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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

UM LABORATORIO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL


Por: Fernanda Pompermayer
    Terça-feira, 23 de novembro. Quando, no Rio de Janeiro, o clima de guerra civil entre a Polícia e as facções que controlam o tráfico de drogas, nos morros cariocas, estava no auge, eu me encontrava em Florianópolis, no Maciço do Morro da Cruz. Coincidentemente, o meu objetivo era fazer uma reportagem, justamente sobre um trabalho social de prevenção à violência, no Morro de Mont Serrat. 
   Esse projeto surgiu para oferecer uma opção de vida digna a crianças, adolescentes e jovens cuja única perspectiva era o mundo do crime e da droga. Analogamente à situação do Rio de Janeiro ? e respeitando as devidas proporções ?, o Morro de Mont Serrat era sinônimo de uma realidade de miséria e violência numa região urbana central da Ilha de Santa Catarina.
   Embora conhecendo o trabalho, ao chegar ao local deparei-me não com um projeto, mas com uma vasta gama de iniciativas: sete ONGs que atualmente articulam 15 projetos em 30 áreas diferentes. Os trabalhos giram ao redor do Centro Cultural Escrava Anastácia (CCEA), fundado em junho de 1994, por Vilson Groh (56), sacerdote que já atua no local desde 1983. Catarinense de Brusque, ele é também mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
  
   Tudo começou...
   O ponto de partida desse leque de projetos está ligado a um contexto histórico: a primeira metade dos anos 1980, na passagem da ditadura para a abertura política, em meio à efervescência dos movimentos sociais que começaram a surgir no Brasil. Vilson Groh, sensível, desde a adolescência, à realidade social, participou de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), teve contato com a Teologia da Libertação e, em 1976, conheceu o Movimento dos Focolares. Portanto, "o caldo cultural da construção do meu pensar social baseado na radicalidade do Evangelho" ? afirma o sacerdote ? "parte desse contexto, que me levou a fazer uma escolha de vida ligada ao documento de Puebla (1979), no qual a Igreja da América Latina fez uma opção preferencial pelos pobres". 
   No decorrer dos anos, Vilson foi descobrindo o enorme capital social e humano da população empobrecida em meio à qual vivia. Foi a partir da interação entre o sacerdote e a comunidade que surgiram os diversos projetos de promoção humana e social, a partir do princípio de que os moradores do Morro deveriam ser os protagonistas da própria história. Na convivência com eles, foram surgindo os modos de enfrentamento das graves situações sociais locais. 
   Segundo Ivone Perassa, coordenadora geral dos projetos do CCEA, a inserção das pessoas nas várias etapas dos projetos tem sido a garantia do sucesso deles. Um sucesso que pode ser comprovado pelos números. Segundo a coordenadora, nas comunidades em que a instituição tem uma atuação direta com a juventude ligada ao tráfico de drogas e ao universo da criminalidade, o resultado tem sido a queda do índice de criminalidade, o retorno à escola e a inserção no mundo do trabalho, num percentual que beira os 80%."
  
