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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A EXPERIÊNCIA DE DEUS


" A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes (Is. 29, 14). Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo? Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da sua mensagem." (I Cor. 1, 18~21).
Nesta carta aos coríntios, escrita há quase 2000 anos, S. Paulo nos fala da inversão de valores do mundo em relação aos desígnios de Deus.

- Ao buscarmos os bens materiais, a satisfação do ter e do acumular, visamos ser "melhores" e mais "poderosos" que os nossos semelhantes, enquanto Deus nos manda praticar o serviço, a caridade e a solidariedade no partilhar que nos leva a comum união. Voltamo-nos à ilusão da posse passageira, ignorando a obtenção do bem eterno.

- Ao preocuparmo-nos demasiadamente com a nossa "segurança" no futuro, negligenciamos as palavras de Jesus que nos diz que o Pai do Céu cuida até dos menores seres e, portanto, quanto mais o ser humano criado à Sua imagem e semelhança... Ignoramos assim a fé e esperança na Divina Providência.

- Ao buscarmos o prazer irrestrito dos sentidos, esquecemos que somos essencialmente seres espirituais, voltando-nos para a parte inferior e animal do nosso ser.

- Ao voltarmo-nos para os ídolos criados como o dinheiro, o poder, a sensação e outros "deuses", demonstramos que não usamos com retidão a nossa inteligência e o poder de discernimento.

- Ao fecharmo-nos na nossa ignorância e acomodarmo-nos na nossa mediocridade, recusamos a infinita misericórdia e justiça de Deus que capacita toda e qualquer criatura humana a conhecê-Lo mesmo dentro da limitação de cada um.

- Ao fingirmo-nos dignos e honrados, esquecemos a humildade e simplicidade, meios seguros de encontrarmos Deus...

A experiência de Deus é o meio mais eficaz de convertermo-nos e de transformarmo-nos em criaturas voltadas para a Vontade de Deus.

Como se alcança essa experiência?

Em primeiro lugar, a oração. A nossa vida deve ser transformada em vida de oração constante e contínua.

Esta oração deve ser verbal, através de orações conhecidas e consagradas como Pai Nosso, Ave Maria, Glória, etc; ou oração espontânea, o que exige um pouco mais de nosso exercício espiritual e liberdade.

Podemos orar também através de nossos atos de amor para com os nossos semelhantes.

Em segundo lugar, devemos ser pessoas de profunda fé em Deus. Quando nos interessamos por alguma pessoa, procuramos conhecer melhor a vida dessa pessoa. O mesmo deve acontecer com relação a Deus. Sendo Ele a Pessoa mais importante da nossa vida, temos a obrigação de conhecê-Lo cada vez mais. Embora não possamos alcançar o conhecimento pleno de Deus, é possível chegar ao conhecimento difuso que já é suficiente para sentirmos a Sua intimidade. Deus é a infinita sabedoria; ninguém melhor que Ele para cuidar da nossa vida presente e futura. A fé nos leva a confiarmo-nos incondicionalmente na Divina Providência, na esperança de um dia chegar à morada do Pai. Esta esperança nos faz entregar todo o nosso ser à Sua Vontade: "Faça-se em mim segundo a Vossa palavra..."; " Sou vosso humilde escravo...", "Sou prisioneiro de Jesus...", "Viciado e dependente do Amor de Deus...", "Soro-positivo no Amor de Cristo..."

A constante meditação sobre o mundo e sobre Deus nos faz discernir aquilo que mais nos convém neste mundo para alcançarmos a felicidade eterna.

A felicidade eterna é um dom de Deus concedido àqueles que O amam acima de tudo, O obedecem e confiam na Sua infinita misericórdia.

Sair de nós mesmos para procurar nos olhar como Deus, conhecedor de tudo, nos olha. Lembrar que Ele nos conhece melhor que nós mesmos, os nossos sentimentos mais ocultos e íntimos, as nossas preocupações, tudo aquilo que nos ocupa...

Deus não se impressiona com as aparências: aquilo que parece belo aos olhos do mundo, pode ser abominável a Ele...

Os seres do mundo julgam a posse da pessoa como resultado de mérito pessoal, da sua capacidade, do seu esforço. Porém, nada disso pode ser meritório aos olhos de Deus se ela não O ama acima de tudo. Se a preocupação primeira da pessoa for o bem material e não o Deus incompreensível, cedo ou tarde perderá tudo e descobrirá a verdade tarde demais...

As pessoas de posse, com raríssimas exceções, não têm tempo de se dedicar à espiritualidade, uma vez que absorvem todo o seu tempo na administração das coisas materiais, ou no "aproveitamento" delas.

