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quarta-feira, 9 de julho de 2008

O MISTÉRIO DA CRUZ



Antônio Mesquita Galvão *Geralmente, quando se anda por aí, em contato com o povo, diversas questões sobre Doutrina, Bíblia e Teologia costumam ser levantadas. Num desses encontros, uma pessoa me perguntou: "Onde e na pele de quem Jesus, hoje, é traído, injustiçado, vitimado por violência de toda ordem, injustamente condenado?". Jesus é traído onde o plano do Pai é pervertido pelo egoísmo e pelo desleixo à dignidade do ser humano. Jesus é condenado todas as vezes que deixamos de alimentar quem tem fome, de vestir os nus e postular a defesa dos que sofrem injustiças. Nosso modelo de sociedade ocidental, capitalista-liberal, consumista e mercantilista formou um modelo nitidamente excludente. Aí o deus é o mercado, a capacidade de comprar e vender. Quem é despojado de bens e recursos, não pode aproximar-se do mercado. Ora, na visão desse segmento, quem não compra deve ser excluído, uma vez que o mercado tornou-se a única forma de vida.
É por esta razão que nossa sociedade elitista vira as costas aos despojados, já que eles nada têm a oferecer - em termos econômicos - ao modelo de consumo e produção ora em vigência. Nós crucificamos Jesus cada vez que um irmão nosso tomba, derrubado pela ganância, pela falta de sensibilidade social, pela indiferença.
De outra feita, indagaram: "Onde e na pele de quem é aplaudido um dia, levando tapinhas nas costas (claro, com interesses imediatistas e egoístas), e, no dia seguinte, rejeitado só porque não correspondeu às expectativas de algum grupo?". Os sistemas de exploração, acumulação injusta e indiferença mantêm vivos e atuantes alguns esquemas de defesa e sustentação, representados por alguns segmentos de políticos, empresários e profissionais que fazem os pactos mais sinistros visando a acumulação e a perenização no poder. Não podemos esquecer nesse meio aquele tipo de mídia que rejeita o pleito dos humildes, condena os movimentos de organização popular, e faz o jogo dos governos e dos poderosos. Muitos se dizem cristãos para manter uma fachada de credibilidade (tapinhas nas costas), mas, logo depois revelam a rapina que existe em seus projetos e seus corações.
É o caso de muitos que saem de uma atividade religiosa, um retiro, encontro ou coisa parecida, confessando-se "convertidos", e no dia seguinte voltam a refocilar-se na mesma lama das faltas da semana anterior. Ao invés de "criados à imagem de Deus", muitos querem um Deus criado à imagem de seus projetos, nem sempre éticos, nem sempre solidários.
Alguns falam em Jesus, mas não o testemunham em seus atos do dia-a-dia. Nós somos, sempre um argumento, a favor ou contra Cristo. A morte de Jesus na cruz fez brotar uma vida nova e abundante para todos. O mistério da cruz, embora rico em pistas para reflexão, torna-se incompreensível na medida em que nos distanciamos de uma visão essencialmente mística, iluminada com a luz da fé. A cruz, nos ensina São Paulo, para os judeus é escândalo, para os pagãos loucura, mas para nós motivo de salvação. Mais do que um ritual de condenação, a cruz traz consigo um mistério, do sofrimento, da humilhação e da morte de um Deus, que fez tudo isto, aceitou uma aparente desonra para nos salvar, nos redimir e nos libertar.
Sobre o mistério da cruz existem diversos estágios de entendimento: a) o comum, que é a análise dos fatos como eles vêm narrados nos evangelhos; b) o histórico, que é o estudo da crucifixão, da maneira como é contada em antigos manuscritos romanos, isto é, como uma medida preventiva da pax romana e de seus sistema judiciário; c) o exegético-salvífico que parte das expressões "abrir os céus" e "descer aos infernos", para sintetizar a aliança definitiva após a cruz, como marco fundamental da salvação. É possível descobrir-se, nesta fase, ligações com o mistério pascal, com o êxodo, com a síntese do evangelho (cf. Jo 3, 16) e a vida da fé; e, por último, d) o axiológico-mnemônico que tem no gesto libertador do pecado e da morte, seu ponto alto.
O culto à morte de Jesus na cruz traz consigo um mistério e, ao mesmo tempo, uma revelação. Trata-se da lembrança do sacrifício voluntário de Cristo, para interposição de novos valores (ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida por seus amigos...) às formulações da história da vida do homem. Tudo revela um gesto de serviço à vida abundante que ele veio trazer.
Por não se deixar enquadrar em nada, a cruz é a morte de todos os sistemas. A cruz é o ódio destruído pelo amor que assume a cruz-ódio. Por isso liberta. Longe de significar a derrota que abateu os discípulos na primeira hora, a cruz reflete a vitória libertadora de Cristo sobre todas as estruturas. Ela mostra o fracasso do poder militar dos romanos, a queda do poder religioso dos fariseus, a caducidade da sabedoria dos filósofos.
