Há um sentido no qual mediocridade é aquilo que é pertinente à média.
Nesse
caso, trata-se da existência que se deixa governar pela média, e que
teme qualquer expressão de seu próprio ser que não carregue a chancela
da maioria.
Ora,
neste sentido, pode-se dizer que Jesus ama os medíocres, pois Ele amou
ao mundo, e, sem dúvida, a Terra é a habitação da mediocridade
travestida de bons costumes, de moral, de etiqueta e da covardia que se
deixa domesticar pela vontade da maioria, não importando as amputações
existenciais que o individuo tenha que sofrer, desde que se conforme às
massas.
Todavia, mesmo amando a todo homem, e fazendo-o de modo igual, Jesus, o homem, detestava a mediocridade.
Quando
Jesus anunciou que iria para Jerusalém, e disse que lá morreria, Pedro
lhe disse: “De modo nenhum Senhor”. A resposta de Jesus foi forte:
“Arreda Satanás”.
E o que isto tem a ver com o fato de Jesus detestar a mediocridade?
“Tu é para mim pedra de tropeço”—acrescentou Jesus a Pedro.
Mediocridade é a boa intenção que tenta impedir a plenitude da vida e da missão no existir.
Era isto que Pedro estava fazendo. E isso era também parte do repúdio de Jesus.
Pedro queria um Cristo medíocre. Um Jesus sobrevivente!
É
a mediocridade, por mais cheia de boas intenções que seja, que diz “de
modo nenhum” a tudo aquilo que possa parecer risco de vida, ou melhor:
chance de morte; ou mesmo de uma existência diferente.
A mediocridade é o que nos incita a crer que apenas os seres “abomináveis” da terra é que podem ser associados à Satanás.
A mediocridade é o que determina qual é o publico do diabo, e quais as ofensas que mais ofendem a Deus.
Isto
porque é o medíocre que enxerga no diferente o ser abominável, e nos
demais, iguais a ele mesmo em conduta exterior, aqueles que jamais
seriam objeto de um veemente “Arreda Satanás, pois tu me és motivo de
tropeço”.
Mas
para Jesus a mediocridade é uma ofensa terrível, é a pior forma de
possessão demoníaca que pode assolar um homem, visto que o possuiu
em-si-mesmo, e não como uma invasão alienígena.
Satanás habita a mediocridade dos que pensam que podem dizer “De modo nenhum” até para Jesus.
O problema é que a Religião tem essa pretensão!
E é assim que age quase o tempo todo!
Ora, houve outra ocasião, tempos depois, quando Pedro, outra vez disse: “De modo nenhum, Senhor”.
Isto
aconteceu antes dele ser informado por um anjo do Senhor que deveria
sair de Jope e ir até a Cesárea marítima a fim de anunciar o Evangelho
na casa do pagão Cornélio (At 10).
Descia do céu um lençol com toda sorte de animais abomináveis, e Pedro recebia a ordem de que deveria comê-los.
Era uma visão. Mas o apóstolo dizia: “De modo algum, Senhor, visto que em minha boca nunca entrou nada comum ou imundo”.
A Palavra de Jesus a Pedro naquela visão foi a de sempre: “Não consideres comum ou imundo aquilo a que Deus santificou”.
O
medíocre não se afasta do cardápio da média; e nem consegue enxergar
santidade naquilo que não parece com ele mesmo, nem com sua cultura, nem
com seu meio social ou religioso.
Em
minha opinião, na maioria das vezes essa foi a diferença entre Paulo e
os “outros”. Paulo não sofria de mediocridade, daí o Evangelho que
pregava ter sido tão superior em consciência e qualidade.
Assim,
se alguém tem devoção às instituições de valor determinadas pela
religião, sem dúvida tal pessoa só será salva da mediocridade se Deus a
forçar a comer aquilo que ela abomina.
Somente
o genuíno Evangelho da Graça pode nos salvar da mediocridade, posto que
somente na transcendência ao que é terreno e pertencente ao mundo das
falsas aparências, é que o coração será liberto do satanás que se faz
adversário de toda diferença.
Onde
quer que haja “uniformidade” e onde quer que haja senso de
sobrevivência que se ponha acima do chamado para a individualidade, aí,
tenha certeza, há o espírito de Satanás.
E
isto pode vir disfarçado do que for, mas se disser: “De modo algum
Senhor”—, então, é a vontade do diabo que se está praticando, pois
Satanás é o pai de todas as formas de clonagem.
Assim, eu repito:
Mediocridade é a intenção que tenta impedir a plenitude da vida e da missão no existir.
E isto gera repúdio em Jesus...
Ora,
Ele não aceitou isto para Ele mesmo, como poderia consentir com isto
para os outros, aos quais Ele veio salvar, por mais diferentes que
pareçam da média?
Fonte: Caio Fabio
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