   Projetos complementares
   É impossível descrever, numa única matéria, a abrangência dos projetos do Morro de Mont Serrat. Eles abarcam desde abrigos para crianças em situação de vulnerabilidade social e familiar, a estruturas para o reforço escolar; desde o encaminhamento de adolescentes já envolvidos com o tráfico para outras atividades até cursos profissionalizantes para jovens, além da arrecadação de bolsas de estudo em várias universidades catarinenses.
   O projeto "Procurando Caminho", por exemplo, serve-se do esporte de aventura como um meio de resgate da dignidade dos adolescentes e jovens e de reintegração social. Surgiu depois do assassinato de dois jovens da comunidade por gangues do narcotráfico. O projeto nasceu para oferecer aos jovens alternativas aos apelos de uma vida à margem da lei, criando uma escola de surfe e uma atividade produtiva de conserto e fabricação de pranchas de surfe. 
   Mateus Alexandre Hoerlle, professor de Educação Física, deixou a escola em que lecionava para se dedicar ao projeto "Procurando Caminho". Ele vê essa sua atividade como uma verdadeira vocação, um legado da sua vida para esses jovens. Os resultados concretos na reintegração de jovens "condenados à morte" pelo narcotráfico, na vida da comunidade, e as perspectivas profissionais, que o projeto está abrindo, confirmam que Mateus tem razão.
   Segundo Jorge Ribeiro Portela, que também atua no mesmo projeto, dos 25 adolescentes de 13 a 15 anos com os quais ele trabalha, "20 já estariam mortos ou presos se não estivessem inseridos nesse projeto".
   A fábrica de pranchas bem como outras atividades profissionalizantes que envolvem os jovens têm sua sede no antigo prédio do Instituto Médico Legal de Florianópolis, que foi cedido pelo governo municipal. Um fato emblemático do processo de transformação que os projetos sociais estão realizando no Morro de Mont Serrat: o local onde eram colocados os cadáveres ? muitos deles vítimas da violência ? hoje é um laboratório de trabalho e de formação humana de jovens.
   Educados para educar
   Alan Ribeiro Rodrigues é gestor de negócios e trabalha atualmente no projeto "Apoio ao Desenvolvimento Escolar", com a obtenção de bolsas de estudo ? cerca de 30 por semestre ? junto às universidades privadas da Grande Florianópolis, para os jovens do Morro. 
   O trabalho de Alan "é uma forma de agradecimento aos projetos do CCEA". De fato, ele conseguiu estudar e chegar à conclusão da universidade, graças às diversas iniciativas de promoção social no Mont Serrat. "Hoje eu estou dando continuidade ao trabalho social pelo qual fui ajudado. Comecei como voluntário para retribuir a ajuda que me foi concedida, e agora sou funcionário do CCEA." 
   Na linha de investimento em educação e acesso à universidade, o CCEA proporciona cerca de 120 vagas anuais num dos melhores cursos pré-vestibulares da capital catarinense. O índice de aprovação nas universidades públicas e privadas dos jovens, com os quais o Centro trabalha, tem sido de 80%.
   Outro exemplo de alguém que chegou à universidade devido aos projetos sociais do Mont Serrat, e que hoje se dedica a eles, é o advogado Mário Davi Barbosa. Ao formar-se em Direito, ele se colocou à disposição do CCEA e, atualmente, é o advogado do Centro de Atendimento a Vítimas de Crimes (CEAV), que oferece acompanhamento psicológico e jurídico a mulheres que sofrem violência doméstica e a outras vítimas de agressões.
  
   Processo em rede
   A gama de projetos do CCEA é muito ampla, mas há um denominador comum que motivou o surgimento de cada um deles. "Nós temos uma missão, que é o cuidado com a vida. Para isso, temos que realizar uma série de projetos diferentes e complementares, mas todos eles buscam a preservação da vida e a sua qualidade", é o que explica Willian Carlos Narzetti, economista, com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos, e coordenador do "Projeto Aroeira", voltado para a capacitação profissional de jovens. 
   Um aspecto importante do trabalho do CCEA é a sua articulação com outras entidades que oferecem apoio logístico ou financeiro aos projetos e também com outras instâncias da vida cultural, social e política de toda a cidade, gerando uma rede extensa e compacta. 
   Segundo pe. Vilson, só é possível mudar o quadro social da periferia se houver uma intervenção nas estruturas da cidade, as quais criam desigualdade e injustiças. Não basta, segundo ele, intervir nas consequências dessas estruturas. Com efeito, afirma, "a pobreza é decorrente de um sistema cuja raiz são as estruturas injustas, e é nelas que o CCEA procura agir". Daí a importância de trabalhar num processo em rede. 
   "O processo em rede traz também a questão das interfaces da cidade" ? diz o pe. Vilson. "Ou seja: centro e periferia, ou vice-versa, se relacionam. Precisamos pensar nas interfaces com os mundos da política, da cultura, da economia, da intelectualidade, da arte". Muitos projetos são realizados em parceria com o empresariado catarinense e com pessoas e entidades representativas das classes média e alta de Florianópolis.
   Com o seu método de trabalho em rede, o CCEA está ajudando todas as esferas da sociedade a se envolverem na busca de soluções para os problemas da cidade. "Não para substituir o Estado" ? conforme explicou Pe. Vilson ? "mas para construir uma esfera pública que ajude a estabelecer uma relação entre Estado e sociedade civil capaz de gerar espaços de consolidação de práticas e projetos que, com o tempo, tornem-se políticas do Estado."
  