A riqueza é um anestésico para as dificuldades inerentes da vida humana. Dificuldades estas que, enfrentadas com sabedoria, nos poderiam mostrar o caminho estreito porém certeiro ao Pai, e, por consegüinte, à compreensão da vida humana e do seu verdadeiro significado.



Outro fator que nos auxilia a alcançar a experiência de Deus: o silêncio absoluto - silêncio físico e espiritual - desligar-se totalmente do barulho do mundo: rádio, televisão, ruídos, vozes, preocupações diárias, ira, raiva, expectativas até de coisas boas. Mergulhar no silêncio total. Desligar-se de tudo que é material - fechar os olhos e não pensar em absolutamente nada que tenha forma.

Fazer o sinal da Santa Cruz para afastar qualquer espírito maligno, apelando, se necessário, ao S. Miguel Arcanjo para que nos proteja contra tudo que é negativo, precipitando-o no abismo eterno.

Invocar a intercessão da Nossa Senhora, Nossa Mãe e Nosso Modelo. Meditar sobre a Sua vida de total submissão, humildade, obediência, fé e esperança em Deus.

Meditar sobre a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, único Sacrifício reparador de toda a humanidade. Único digno da aceitação do Pai. E conscientizar-se de que a cada Missa este Sacrifício é revivido...

Refletir com profundidade o sofrimento do Salvador: a agonia no horto, a flagelação, a coroação de espinhos, o escárnio, a Via Crucis, a Crucificação, o Silêncio do Pai, a Morte.

Conscientizar-se de que cada um de nós é culpado deste sofrimento atroz e indescritível de Cristo, transformado numa figura irreconhecível, o Homem das Chagas... A esse respeito, temos absoluta certeza de que nenhum crucifixo representa a verdadeira figura de Cristo na Paixão: coberto de açoites por todo o corpo, com um grande inchaço nas narinas devido a um golpe recebido por um bastão,... uma figura coberta com o precioso sangue do Cordeiro...



Marcas dos açoites segundo o Sudário de Turim (livro "Feridas de Jesus" do Dr. José Humberto Cardoso Resende)

Refletir: Se o Nosso Salvador, que é também o Nosso Modelo, passou por tamanho sofrimento, nós, que somos seus seguidores, estaríamos imunes ao sofrimento do mundo? Mais: há alguém no mundo que não sofre? O ser humano, quem quer que seja, ao tomar consciência da sua existência, aprende também que é mortal. A vida material, quão bela seja, um dia acaba... E o sofrimento de deixá-la pode ser proporcional à sua satisfação material (isto é, o apego)...

Entretanto, temos a convicção de que Cristo ressuscitou! Venceu a morte e se tornou o nosso exemplo. Aquele que crê n'Ele e vive conforme o Seu desígnio, terá também a vida eterna na glória celeste!

A tão temida morte então pode se tornar uma verdadeira libertação! Libertação do nosso corpo, das nossas paixões, das nossas limitações. Vejamos as vidas dos Santos: todos eles sofreram de uma forma ou de outra. Uns no matrírio, outros nas tentações, nas doenças, na pobreza. Porém, todos sentiram também a felicidade indizível de um dia encontrar-se face a face com o Altíssimo...

Meditar, então, a felicidade no Céu: a harmonia perfeita entre os filhos de Deus que se compreendem e se amam como reflexo do Amor Trinitário. A paz total e o gozo crescente, a compreensão plena, a realidade que não acaba, tudo ofuscando a vida outrora limitada e ilusória na terra... Refletir que para alcançá-la é necessário tornarmo-nos coerentes e compatíveis com a vida celestial, isto é, viver já neste mundo a experiência do verdadeiro amor.

"Deus criou as almas humanas para si. Ele quer uní-las a si e lhes dar a imensa plenitude e incalculável felicidade de sua própria vida divina - isso já nesta vida. Esse é o alvo para o qual Deus orienta as almas e ao qual todas devem tender com todas as forças. O caminho para lá é estreito e íngreme. A maioria se detém no meio da jornada; poucos passam das tentativas iniciais; pouquíssimas almas chegam ao objetivo final. A razão disso está nos perigos do caminho, ou seja, os perigos do mundo, do inimigo maligno e da própria natureza humana". ("A Ciência da Cruz" - Edith Stein).

Feche os olhos e permaneça imóvel, não pense em nada, apenas escute... Abandone-se por completo nos braços do Senhor...

Você continua achando que a linguagem da cruz é loucura?
Paz e bem

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