Resta apenas uma sabedoria: a da cruz. Ora, se a libertação vem da cruz, é preciso que aquele que quer se libertar viva integralmente este mistério em sua vida. Jesus, obediente até a morte (e morte de cruz!), é o arquétipo do homem novo, liberto e salvo, quando o filho de Deus torna-se o odós (o caminho) que conduz a humanidade ao Reino dos céus. A cruz dá pistas para a libertação integral do ser humano, apontando para cima e para os lados. Por isso, nos dias de hoje, viver a mística da cruz, continua sendo um escândalo e, sobretudo, um desafio. Na cruz, a morte torna-se vida, destrói o egoísmo e o pecado, e conduz o povo liberto à ressurreição.
De outro lado, os "sinais da ressurreição" se tornam claros na caminhada do povo de Deus, que se organiza para render culto a Jesus, um culto em "espírito e verdade", na simplicidade dos que buscam a Deus enquanto ele ainda se deixa encontrar, na devoção dos que celebram para agradecer os dons e para buscar o ser-Igreja, para enraizar a fé e o respeito à vida. A ressurreição está presente onde há perdão, unidade, acolhida, solidariedade, misericórdia e conversão. Trata-se do caminhar na direção da casa do Pai, unidos como irmãos, iluminados pelo Espírito Santo.
As diversas atividades promocionais da Igreja, como as "campanhas da fraternidade", por exemplo, privilegiam a cada ano, um estudo social, político e religioso sobre diversos assuntos de interesse religioso e sócio-político. Uma das grandes preocupações mundiais se volta para a Amazônia. Ali vem enfatizada a necessidade de uma preocupação com o meio-ambiente, e também com as populações daquela região, um povo esquecido e discriminado. Cuidar da natureza também é ser zelador do projeto de Deus.
O poder público, o extrativismo da madeira e das demais riquezas do Amazônia, o coronelismo e a grilagem que por lá se verifica, isto somado à insalubridade ocorrente naquela biodiversidade, bem como a carência de recursos, escolas, estradas, hospitais, tudo contribui para um quadro de extrema pobreza e marginalização, revelando um povo sofrido, excluído, crucificado. Os poderosos voltam seus olhos para as riquezas, mas desprezam a população da região. Onde o povo sofre e a natureza é degradada, os sinais da ressurreição se mostram tênues, dando, lugar a uma cultura de morte, escravidão e cruz.
Jeremias foi um profeta, como tantos outros, que sofreu ameaças, agressões, prisão e até morte, porque suas denúncias "incomodavam" os que praticavam o mal ou queriam manter sua duvidosas posições de autoridade, civil ou religiosa. Igualmente os primeiros cristãos preferiam ser mortos a abandonar sua fé. Hoje, talvez não haja o perigo de sermos condenados à morte, como faziam antigamente, mas a perseguição perdura e nos é pedida, cada vez, a firmeza da fé. Mesmo atordoado pela tragédia do exílio babilônico, Jeremias adquire a certeza de quem o Senhor o acompanha sempre, orando para que aqueles que confiam em Deus não se decepcionem (cf. Jr 20, 10-13).
Não era fácil na Antigüidade, como não é hoje, levantar a voz e denunciar a injustiça, o abuso do poder econômico e mostrar que as coisas vão bem. O número dos que aderem aos projetos de morte é maior que o dos que discordam. A verdade e os direitos humanos, no entanto, somente serão respeitados quando surgirem pessoas como Jeremias, e quando o opressor tiver medo de sua coragem e de suas denúncias.
Os que condenaram Jesus, denuncia Paulo (cf. Rm 5, 12-15) procederam como os que perseguiram os profetas, opondo-se à verdade. Deus, em suas sabedoria, utilizou-os como instrumento de sua glória, porque transformou a morte de Cristo em vitória e fonte de salvação e regeneração para toda a humanidade. Em seu discurso sobre a vocação cristã (cf. Mt 10, 26-33), Jesus nos revela a necessidade de sermos corajosos, pois segui-lo pode implicar em igual sorte à que ele teve. Hoje não matam, mas boicotam, tiram espaços, fazem pressões para calar certas vozes proféticas.
Testemunhar a fé em Cristo custa iguais perseguições. Os dois últimos versículos, no entanto, nos dão uma grande esperança: "Quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho a seu favor dele diante do Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me negar na frente dos homens, também eu o negarei na frente do Pai". Ao exortar seus discípulos de todos os tempos à coragem, Jesus pede que não temam as perseguições, pois Deus não deixa sem recompensa quem se manifesta a seu favor. Quem perder sua vida terrena por causa do evangelho, haverá de recuperá-la plenamente na intimidade do Pai.
