Por volta do anos 70, surgia nos Estados Unidos, o Grupo Amor Exigente, fundado por um casal, David e Phyllis York, cujo objetivo foi definir princípios e novas atitudes visando a recuperação de suas duas filhas profundamente afetadas pela dependência química.
O “Amor Exigente” é estruturado em 12 Princípios, os quais visam à mudança de comportamento dos próprios familiares, levando-os primeiramente à própria recuperação, para depois poderem lidar com a problemática da dependência química de seu ente querido, apoiando-o em sua busca pela recuperação.
Chegou ao Brasil há cerca de 25 anos pelas “mãos” do padre Haroldo J. Rahm, SJ. Hoje o Grupo está implantado em todo o Brasil, funcionando nas principais cidades, apoiando as famílias que enfrentam o problema da dependência química de seus entes queridos.
Juliano Gonçalves frequenta o Grupo São Luís, em São Paulo, fundado há 23 anos por Beatriz Ferreira, que contou e continua contando com o apoio “missionário” e sempre decisivo do próprio padre Haroldo.
A seguir, a entrevista concedida por Juliano à revista Ave Maria:
A ideia da liberação de uso de drogas é o caminho para diminuir o tráfico e consequentemente o seu consumo?
Esta é uma questão muito complexa e há vários pontos de vista. O meu evidentemente é fundado na minha própria experiência de pai de um dependente químico, já sem uso de drogas há 12 anos, e também com base no que já li sobre a experiência de alguns países europeus que seguiram esse caminho, cujo consumo não diminuiu.
Creio que a liberação poderá até minimizar os problemas do tráfico, mas não os do consumo. A ideia de que contribuiria para diminuir o consumo, do meu ponto de vista, seria um verdadeiro “tiro pela culatra”.
Na verdade, a meu ver, há dois caminhos básicos que podem nutrir nossas esperanças para diminuir o consumo de drogas. O primeiro, refere-se a um trabalho sério e contínuo visando à prevenção, para que aqueles que ainda não usam, não venham a usar. O segundo, trata-se também de trabalho sério e contínuo, para recuperar aqueles que já foram dominados pela dependência dessas substâncias.
A prevenção, evidentemente, deve começar pela própria família, que precisa conversar abertamente sobre esse problema com seus filhos, passar-lhes valores espirituais e de família, desde a pequena idade. Não através de verdadeiros “sermões”, que não serão ouvidos, mas por meio de uma boa conversa nos momentos apropriados e, sobretudo, pelo exemplo de vida em todas as suas ações. Não adianta dizer para nossos filhos não usarem alguma substância, se nós mesmos fumarmos, bebermos e/ou formos “viciados” em drogas lícitas que compramos legalmente nas farmácias.
O Estado e a sociedade como um todo devem também contribuir com efetivas ações visando a prevenção. E melhor do que colocar propaganda contra o uso de drogas, como às vezes o fazem. O certo e mais efetivo mesmo seria proibir de uma vez por todas propagandas que incentivam o uso de tais substâncias, principalmente o álcool. A ideia que passam é de que para sermos bonitos, bem-sucedidos, vencedores, poderosos, temos que usar alguma coisa... Neste exato momento, podemos comprovar esse tipo de ação, totalmente danosa para todos, principalmente para os mais jovens, que é a propaganda de cerveja, utilizando a boa imagem de nossos jogadores e de nossa seleção...
Como a família e o Estado podem ajudar o dependente?
A família tem a obrigação de buscar ajuda em grupos de apoio como o Amor Exigente e também junto a profissionais para, em primeiro lugar, recuperar a si mesma, de forma a aumentar a própria autoestima, voltar a ter esperanças, a acreditar que merece uma vida melhor e, sobretudo, a acreditar em um Poder Superior. Um vez refeita, a família poderá dedicar-se ao trabalho de apoiar o seu dependente químico na busca e manutenção de sua recuperação.
A principal missão do Grupo Amor Exigente é exatamente essa. Ou seja,”refundar” a família, restabelecer papéis e regras para pais e filhos, recuperar a espiritualidade e a autoestima e consequentemente as esperanças.
No que se refere ao Estado e à sociedade, o primeiro passo é reconhecer que a dependência química é uma doença e que, portanto, não deve e não pode ser tratada com preconceito. É uma doença grave, que afeta seriamente o próprio dependente, física, emocional, mental, social e espiritualmente; pode destruir a família e tem potencial para gerar sérias consequências para toda a sociedade.
