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sexta-feira, 13 de março de 2009

AUSENCIA


É duro digerir o sabor de uma ausência. Alguém que parte, vai embora, deixando apenas o silêncio, o barulho do seu silêncio.


Uma presença tem o poder de ocupar um espaço – lugar definido e cheio de significação – no coração, um pedaço que se encaixa com tudo aquilo que é próprio dessa presença.


A ausência sempre dói, deixa um vazio. Mesmo quando não se percebe.


Ninguém constrói a vida com o intuito de ser abandonado, deixado para trás, de ser impossibilitado de contemplar aquilo que seu coração amou. No entanto, a ausência é uma linha que sempre perpassará a trama da existência, e em algum momento – voluntaria ou involuntariamente – ela se fará presença em nossa história. Inúmeras são as ausências: olhares, histórias, palavras que exercem o ofício de passar...

Existem ausências eternas – a morte, por exemplo –, e ausências circunstanciais, tecidas pelo abandono ou pela distância daqueles que se que amam.


A experiência de perder alguém para a eternidade gera uma enorme dor no coração. Contudo, a experiência de perder uma presença em uma ausência ainda presente na existência desinstala profundamente o coração, deixando um gosto de desamparo e frustração. O abandono traduz com maestria um dos maiores desejos da vida: o desejo da presença.


O vazio insere o ser do homem no nada, na náusea da mais profunda descaracterização daquilo que se é. Diante disso, em muitos corações ecoa a silenciosa pergunta: Por quê? Porque agora estou na companhia da solidão e não restou nenhuma palavra para explicar: “Sinto falta da sua voz. Não a ouço, mas ela continua falando dentro de mim...”.


O vazio – ausência que configura a real desconfiguração – coloca o homem diante de sua verdade, revelando a ele sua necessidade de uma Presença que não passe. “Presença que não passe?” – diriam aqueles que jazem sufocados sob o peso da frustração – “Isso é possível? Visto que o abandono é companhia constante, que em algum momento baterá à nossa porta?” A isso responderia: “Não sei. Não quero ter a pretensão de dar pequenas respostas a grandes vazios”. Entretanto, com ousadia, desejo devolver a pergunta: É possível dar “Sentido” a vazios que nasceram em virtude da presença de uma ausência?


Acredito que essa resposta mora em cada um. O coração sempre soube – mesmo que inconscientemente – que a vida nasceu para ser mais que seus próprios limites. Esse é um pressentimento inerente.


Um vazio sempre gerará a frustração, mas esta precisa ser enfrentada e “resignificada”. Amar é uma maneira concreta de fazer isso. Amor: capacidade de guardar o que é bom, de superar distâncias e de superar – até mesmo – o fato de não mais ser querido e acompanhado por alguém.


As ausências se tornam suportáveis e até mesmo aprendizado se o coração consegue descobrir essa “Presença”, que não passa, e n’Ela consegue se ancorar.


Essa Presença é real. Ela acompanha a existência e dá sentido a qualquer vazio, pois tem o amor como essência. Ela nunca vai embora... Quando o olhar descobre tal realidade, ele tem a chance de não mais se entrelaçar apenas no que passa, mas pode descobrir, a partir da ausência, “tijolos” que constroem eternidade, pois provocam o olhar para a busca do Eterno e daquilo que O compõe.


Que o coração possa se enxergar sem ilusões diante das perdas e do real e, assim, possa encontrar – mesmo na ausência – forças para emoldurar com esperança suas dores e sua história.

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