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terça-feira, 20 de outubro de 2009
ANCHIETA APOSTOLO DO BRASIL
Neste mês de outubro, consagrado às missões, destacamos um dos missionários mais importantes na História do Brasil, logo no seu início de colonização.
A devoção ao padre José de Anchieta, um dos fundadores da cidade de São Paulo, e cuja festa é celebrada no dia 9 de junho, vem aumentando desde sua beatificação. A CANAN < Associação Pró-Canonização de Anchieta < recebe mensalmente centenas de cartas com relatos de graças alcançadas.
Entre a Praça da Sé, Ladeira Porto Geral, ruas e vielas do centro antigo de São Paulo, encontra-se o Pátio do Colégio (foto). Um conjunto arquitetônico, histórico e religioso em estilo colonial, que começou a ser erguido com a construção de uma cabana de pau-a-pique, em 1554, e onde no dia 25 de janeiro do mesmo ano foi celebrada a primeira missa de fundação daquela que viria a ser a maior cidade brasileira.
Hoje, no local, é possível fazer uma verdadeira incursão à vida e obra de um de seus principais fundadores, o bem- aventurado padre José de Anchieta, beatificado em 1980 pelo papa João Paulo II. No museu, que leva o nome do beato, o visitante pode conhecer obras de grande valor, entre elas, a pia batismal usada pelo missionário para batizar os nativos. Na igreja, contígua ao museu, além da imagem em bronze de Anchieta, estão em exposição o seu manto, que depois do restauro inspirou a Oração do Manto contra assaltos e seqüestros; um fragmento de seu fêmur; e uma réplica da imagem de Nossa Senhora da Candelária, padroeira das Ilhas Canárias.
José de Anchieta nasceu aos 19 de março de 1534, em La Laguna, Tenerife, uma das mais belas ilhas do arquipélago das Canárias, pertencente à Espanha e localizado próximo a Marrocos, África. Aos 14 anos, foi estudar em Coimbra, Portugal, e em 1551 entrou para a Companhia de Jesus. Em busca de um clima favorável para tratar de sua saúde, chegou a Salvador, Bahia, no dia 13 de julho de 1553. Depois de sua cura, embora tenha ficado corcunda, recebeu a convocação de rumar para a Capitania de São Vicente e, depois, subir ao Planalto de Piratininga, hoje cidade de São Paulo.
O Colégio de São Paulo, que deu origem à metrópole, só foi fundado, porque o padre Manuel da Nóbrega, superior dos jesuítas na Colônia, já tinha em mente um ambicioso projeto de evangelização, e pôde contar com a capacidade do padre Anchieta. Além de falar Latim, Espanhol e Português, havia-se formado em humanidades e filosofia na Universidade de Coimbra. "Ele foi o pioneiro da catequese, uma pessoa que demonstrou um grande amor pelos menos favorecidos. Há uns momentos em que ele diz: Oeu vim ao Brasil para evangelizar os indígenas¹, não que tivesse uma atitude de exclusão para com os brancos, mas estava consciente de que os privilegiados de sua missão eram os nativos", revela o padre César Augusto dos Santos, vice-postulador da Causa de Anchieta e responsável pela CANAN.
Missão e serviço pelo país
O Apóstolo do Brasil é considerado o primeiro mestre e incentivador da cultura brasileira, ao estudar a língua e os costumes dos nativos, ensinando-os por meio do teatro, da dança, da música e poesia. Foi enfermeiro, historiador, poeta, professor e gramático. Compôs um vocabulário e escreveu a primeira gramática em Tupi: A arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil.
Durante os 44 anos em que viveu no País < ele morreu no dia 9 de junho de 1597, aos 63 anos, em Reritiba, hoje cidade de Anchieta, Estado do Espírito Santo <, o padre Anchieta viajava pelo litoral brasileiro a pé ou em canoas. Só mais tarde, pôde utilizar-se da nau Santa Úrsula, que ele mesmo pilotava nas visitas a aldeias e no exercício das atividades de reitor, visitador e provincial das casas e colégios dos jesuítas. Esteve na Bahia mais de uma vez, em uma delas, aos trinta anos de idade, para ser ordenado padre.
É notável sua influência nos acontecimentos históricos que marcaram o Brasil na metade do século XVI. Participou em 1565, com Estácio de Sá < sobrinho do governador-geral Mem de Sá < da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e ajudou na expulsão definitiva dos franceses, que pretendiam fazer da Baía de Guanabara um reduto francês.
Empenhou-se na solução de conflitos entre portugueses e indígenas. O mais conhecido é o caso em que ficou refém dos índios Tamoios por vários meses em Iperoig, hoje Ubatuba, no litoral paulista. Enquanto esteve preso, correndo vários riscos, escreveu nas areias da praia e decorou o poema: De Beata Virgine Matre Dei Maria de 5.732 versos, em que pede proteção a Nossa Senhora.
Na expectativa da canonização
Por ocasião dos 450 anos da cidade de São Paulo, foram organizadas visitas da imagem e relíquia do beato às paróquias da Capital e litoral. "O objetivo foi incentivar a devoção e houve bons resultados com o aumento dos pedidos de oração e relatos de graças. Anchieta é de fato muito forte diante de Deus, um taumaturgo, mas sua canonização ainda depende da comprovação de um milagre", informa o padre César.
Enquanto isso, outras iniciativas para divulgação de sua causa acontecem com imagens do beato para veneração na igreja da Consolação, Catedral da Sé e no litoral. No Pátio do Colégio e no Colégio São Luís, na Avenida Paulista, são celebradas missas no dia 9 de cada mês com a bênção das rosas, devoção instituída pelos jesuítas na solenidade da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, na Vila de Piratininga.
Há ainda a construção do Santuário Ecológico José de Anchieta, na Praia Grande. O projeto prevê também um espaço cultural, assim como um roteiro turístico-histórico-religioso Caminhos de Anchieta que refaz, desde a Praça da Sé e Pátio do Colégio e, em pelo menos, nove cidades litorâneas, a trajetória do Apóstolo do Brasil. Tudo isso leva em conta também a sensibilidade de Anchieta pela natureza. Pelos relatos em cartas e andanças por matas, rios e trilhas, ele ajudou a abrir estradas que deram na Via Anchieta e, mais recentemente, inspiraram o Dia Nacional da Mata Atlântica.
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