Nunca
 é demais recordar o que diz o Antigo Testamento sobre a preparação da 
vinda do Redentor a esta terra. Lemos na Constituição Dogmática Dei 
Verbum sobre a Revelação Divina do Concílio Vaticano II que “depois de 
ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus
 nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho (Heb. 
1,1-2). Com efeito, enviou o Seu Filho, isto é, o Verbo eterno, que 
ilumina todos os homens, para habitar entre os homens e manifestar-lhes a
 vida íntima de Deus (cfr. Jo. 1,1-18). Jesus Cristo, Verbo feito carne,
 enviado «como homem para os homens» (3), «fala, portanto, as palavras 
de Deus» (Jo. 3,34) e consuma a obra de salvação que o Pai lhe mandou 
realizar (cfr. Jo. 5,36; 17,4)”. Deus, de fato, suscitou os Profetas, 
esses homens extraordinários que, iluminados pelas luzes divinas, 
desvendaram o futuro e descreveram os acontecimentos futuros. Inspirados
 por Deus  eles alimentaram a fé na vinda do Messias que fôra prometido 
logo após o pecado original. Essas vozes que ecoaram dos vales profundos
 do passado e, muitos séculos antes, mostraram nos longínquos horizontes
 a figura grandiosa do Salvador da humanidade. Adão recebeu a promessa 
de um Libertador e a transmitiu aos seus descendentes. Abraão, separado 
de sua família para ser o pai do povo de Deus, sabia que o Messias 
sairia de sua raça e de seu sangue. Jacob, no leito da morte, saudou o 
Redentor na prole de seu filho Judá. Moisés, chefe e legislador do povo,
 contemplou o futuro onde vê a figura adorável daquele que seria maior 
que ele, e exclama: “Suscitar-vos-á o Senhor, vosso Deus, um profeta 
como eu, dentre os vossos irmãos, haveis de escutá-lo em tudo quanto vos
 disser” (Dt 18 ss; Atos 3,22). Depois apareceu Davi que cantou as 
glórias divinas e as grandezas do Esperado das nações. Ele mostrou Deus 
na magnificência de suas obras, nas maravilhas de sua providencia, nas 
riquezas de sua misericórdia, nos rigores de sua justiça e nas doçuras 
do seu amor. Ele contemplou o homem em sua baixeza e em sua grandeza, em
 sua enfermidade e em sua glória, em sua ruína e em sua reabilitação, em
 sua vida de um dia e em suas esperanças imortais. Mas ele vislumbrou, 
sobretudo, o grande Medianeiro entre Deus e o homem.  Depois de Davi 
surge uma longa série de profetas a celebrarem a sua geração eterna como
 Filho de Deus; o seu nascimento de uma Virgem como Filho do homem. 
glória de Belém que o verá nascer, as cenas dolorosas de sua paixão. 
Nenhum dos motivos, Nenhuma das peculiaridades, nenhum dos frutos desse 
drama divino foi ignorado dos séculos que o precederam, Admirável e 
sublime este testemunho das profecias que, no passado, iluminaram a 
divina figura de Cristo, antes de ele aparecer no mundo. De Adão até o 
último dos Profetas, através dos séculos cresceu e se desenvolveu 
gradativamente o sublime vulto do Messias prometido. Em síntese, Adão 
nas portas do paraíso terrestre, Abraão, Isaac, e Jacob na tenda dos 
Patriarcas, Moisés no deserto, David sobre o trono, Daniel no exílio, 
Jeremias entre as ruínas de Jerusalém, Ezequiel e Amós no meio das 
nações idolatras, todos, os olhos fixos sobre o mesmo personagem, 
contemplaram, cantaram e descreveram o Salvador. Toda a antiguidade está
 repleta desta esperança. A Encarnação do Verbo que estava incluída no 
plano eterno de Deus para a elevação do gênero humano à ordem da graça 
foi a realização da promessa feita aos representantes do gênero humano 
no Paraíso perdido. Ensina o referido documento do Concílio Vaticano 
II:  “Com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com palavras
 e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa 
ressurreição, enfim, com o envio do Espírito de verdade, completa 
totalmente e confirma com o testemunho divino a revelação, a saber, que 
Deus está conosco para nos libertar das trevas do pecado e da morte e 
para nos ressuscitar para a vida eterna”. A posse dessa felicidade 
perene depende da correspondência de cada um às graças redentoras e o 
alerta de Santo Agostinho não pode ser olvidado: “Aquele que te salvou 
sem ti, não te salvará sem ti”.  
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
 
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