equilíbrio e da harmonia da pessoa humana com Deus, consigo mesma, com o próximo e com toda a criação. A paz, portanto, é uma das virtudes da aliança de Deus com a humanidade (Ez 37.26; Jo 14.27).
A própria palavra “paz” reafirma a ideia de aliança. Ela deriva do latim “pangere”, que significa comprometer-se, concluir um pacto, firmar um acordo entre duas partes. Mais que ausência de conflitos, a paz consiste na construção de uma alternativa para a convivência humana.
Um exemplo desta iniciativa vem do ministério do profeta Jeremias. Os israelitas estão no cativeiro babilônico, sem solução aparente para a violência e opressão ao seu redor. Então o profeta declara que é necessário resistir ao escapismo, ao fatalismo e à vitimização, e reconhecer que a presença de Deus não é um evento perdido no passado nem um sonho projetado no futuro.
Os israelitas deveriam viver na Babilônia como uma comunidade de esperança, reconhecendo e anunciando que o poder de Deus é maior do que as forças que geram o mal e a violência. No lugar da fuga e da alienação, o envolvimento e a solidariedade. Em vez do medo, a paz. Não bastava apenas ser diferente, era preciso fazer diferença.
Diante disso surge a pergunta: Como trilhar os caminhos da missão pela promoção da paz? Algumas pistas podem nos ajudar:
“Em meio a uma cultura de violência, promover uma cultura de paz”: a resolução de conflitos de forma não-violenta; a prática da tolerância; a resiliência ante a dor e o sofrimento; o respeito em meio à diversidade e à pluralidade; a crítica das ideias sem ofensa às pessoas.
“Entender a solidariedade como um novo nome da paz”. Os Evangelhos afirmam que Jesus Cristo foi solidário na vida (cf. At 10.38) e na morte (cf. Jo 15.13). Seguindo seu exemplo, é preciso superar o individualismo e fazer dos relacionamentos uma experiência de gratuidade.
“A paz como parcela da missão integral”. A igreja em missão, com base nas aspirações do reino de Deus, deve reconhecer a paz como possibilidade real, concreta, necessária para a vida humana.
Diante do estado de opressão e violência que se apossou de nossas cidades, as Escrituras nos desafiam a rejeitarmos a alienação, o escondimento, e assumirmos o caráter missionário de nossa fé. Afinal, o próprio Jesus Cristo disse que são “felizes os pacificadores” (Mt 5.9).
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