
A Bíblia ensina-nos que Deus não é uma força misteriosa sem coração.
Pelo contrário, pela Fé sabemos que Deus é relações de perfeita reciprocidade amorosa e familiar:
Deus Pai encontra-se e possui-se de modo infinitamente perfeito, dando-se como amor paternal e dom incondicional ao seu Filho:
“Quero ser totalmente para ti!
Do mesmo modo, Deus Filho possui-se e encontra-se de modo pleno, dando-se com pleno amor filial e doação incondicional a Deus Pai:
“Sei que me amas incondicionalmente. Tenho a certeza de que queres o melhor para mim. Sei que és incapaz de me manipular.
Eis a razão pela qual quero fazer sempre a tua vontade e deixar-me ser através de ti.”
Jesus de Nazaré e o Filho Eterno de Deus fazem uma união orgânica e dinâmica, alimentada pelo Espírito Santo.
Enquanto viveu na História, Jesus era a expressão humana perfeita deste amor incondicional de Deus Filho para com Deus Pai.
Segundo os evangelhos,
Jesus exprimiu muitas vezes este desejo de se identificar totalmente com a vontade de Deus:
“O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).
“Não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 5, 30).
“O pai não me deixa sozinho, pois eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8, 29).
“O mundo vai saber que eu amo o Pai e faço tudo como ele me ordenou” (Jo 14, 31).
De tal modo a vontade do Filho estava em sintonia com a vontade de Deus Pai que Jesus, no evangelho de São João diz o seguinte:
“Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).
Jesus procurava incansavelmente a salvação das pessoas, pois era esta a vontade do Pai:
“Não é da vontade do vosso Pai que está nos Céus, que um destes pequeninos se perca” (Mt 18, 14).
A terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito santo, ocupa um lugar central neste diálogo familiar e na comunhão da Trindade Divina.
Como amor maternal de Deus, o Espírito Santo é princípio animador de relações e vínculo maternal de comunhão orgânica.
O Espírito Santo é o coração da convergência familiar da Santíssima Trindade.
Isto quer dizer que o Espírito Santo se encontra e possui de modo pleno coração do diálogo e da reciprocidade amorosa de Deus Pai com Deus Filho.
Inspira a novidade permanente do dom incondicional de Deus Pai e a resposta amorosa de Deus Filho.
A mesma ternura maternal do Espírito Santo sugere a Deus Pai que acolha amorosamente o seu Filho Unigénito, mas também a nós como filhos seus (Rm 8, 14-17).
O plano criador e salvador de Deus, portanto, faz parte do próprio diálogo amoroso da Santíssima Trindade.
O Espírito Santo é também o vínculo maternal na união orgânica que acontece na Encarnação, mediante a qual o divino se enxerta no humano.
A partir da ressurreição de Cristo, nós ficamos a ser dinamizados de modo intrínseco pelo Espírito Santo.
Graças a esta interacção nova, a Vida Divina passou a circular nos nossos corações.
Como Jesus disse à Samaritana, o Espírito Santo é a Água Viva que faz jorrar em nós rios de Vida Eterna.
Deste modo o Espírito Santo é o sangue da Nova e Eterna Aliança, isto é, o portador da Vida de Deus para o Homem Novo recriado e reconciliado com Deus em Cristo (2 Cor 5, 17-19).
É como a seiva da laranjeira robusta que se comunica ao ramo frágil e doente do limoeiro que nela foi enxertado.
Graças à seiva que circula da laranjeira para o limoeiro, este volta a ficar robusto e a dar limões de excelente qualidade.
Assim também, os frutos de vida que vamos produzindo, são resultado da seiva divina a circular nas “veias” interiores do nosso ser espiritual.
O Homem tem, pois, um lugar no diálogo amoroso da Santíssima Trindade cujo coração é o Espírito Santo.
Nesta mesma perspectiva já podemos compreender o lugar central do Espírito Santo no acontecimento da Encarnação e o poder que, por este mistério, nos é concedido, ao ponto de nos tornarmos filhos de Deus:
Com seu jeito maternal de amar, ele nos conduz a Deus Pai que nos acolhe como filhos.
Com este mesmo jeito maternal de amar, ele alimenta a união orgânica que nos liga a Jesus Cristo.
Mediante a comunicação intrínseca com o Espírito Santo, nós formamos união orgânica com Deus.
Pela Encarnação, diz o evangelho de São João, Foi-nos dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 12-14).
Pela ressurreição de Jesus, acrescenta São João, nós fazemos uma união orgânica com Deus, formando a Família Divina (Jo 17, 21-23).
O Espírito Santo é, realmente, o amor de Deus derramado nos nossos corações, como diz São Paulo (Rm 5, 5).