Esta é a promessa de Jesus àqueles que o anunciam e testemunham no mundo, como os antigos profetas do tempo do exílio. Quem testemunha em favor de Cristo nada tem a temer. Sua retribuição é certa, iminente, plena. O cristão não pode se intimidar ou ficar com medo de ficar malvisto ou malquisto. Ser cristão é não ter medo das injúrias, das perseguições ou das ameaças daqueles que obstaculizam a instauração do Reino no meio do povo. Por causa do medo, do respeito-humano ou do materialismo, hoje, um ponderável segmento do nosso povo deturpou do sentido da Ressurreição. Na Páscoa muitos deixam de interiorizar a mensagem da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Preferem aproveitar o "feriadão" para o lazer, o descanso e a gastronomia. Eu aprecio muito a celebração da páscoa dos gregos. Diferente de nós, eles se saúdam com "Xristós anesti", Cristo se elevou (ressuscitou). E o outro responde: "Alithós anesti" (verdadeiramente ressuscitou). Diz tudo.
Aqui dizemos "Feliz Páscoa", que suscita em muita gente a idéia de uma felicidade no recebimento de presentes, chocolates, viagens, etc. Se sairmos à rua e perguntarmos "o que é uma feliz páscoa?", escutamos menções às coisas materiais que fazem o entorno da festa religiosa. É preciso banir a conotação materialista da páscoa, ligando seus festejos à ressurreição e à instauração daquela "vida nova" (cf. Jo 10,10) que Jesus veio trazer.
Em conseqüência da distorção materialista esvazia-se o culto à cruz e à ressurreição, caindo tudo no descompromisso e na futilidade. Enquanto os judeus celebram tão-somente a páscoa mosaica, outros tentam descaracterizar a ressurreição de Jesus, colocando em seu lugar a reencarnação e outros sistemas esotéricos afins. Há pessoas que chegam afirmar a existência de "provas científicas" da reencarnação, como se coisas de fé pudessem caber dentro da estreita ótica da ciência mundana. Não existe cristianismo sem a fé na ressurreição.
A cada ano, a festa da Páscoa nos suscita novas e ricas reflexões sobre o mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Um homem foi morto e levado à sepultura. Aparentemente, a história acabou e o sistema injusto que o condenou, coisa comum até hoje, está satisfeito. Achando-se a pedra do sepulcro removida, e nele não sendo encontrando o corpo de Jesus, as mulheres entraram em pânico. O corpo do rabi havia desaparecido. Um anjo tratou de tranqüilizá-las: "Por que vocês procuram entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou!".
Naquele momento, para toda a comunidade apostólica, o fato de encontrarem o sepulcro vazio era ainda uma ponderável incógnita. A descoberta do sepulcro vazio traz consigo diversos fatos capazes de confundir a comunidade apostólica. Tanto assim que Pedro não entendeu. Muitos acharam que o corpo havia sido roubado. Madalena não reconheceu Jesus, confundindo-o com o jardineiro. No primeiro momento, nem os demais acreditaram no testemunho dela. As mulheres entraram em pânico. Os inimigos subornaram os guardas para que contassem outra história. Somente João acreditou. A Escritura diz que "...ele viu e creu" (cf. Jo 20. 8b). Começava a formar-se ali a fé na ressurreição.
Para a apologética cristã do primeiro século, o sepulcro vazio é um elemento importante para a credibilidade do anúncio da ressurreição. É um milagre-sinal. A ressurreição (e sua idéia-chave é o sepulcro vazio) é o ponto de partida da instauração da Igreja e da pregação do evangelho. Não haveria Igreja, e o evangelho perderia sua consistência sem a ressurreição de Cristo. A fé na vitória de Cristo sobre a morte é o centro axial do cristianismo. Fé aqui não retrata apenas a adesão a um conjunto de verdades reveladas, mas subentende vigorosamente um processo de conversão do ser humano ao projeto amoroso de Deus.
A constatação do sepulcro vazio é um fato concreto, a partir do qual as perspectivas do Reino passam a assumir caráter de realização. Até então, o Reino era uma idéia, fruto da pregação, com o suporte de alguns milagres. A partir da ressurreição, as promessas passam a se tornar realidade, quando as angústias e buscas do ser humano passam a ter respostas completas, na dinâmica da vitória da vida sobre a morte.
Como nos ensina São Paulo, "... se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, acreditamos também que aqueles que morreram em Jesus serão levados por Deus em sua companhia" (1Ts 4, 14). A vitória de Cristo mostra que a vida continua, e que a chegada do Reino demonstra que as promessas tornam-se realidade. É preciso intuir essa revelação, ouvindo a voz de Deus, sem endurecer o coração. Nesse particular, a ressurreição só tem sentido se revela o futuro dos que esperam em Jesus a passagem para a vida nova. Essa passagem é visível em nós? É a reflexão que proponho a partir deste momento.* Doutor em Teologia Moral

Última Alteração: 09:20:00
Fonte: Adital/Antônio Mesquita Galvão Local:Brasil

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