   CCEA em números
   7 ONGs que atuam no resgate social e educacional
   15 projetos em 30 áreas
   450 jovens  que frequentam universidades
   80% dos envolvidos nos projetos reinseridos nas escolas e fora do giro do narcotráfico
   40 mil pessoas envolvidas direta ou indiretamente nos projetos.
  
   Os resultados desse vasto leque de iniciativas podem ser observados em diversos âmbitos, mas principalmente na educação. Nessa área, há uma rede de projetos que abrange pessoas de 6 a 24 anos. Dos 6 aos 15, elas participam do período estendido, ou seja, quando não estão na escola, têm aulas de reforço e outras atividades pedagógicas; dos 15 aos 18 anos, vão para o programa "Aprendiz", que oferece cursos técnicos profissionalizantes que correspondem à demanda do mercado; dos 18 aos 24, frequentam as escolas de Ensino Médio, o curso pré-vestibular e ingressam na universidade. Nessa última etapa, participam também de projetos nas áreas de cooperativismo, geração de trabalho e renda, profissionalização, e de inserção no mercado de trabalho.
  
   O grito de Jesus na cidade
   Três perguntas a Vilson Groh, sacerdote que iniciou o trabalho no Morro de Mont Serrat
   Sabemos que o trabalho social do senhor tem uma forte motivação espiritual. Poderia dizer algo a esse respeito?
   Na minha juventude, eu participei das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e da Teologia da Libertação, com a "sua opção preferencial pelos pobres", que sempre me acompanhou no empenho social. Mas um fato importante foi o meu encontro com a espiritualidade do Movimento dos Focolares em 1976. 
   O ponto chave ? o elemento fundante ? para mim, nessa espiritualidade, foi Jesus crucificado e abandonado, cujo grito "Meus Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" eu identifiquei no sofrimento dos mais pobres e desamparados. Ele, Jesus abandonado, tem o rosto da população negra, da criança abandonada, do jovem desempregado. Ele é real, concreto.
  
   O que o motiva e o sustenta para continuar seguindo em frente?
   O que me dá força, energia, como padre, é a ascese ? que eu encontro no grito de Jesus crucificado e abandonado ? e a mística, que é o Ressuscitado, que gera a cultura da vida.
   A beleza do nosso trabalho está em olhar esta realidade dramática como algo possível de transformação, e não como algo negativo. É uma realidade grávida de esperança, de perspectivas, de sonhos... O olhar teologal nos leva a recuperar a expressão de um Deus que gera a vida.
   Para mim, a dimensão do sacerdócio é recuperar a fé em Jesus com ações e gestos, com o radicalismo do Evangelho, que é uma resposta à América Latina. Acho que nós ainda não descobrimos a força que o Evangelho tem para o processo de transformação social.
   Quando o nosso agir vira pura ideologia, nós perdemos a força que move misticamente esse continente e que gera as oportunidades e as saídas. Mas quando temos essa força, o ministério sacerdotal torna-se "avental", torna-se serviço, e construímos uma Igreja mariana: da sensibilidade, da compaixão, da esperança, da missionariedade, da acolhida e do cuidado com a vida. 
   O cuidado com a vida deve ser um gesto amoroso, o gesto de Jesus. A Eucaristia que eu celebro todos os dias, às 6h30, é um modo de comungar com a realidade que o mundo vive, a fim de que os meus gestos tornem-se, durante o dia, gestos eucarísticos. O que nós fazemos não é obra nossa, é obra de Jesus: nós somos apenas instrumentos.
   Isso requer um tempo de mística, pois se não fosse assim, eu viraria um assistente social, um sociólogo, um antropólogo, um político. Para mim, a diferenciação do meu trabalho é teologal: eu olho essa realidade com o olhar de Deus, com o coração de Deus.
  
   O seu trabalho foi reconhecido pela sociedade com muitos prêmios...
   Sim, em 2008 recebi o "Prêmio Betinho ? Atitude Cidadã". Mais recentemente o "Amigo da Comunidade", concedido pela Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS), entre outros.
Mas quando eu fui ordenado padre, escolhi como lema um trecho do evangelho de Mateus (Mt 25,31-40), no qual Jesus diz: "Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber...". E conclui assim: "Cada vez que fizestes isso a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes". O meu maior prêmio é fazer isso para Jesus.

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