Isto significa que Deus não esteve à espera de que fossemos bons para nos amar.
Pelo contrário, ama-nos de modo incondicional e configura-nos com o próprio Filho de Deus, diz São Paulo:
“Porque àqueles que Deus conheceu antecipadamente, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que ele é o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 29).
Graças à nossa interacção intrínseca com o Espírito Santo, nós somos introduzidos no próprio diálogo da Santíssima Trindade em forma de oração:
“Deste modo, o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos pedir e dialogar de modo adequado.
Mas o Espírito Santo intercede por nós com gemidos inefáveis.
E o Pai que examina os corações conhece as intenções do Espírito Santo, pois é de acordo com o sentir de Deus que o Espírito Santo intercede por nós” (Rm 8, 26-27).
O Espírito Santo é o coração da convergência familiar da Santíssima Trindade e o impulso gerador de fraternidade entre nós.
É por ele que entramos no diálogo da Santíssima Trindade, como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos em relação a Deus Filho.
Eis a razão pela qual quando oramos no Espírito Santo estamos a dialogar com Deus em termos de comunicação familiar.
Na verdade, a nossa comunicação com Deus só é adequada quando acontece no Espírito Santo.
É no Espírito Santo que Deus Pai comunica connosco e nos revela o seu jeito de ser Pai:
Pai justo e amoroso.
Pai misericordioso e paciente.
Pai amável e solícito.
Pai acolhedor e sempre disposto a perdoar.
Pai fiel aos valores da Verdade, da Justiça e do Amor.
Pai responsável, protector; atento e amigo.
O Espírito Santo é a ternura maternal de Deus:
Com o seu jeito maternal de amar, é em nós uma presença maternal compreensiva, pronta a servir; dedicada, generosa e gratuita.
Com um jeito maternal está sempre atento e disposto a aperfeiçoar os elos de comunhão com Deus Pai.
Faz-nos exultar como filhos agradecidos, como aconteceu com Jesus.
Eis o que diz o evangelho de São Lucas:
“Nesse mesmo instante,
Jesus exultou de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse:
“Bendigo-te, ó Pai,
Senhor do Céu e da Terra.
Tu escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, mas revelaste-as aos simples e pequeninos.
Sim, Pai, porque foi este o teu agrado” (Lc 10, 21).
Ele é consolador que nos dá ânimo e consagra para a missão de anunciarmos a Boa Nova da Salvação em Cristo Ressuscitado.
É o vínculo maternal que nos liga de modo orgânico a Cristo fazendo de nós membros do corpo cuja cabeça é Cristo (1 Cor 10, 17; 12, 27).
É pelo Espírito Santo que nascemos de novo para a Família Divina (Jo 3, 3-6).
Ele é a semente da vida divina em nós (1 Jo 3, 9).
É o grande dom do Pai do Céu (Lc 11, 13),
Ele é o Consolador que inspira nos momentos de grande aflição (Mt 10, 20).
É Ele que nos capacita e dá força para testemunharmos Cristo ressuscitado (Act 4, 31).
É o mestre que explica o sentido da Palavra de Deus no íntimo do nosso coração.
É ele que nos faz compreender o plano salvador de Deus (Ef 3, 3-5).
Faz cair dos olhos da nossa mente as sombras que nos impedem de ver com clareza a verdade de Deus e do Homem.
Estas sombras são para a mente o que as cataratas são para os olhos,
Obstáculos que nos impedem de ver o essencial. Depois de estas escamas caírem dos
Como fez em São Paulo,
O Espírito Santo faz cair nos nossos olhos essas escamas que obscurecem a visão,
Fazendo-nos ver com clareza o plano de Deus,
Condição essencial para sermos mensageiros do Evangelho (Act 9, 18).
É no Espírito Santo que o Filho se comunica connosco e nos revela o seu jeito especial de ser irmão:
Irmão generoso e solidário.
Irmão que age como autêntico companheiro fiel e sempre disposto a partilhar.
Nas dificuldades, nunca hesita em ser para nós apoio e ajuda solícita.
É um irmão leal e verdadeiro.
Irmão sempre disposto a partilhar connosco o melhor de si.
Nunca faz alarde da ajuda que nos presta e das coisas boas que partilha connosco.
Irmão sincero e fiel.
Esta comunhão familiar na qual fomos integrados por Cristo é dinamizada pelo Espírito Santo, o sangue de Deus a circular no nosso coração.
Como Comunhão Familiar, a Santíssima Trindade amou-nos ainda antes de nos criar.
Desde todas a eternidade, as pessoas divinas dialogaram sobre nós e sonharam um plano de amor para nós!
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