Assim, uma vez aceita como doença, e sem preconceitos, a exemplo do que aconteceu com a AIDS, o Estado poderá passar a tratar do assunto como deve ser e passar a investir no que for necessário, como, por exemplo, na formação de profissionais; na infraestrutura hospitalar, disponibilizando a quantidade de leitos necessários; em comunidades terapêuticas, em entidades de profissionalização, etc. Todos esses recursos são fundamentais para apoiar na recuperação dos dependentes químicos.
Qual a diferença entre os que defendem a liberação do uso de drogas aparentemente gratuita e a opinião vivencial de famílias que têm filhos dependentes?
Na minha opinião, aliás, já expressa é a de que o uso de drogas deve ser proibido. E digo, de todas. A sua liberação e/ou entrega gratuita, com certeza, só vai aumentar o uso de quem já é dependente e facilitar a iniciação daqueles que ainda não o são, mas têm a predisposição para desenvolver a doença da dependência química.
Qual o caminho a ser tomado para o combate ao consumo de drogas?
A meu ver, não será pela força, mas pelas ações de prevenção, a fim de que aqueles que ainda não usam não venham a usar e de recuperação dos já dependentes.
A ação de esclarecimento (campanhas) contra o consumo de drogas, para ser eficiente, deve ser dirigida mais aos pais ou aos jovens?
Creio que as campanhas devem ser para ambos os públicos, porém com conteúdos diferentes. A mesma campanha para pais e adultos não atingirá de forma alguma os jovens. Evidentemente, essas campanhas seriam apenas um reforço, pois o que realmente fará a diferença seria trabalharmos no sentido de recuperar a “célula mãe”, que é a família. Será nesta que se terá que recuperar uma série de valores e comportamentos, visando seu reforço. Por exemplo, menos televisão, menos internet e mais boa conversa entre todos os seus membros; não aconselhar uma coisa e fazer outra; não utilizar de substâncias químicas, sejam legais ou ilegais; passar para os filhos valores éticos, morais e principalmente espirituais.
Uma palavra final...
A partir da experiência desafiante, mas bem-sucedida que tive sobre esse assunto, em minha própria família e em várias outras que conheci e continuo acompanhando através de meu trabalho como voluntário no Grupo Amor Exigente, posso dizer que há esperança. Creio não haver nenhum caso em que não haja uma boa solução. Para tanto, temos que trabalhar séria e cabalmente em todos os aspectos envolvidos; praticar e “viver” os 12 Princípios do Amor Exigente, visando à mudança de nosso próprio comportamento; assumir novas atitudes e ações coerentes e racionais; recuperar nossa autoestima e, sobretudo, nossa espiritualidade. Sim, há esperança e é possível fazer desse limão azedo, uma deliciosa limonada. É o que fi z e venho fazendo!
Depoimento dos familiares de um dependente químico
Temos um filho em recuperação da dependência química há 1 ano e nove meses. O deserto foi longo, mas está valendo a pena! O nosso filho tem 22 anos e, provavelmente, começou a usar drogas aos 15 anos. Começou usando álcool, depois maconha, drogas químicas que lhe davam prazeres rápidos, até chegar a cocaína, sua droga preferida.
A família toda interpretava como safadeza e mau-caráter as atitudes típicas de um dependente. Mas, graças ao Amor Exigente, um grupo de trabalho para familiares de dependentes químicos, aprendemos que o que nosso filho tem é uma doença progressiva, que não tem cura e que leva à morte. Que havíamos nos tornado codependentes e que, somente mudando nossas atitudes e comportamentos, conseguiríamos restabelecer a ordem familiar e viabilizar o tratamento e a recuperação de nosso filho.
Foi preciso coragem... E o internamos, involuntariamente, numa clínica para que fizesse o tratamento: a desintoxicação e o aprendizado dos “12 passos” que o ajudarão a manter-se sóbrio e em recuperação, cotidianamente. Foram quase 10 meses de internação e, em casa, há 11 meses, nosso fi lho está firme em seu propósito de manter a VIDA, de não mais procurar a morte.
Hoje ele trabalha, vai iniciar a faculdade e sua maneira de se relacionar também mudou! “SÓ POR HOJE”.
O deserto foi longo... mas, mudando nossos comportamentos por nosso filho, a família toda mudou... e para melhor!
2 comentários:
obrigada , sei mais ou menos tudo isso mais ainda tenho esperança , desistir jamais.procuro saber mais pra ajudar 4 meses de internação será o suficiente ?deus nos ajude
OBRIGADA FOI MUITO BOM, PRECISO DE FORÇA E CORAGEM , MAS NÃO DESISTO .INSISTO EM INSISTIR ,EU NÃO POSSO , MAS DEUS PODE .FIQUEM COM DEUS
Postar um comentário