
O racionalismo exalta a razão a ponto de recusar toda realidade independente da consciência. Todos os ateus crêem que sua descrença é racional. Entretanto, há uma distinção muito nítida entre os ateísmos do tipo marxista, existencialista ou nietzschiano e o ateísmo racionalista propriamente dito. Os marxistas se dizem ateus, não tanto em nome da verdade, como em salvaguarda de certos valores que, segundo eles, estariam em xeque, dado que a religião tira o homem do real. O racionalista, pelo contrário, se proclama ateu, porque ele crê ter chegado à certeza de que religião não passa de uma falsidade. É a forma mais típica de descrença. Eclosão peculiar de um sentimento vivo do antagonismo definitivo entre a fé e a ciência. Isto se iniciou no século XVIII e se prolongou além do século XIX. Nos dias atuais, os estudos filosóficos e científicos, escoimados de certos preconceitos, levam diretamente à verdade. Além disto, como bem sintetiza Ignace Lepp, “ao longo dos últimos decênios a ciência conheceu inúmeros e dolorosos reveses. Ela não foi capaz de manter suas promessas „o pelo menos as de seus protagonistas „o de dar aos homens as razões suficientes de viver e de lhes assegurar sua felicidade total. Basta que se pense nas angústias de um Einstein e de um Oppenheimer diante das ameaças que constitui para a humanidade a descoberta feita, por eles mesmos e seus discípulos, da energia atômica”. Há, entretanto, ainda ateus racionalistas. Eles exercem influxo que não se pode subestimar entre as grandes correntes filosóficas deste tempo. Não são, porém, tão dogmáticos quanto os do século XIX. O caráter deste ateísmo racionalista é antes um agnosticismo. Contenta-se em falar que não há demonstração da existência de Deus, sem asseverar a não existência de Deus e de toda ordem transcendental. Não há mais a dicotomia entre o oratório e o laboratório. Aliás, Pio XII atestou: “A verdadeira Ciência, mais ela progride, de cada porta que abre a Ciência”. Não se pode também ignorar o existencialismo ateu que coloca a lume o porvir tétrico do homem, constrangido a edificar na perplexidade um futuro incerto. A transcendência objetiva ultramundana, a mais válida, porque nos leva a Deus, não é admitida senão por poucos existencialistas. Sartre a contesta explicitamente, dizendo que cada homem é uma existência “jetée-lá” neste mundo, como estreme contingência, sem causa, nem razão de ser. Isto é uma absurdidade, mas Deus também é uma absurdidez, isto é, inexplicável. O ateísmo satriano continua a causar funestas conseqüências nos seus leitores.* Professor no Seminário de Mariana - MG
Última Alteração: 10:51:00
Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho Local:Mariana (MG)
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